segunda-feira, 30 de maio de 2011

Direito



Uma vez eu falava para uma classe sobre separação e divórcio.
Uma senhora, provavelmente afeita a alguma religião (não perguntei), disse algo mais ou menos assim:
- Se disse sim naquele dia, é porque queria. Depois não pode voltar atrás!
Eu só respondi a ela:
- Mas minha senhora, o sim dito num determinado dia e local, e por algum motivo muito especial, às vezes a vida cuida de transformá-lo em veemente não.
E ela, inflexível:
- Se disse sim é sim, e não se discute mais!
Eu pedi desculpas e disse a ela que não queria (nem podia) discutir dogmas; estava lá apenas para falar de nossas leis. Só que não resisti e perguntei:
- A senhora é casada?
E ela, risonha:
- Graças a Deus, não!
Oooopaaaaaa!

sábado, 28 de maio de 2011

Vergonha de ser como sou

É, sobrinha... eis-me aqui, para novamente desabafar.
Você tem o peso da idade em seu favor. Os largos anos de experiência espiritual que eu não tenho. Sou mais velho nesta vida, você é mais velha de outras vidas.
Eu sou um perfeito idiota. Sou burro, meu quociente emocional é baixíssimo: quase um in-quociente emocional. Eu reincido nos mesmos erros desde sempre, e há algum tempo, mas bem pouco, venho tentando mudar isso que sou. Só que não é fácil. O justo erra 7 vezes ao dia, eu erro 700 e, como o iníquo (que não julgo ser), tropeço nos meus males, enredo-me, fico lá emaranhado e... nada de sair da minha pegajosa teia.
Às vezes a gente faz coisas que sabe que não são certas, mas vai lá e faz. Há quem faça e ache certo, e para essas pessoas, fazer tais coisas não traz sofrimento; porém, para quem sabe que não são certas, o tão-só fato de fazê-las já gera sofrimento.
Eu sei que posso errar. A situação para que eu erre aparece; eu prometera, antes, que não erraria mais. Só que, com a situação à minha frente, eis que erro de novo. A ocasião não faz, mas revela o ladrão.
Estou roubando a minha saúde, estou roubando a saúde alheia. Estou roubando a minha tranquilidade e a tranquilidade alheia. Estou roubando ao tempo valiosos minutos e horas impagáveis. Estou ocupando espaço sem função social.
Sinto-me um pária, e o problema não é sentir-me assim. O problema é que eu deveria estar em redenção, mas eu me vejo irredempto (não resisti ao castiço).
Até que ponto um Homem pode conviver com o que é? Lembra Paulo de Tarso, quando caiu do cavalo, na estrada para Damasco, e ficou deslumbrado (fenómeno óptico - nossa, Portugal me tomou a alma, hoje) a ponto de não mais enxergar por alguns dias?
Malcomparando, eu caí do cavalo com a minha pequenez (falta de autoconhecimento), e enxergar o certo é a luz forte que me deslumbra e também me cega. É como se fosse algo além do meu alcance, e eu um Tântalo estendendo os braços para os capitosos frutos duma árvore-de-salvação que se curva para o outro lado, a fim de eu não lhe 'subtrair' o que não posso, por alguma razão, ter comigo.
E assim vou vivendo e convivendo com esse serzinho diminuto, limítrofe, que sou. Cada novo passo é um novo medo; cada nova ensancha é uma nova queda. Não quero (nem posso - truísmo dizê-lo, mas tenho que ousar) ser perfeito, mas queria muito, muito mesmo, ser um pouco menos imperfeito.
Introjetar alguma coisa boa em mim parece algo do tipo querer encher o tonel das Danaides.
Ando cansado, bem cansado.
Precisava fugir de mim. Precisava do impossível, e eis aí a única saída que vejo para que minha vida se torne factível.
Sabe como é?
p.s.: SERÁ QUE A DAMA DE CINZAS JÁ SE SENTIU ASSIM?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O que as religiões me incutiram?

Só o medo da imortalidade. Não fosse isso, eu já estaria lá para conferir.
Covarde até para isso.

