terça-feira, 12 de julho de 2011

Sonho inútil.

Então, aí eu sonhei que tinha um bebê nos braços, ainda com a placenta, e que alguém me dizia:

- Você deu a luz ao filho do Diabo!

Eu ficava olhando, atónita, para a figura que se encontrava ao meu lado esquerdo, enquanto ela continuava, tranquilamente:

- Ele é o filho do Diabo, você deu a luz ao filho do Diabo.

Daí eu lembro de ter começado a bater na criança, querendo matá-la, ou então querendo fazer com que ele não fosse o filho do diabo.

Sei lá, só sei que dei umas porradas no bebê. Mas ele não tinha cornos nem estava pintado de vermelho. Era mesmo uma criança, branquinha, olhando para mim.

Não me lembro do resto. Acordei com o coração acelerando e fui fazer xixi.

Eram seis da manhã.

Sentei na cama e pensei:

« Puta que pariu... preciso de sal grosso.»

Contei para a minha mãe, e ela disse para eu rezar.


Ri.

Preferi ir para a janela comer Nutella com bolachas maria. 

Dar o seu máximo a quem se contenta com o suficiente é pior do que dar o seu melhor a quem não se contenta com o seu máximo. Porque o excesso é lixo, e para o «resto» não há valor.



domingo, 3 de julho de 2011

Edmond amava uma mulher que - mesmo sem saber - não se amava.
Aos poucos, entregava-se a ela, em atos legítimos e verdadeiros; e quanto mais se entregava, mais causava a ela estranhamento: "se eu não me amo, como ele pode me amar?"
A sina dos que não gostam de si mesmos é não acreditarem que alguém possa deles gostar e, pior ainda, gostar do que eles não gostam, em si.
E a sina dos que gostam dos que não gostam de si mesmos é a mesma, sempre: serão descartados.
Quem SE descarta há de também descartar tudo o que interfira com seu verdadeiro EU.
O ser que não gosta de seu ser-real (embora não seja possível conhecer tal ser-real por inteiro) precisa (subconsciente) de alguém que de alguma forma ponha em segundo plano aquele ser-real.
Se não gosto de meu ser-real, ele é irreal; quem gosta do irreal não existe.
Edmond percebeu isso desde logo, e assim "profetizou" (inferiu, logicamente) a sua exclusão.
Muitas vezes o que se pensa ser mito é tão real que parece mítico. É como se o real e o mitológico fossem o encontro dos "extremos" do planeta - redondo -, que só é ele mesmo, no que pensamos sejam as suas extremidades. E o que parece muito distante pode estar (e está, de fato) ao lado. Ou no mesmo lugar.
A realidade e o mito serem confundidos, a todo tempo, não é culpa nossa; apenas está além de nosso alcance.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

O 'não', dito na hora certa...

Quando terminei meu último relacionamento, ele já estava acabado fazia muito tempo.
Eu a chamava para falar isso, mas ouvia coisas do tipo:
- Não venha me machucar com essas coisas!
- Vá pensar melhor antes de dizer isso!
E o tempo foi passando. Não havia diálogo sobre isso, mas apenas atritos. Não podia me abrir. Não podia dizer que não dava mais.
Hoje penso: deveria ter 'machucado', deveria ter dito, e pronto.
Ela teria sentido uma dor (talvez forte), na hora, mas isso depois teria sido assimilado, a dor teria passado, o tempo a amenizaria, enfim. Mas não. Eu fui pedindo tempo, tempo, tempo...
Com medo de magoar, acabei magoando mais.
Às vezes achamos que vamos poupar uma pessoa, escondendo-lhe informações. Hoje vejo que não. É melhor informar logo, para a pessoa também poder se defender.
Àquela época, quando eu vi já gostava de outro alguém. E não havia falado para minha 'ex' que com ela não era mais possível.
E há coisas que você tem que dizer na hora certa. Passada aquela hora, muito mais saudável não dizer mais nada.
Não penso nunca em voltar no tempo; contudo, se pudesse voltar no tempo olharia hoje para o rosto dela e diria:
- Desculpe, só gosto de você como irmã, hoje em dia. Mais nada.
Ia haver choro, ia haver vela, ia haver cinzas, mas eu estaria com a consciência tranquila para recomeçar.
Já foi. Há páginas do passado que são escritas com tinta indelével; contudo, se isso tenha que acontecer de novo, no futuro, nunca mais será assim. Será verdadeiro. Será um 'nêga, não dá mais de verdade' (O MOMENTO DO SURTO NÃO VAAALEEEE, APAGA!), dito depois de muito diálogo, de muita reflexão em conjunto, de muita elocubração e discussões. Mas é melhor do que fazer como eu fiz.
Maldito não, que a gente NÃO diz quando deve, e DIZ, porém quando NÃO DEVE.
Merda, merda, merda, merda, merda!