Parodiando Ahmanda Marques

Porra nenhuma vale a pena, seja a alma grande ou pequena.
Hoje, quem vier me falar que existe felicidade leva um murro na cara.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eu sempre fui meio ‘desligada’ das pessoas. Mas a cada ano que passa tenho reparado nesta crescente necessidade de afastamento e alienação social. Não, não me estou tornando ‘antissocial’ (novo acordo?), mas apenas fazendo a distinção daquilo que é realmente (re)aproveitável, daquilo que é entulho. E a verdade é que, feita a reciclagem e espremidas as laranjas, o sumo que resta não mata 1/3 da sede que sinto por dentro.

sábado, 21 de maio de 2011

Gay ou não gay, eis a questão

Sobrinha, sei que você vai me atenazar por isto, mas vamos lá:
Se todos somos iguais, pressuponho que todos tenhamos os mesmos direitos, desde que não subtraiamos os do próximo, desde que não lhe invadamos a privacidade, etc.
Pois bem, aceitas tais premissas, o direito de 'ser eu mesmo' é apanágio do ser-humano. É preciso que eu seja o que sou, entendida tal prerrogativa como absoluta.
O 'conhece-te a ti mesmo' implica, necessariamente, haver o 'eu mesmo'. E Píndaro, que nos disse o 'torna-te o que és' parte do pressuposto de que somos, sim, algo/alguém.
O direito de amar é-nos tão inerente, que eu diria ser imanente n'alma.
E eu não sou homem, e você não é mulher, mas nós todos somos espíritos e, como tal, pensamos, sentimos, e hemos de ter toda a liberdade de expressão desse 'nós mesmos'.
Aí fica a minha questão: por que as pessoas se preocupam tanto com a sexualidade das outras?
Se a sexualidade é emanação da personalidade, negar-se a alguém a sua sexualidade é negar-se-lhe a própria individualidade.
Eu não sou heterossexual ou homossexual senão nos dicionários, no catequismo desenxavido das religiões, nos manuais dos psicanalistas (para bom ou mau uso) e nas classificações tirânicas que herdamos de nossos ancestrais. Eu sou eu. 'Ego sum qui sum', 'I am what I am', e não é possível que a lei não me garanta isso.
Se eu sou minoria? Hm... Aristóteles, em um de seus brilhantes ensaios, disse que é da isonomia tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, justamente para que se possa igualá-los.
E a 'sociedade' vem, e elege o que é certo e o que é errado, mas com base em pré-conceitos mal-estabelecidos, porque não pensados, ou então fincados em raízes religiosas tirânicas, ou então em preceitos que se diziam religiosos mas não eram nada além de leis locais com sanção supostamente divina. Imagine o pecado de comer carne de porco porque há vermes que, se a carne não estiver devidamente cozida, podem matar o Homem. Lembra das tênias? 'solium' e 'saginata'?
Há também o casamento sorodato, que virou 'lei divina' porque era necessário manter a família, o patrimônio, a ideia 'feudal'. E há, conforme o local, dependendo da necessidade social, a proibição ou o estímulo à poligamia.
O medo de doenças venéreas levou a várias proibições de prosápia religiosa, e a punição seria divina. A igreja católica, por exemplo: ela não quer que nós simplesmente não usemos camisinha. Jamais: ela quer que não forniquemos.
Imagine tomar essas normas todas ao pé da letra, e imagine o que temos hoje, em termos de 'regras comuns' sobre o que se pode e o que não se pode fazer.
Por que a sociedade aceita melhor 'o galinha' do que 'a piriguete'? E por que é melhor ser 'um pegador' do que ser... (detesto a expressão, pois é um rótulo) gay?
Nelson Rodrigues diz que se os Homens conhecessem, uns, a vida sexual dos outros, não haveria 4 amigos na face da Terra. Acho que ele parodiou Pascal, que havia dito, em Pensées, que se os Homens soubessem o que falam, uns dos outros, não haveria os tais 4 amigos.
Termino com uma questão: será que precisa tanta balbúrdia na mídia em virtude das permissões e proibições ao 'casamento gay', ou a mídia simplesmente aproveita o fato, como aproveita sequestros, assassinatos, escândalos, para ganhar dinheiro?
Francamente, pouco me interessa se aqui do meu lado, no outro apê do andar, há gays ou heteros. Só quero a garantia de que ninguém vai invadir ou me privar dos meus direitos como ser-humano.
PRONTO, EU DISSE! AGORA VEM E ME CRUCIFICA!

domingo, 15 de maio de 2011

Toda vez, Cô, toda vez que vou à casa de meus pais, eu me sinto sugado!

É incrível, meu! Eu chego lá, os dois "vêm para cima" de mim e ficam lá me rodeando. Querem saber o que ando a fazer da vida, quanto estou pesando, quanto tenho trabalhado, se estou comendo corretamente, enfim, aquelas coisas bestas que não vão fazer a menor diferença.
Fico indignado, pois poderíamos conversar; contudo, eu acabo respondendo a um inquérito policial absolutamente rigoroso e, tanto quanto duro, improfícuo; assim, enervo-me e acabo indo embora sem que tenhamos dialogado.
Assim, uma visita aos pais, que deveria ser algo agradável, acaba sendo excruciante.
Agora me responda você, SFS: QUANTOS ANOS EU TENHO??
Se não lembrar, olhe no meu perfil... (hehehe)

sábado, 14 de maio de 2011

Homens...

Se lhe dou importância, ele age como se não se importasse.
Se finjo que não dou importância nenhuma, ele responde com indignação e visivelmente perturbado.

É, depois são as mulheres que são complicadas....


Ai são(?)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Picos e vales

Entre o ser e o não ser vou levando a vida. E essa incrível ciclotimia é diária, incomoda, atrapalha o entendimento, o equilíbrio, tudo, enfim.
Se me perguntam o que sou, digo que não sei. Mas sei que sou e não sou.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Até ultrapassá-los, ninguém conhece seus próprios limites. Eu já ultrapassei alguns. Morais, a maioria deles. Com consciência de que o estava a fazer. Nada imaginam, os que estão de fora. Elogiam-me com uma venda nos olhos. Confidenciam seus mais íntimos pecados porque, sei lá eu a razão, transmito uma imagem de confiança. Enquanto que, ao meu ver, tudo em mim é questionável e, por vezes, até mesmo deplorável, para eles não há nada a apontar. É curioso isso. Essa coisa de « carácter» Como é que julgam conhecê-lo, se eu não soube o que isso era até limpar os meus pés por cima dele?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Justiça com as próprias mãos

Cô, aqui no Brasil é crime. Chama-se 'exercício arbitrário das próprias razões'. Não duvido nada de que aí também seja, pois o Brasil copiou grande parte de suas leis de países mais desenvolvidos. Mas não é disto que quero falar.
Olha, Cô, olha: você já pensou se um dia (um dia de fúria) a gente pudesse pegar uma arma e sair atirando, não só para matar. Não. Para debelar mesmo, e muito. Não estou falando em mortes isoladas, mas em genocídio. Se a gente pudesse pegar uma R15, ou algo melhor ainda, e ir com ela atrás das pessoas que entendemos sejam culpadas, e simplesmente exterminá-las? E se depois pudéssemos pegar um carro maciço, pesadíssimo, inabalável, e pudéssemos, com ele, ir amassando todos os carros que estivessem descumprindo as leis de trânsito, impedindo o nosso caminho, ou então simplesmente nos incomodando?
Era só rezar para não nos pegarem antes (qualquer outra pessoa em fúria), e talvez o resultado nos levasse ao mais paroxístico prazer que um ser-humano já sentiu, ou então ao suicídio, pela dor na consciência.
Lembra do bombardeio em Bagdá? Das torres-gêmeas? de Saddam Hussein? Hitler? Mussolini, etc.
Parece que agora pegaram o Bin Laden (como se pegar um cara adiantasse alguma coisa).
Já pensou se se desse ao Homem o direito efetivo, agente, inalienável, de ser, mas completamente, sem restrição alguma, o lobo do homem?
Talvez, mas só talvez o mundo se concertasse e se consertasse. Fora isso, vai me dizer que está bom, muito bom, do jeito que está?

Mais dúvidas

Por que é que nós vivemos como se fôssemos eternos?
Pior: como se fôssemos eternos aqui. Vá lá que sejamos eternos em outro canto, em outra dimensão. Não sei. Nem faço questão, hoje em dia, de saber, pois quando fiz nada mudou - continuei em dúvida.
O problema é que vivemos como se fôssemos durar para sempre, neste corpão material pesado, neste planeta azul borrado de cinza(s), de sangue, de dor...
Why?

Não entendo...

Pois é, sobrinha, pois é...
Um cara e uma moça que eu apresentei há quase um ano terminaram.
Para o mundo, queriam mostrar que tudo estivesse bem, muito bem; entretanto, a coisa estava a degringolar.
Um belo dia, ao que tudo indica, ela arrumou um sujeito, e foi um susto para ele (o cara, não o sujeito).
Hoje, o cara acompanha pelo Facebook os 'diálogos' (quiçá de Adão e Eva) entre ela e o sujeito que ela arrumou.
Estou boquiaberto. Parece que o cara tem lá suas culpas, mas, que eu saiba, ele não sabe (i) que as tem, (ii) quais são e (iii) o tanto que aquilo incomodava a moça.
Minhas perguntas: por que é que duas pessoas que estão num relacionamento sério não falam, uma para a outra, o que está se passando em seu mundão interior? Cada um tem um mundo só seu? Não era para serem um 'nós', em vez de um 'nó'?