sábado, 4 de junho de 2011


Antes, mas bem antes mesmo, eu era capaz de dizer que quem machucava mais era aquela pessoa que não se importava, mas fingia que sim. Porém, de uns meses para cá, eu cheguei à inevitável conclusão de que estava enganada. Quem se importa, e finge que não, consegue provocar uma dor bem mais profunda do que a primeira. Pelo menos em mim.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

When I look into my eyes, I can see something that's not my soul.

pois é...

ah bicho, eu tou tão, mas tão ferrada!
Por isso, tenho lido, mas não tenho dito nada...

um beijo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Direito



Uma vez eu falava para uma classe sobre separação e divórcio.
Uma senhora, provavelmente afeita a alguma religião (não perguntei), disse algo mais ou menos assim:
- Se disse sim naquele dia, é porque queria. Depois não pode voltar atrás!
Eu só respondi a ela:
- Mas minha senhora, o sim dito num determinado dia e local, e por algum motivo muito especial, às vezes a vida cuida de transformá-lo em veemente não.
E ela, inflexível:
- Se disse sim é sim, e não se discute mais!
Eu pedi desculpas e disse a ela que não queria (nem podia) discutir dogmas; estava lá apenas para falar de nossas leis. Só que não resisti e perguntei:
- A senhora é casada?
E ela, risonha:
- Graças a Deus, não!
Oooopaaaaaa!

sábado, 28 de maio de 2011

Vergonha de ser como sou

É, sobrinha... eis-me aqui, para novamente desabafar.
Você tem o peso da idade em seu favor. Os largos anos de experiência espiritual que eu não tenho. Sou mais velho nesta vida, você é mais velha de outras vidas.
Eu sou um perfeito idiota. Sou burro, meu quociente emocional é baixíssimo: quase um in-quociente emocional. Eu reincido nos mesmos erros desde sempre, e há algum tempo, mas bem pouco, venho tentando mudar isso que sou. Só que não é fácil. O justo erra 7 vezes ao dia, eu erro 700 e, como o iníquo (que não julgo ser), tropeço nos meus males, enredo-me, fico lá emaranhado e... nada de sair da minha pegajosa teia.
Às vezes a gente faz coisas que sabe que não são certas, mas vai lá e faz. Há quem faça e ache certo, e para essas pessoas, fazer tais coisas não traz sofrimento; porém, para quem sabe que não são certas, o tão-só fato de fazê-las já gera sofrimento.
Eu sei que posso errar. A situação para que eu erre aparece; eu prometera, antes, que não erraria mais. Só que, com a situação à minha frente, eis que erro de novo. A ocasião não faz, mas revela o ladrão.
Estou roubando a minha saúde, estou roubando a saúde alheia. Estou roubando a minha tranquilidade e a tranquilidade alheia. Estou roubando ao tempo valiosos minutos e horas impagáveis. Estou ocupando espaço sem função social.
Sinto-me um pária, e o problema não é sentir-me assim. O problema é que eu deveria estar em redenção, mas eu me vejo irredempto (não resisti ao castiço).
Até que ponto um Homem pode conviver com o que é? Lembra Paulo de Tarso, quando caiu do cavalo, na estrada para Damasco, e ficou deslumbrado (fenómeno óptico - nossa, Portugal me tomou a alma, hoje) a ponto de não mais enxergar por alguns dias?
Malcomparando, eu caí do cavalo com a minha pequenez (falta de autoconhecimento), e enxergar o certo é a luz forte que me deslumbra e também me cega. É como se fosse algo além do meu alcance, e eu um Tântalo estendendo os braços para os capitosos frutos duma árvore-de-salvação que se curva para o outro lado, a fim de eu não lhe 'subtrair' o que não posso, por alguma razão, ter comigo.
E assim vou vivendo e convivendo com esse serzinho diminuto, limítrofe, que sou. Cada novo passo é um novo medo; cada nova ensancha é uma nova queda. Não quero (nem posso - truísmo dizê-lo, mas tenho que ousar) ser perfeito, mas queria muito, muito mesmo, ser um pouco menos imperfeito.
Introjetar alguma coisa boa em mim parece algo do tipo querer encher o tonel das Danaides.
Ando cansado, bem cansado.
Precisava fugir de mim. Precisava do impossível, e eis aí a única saída que vejo para que minha vida se torne factível.
Sabe como é?
p.s.: SERÁ QUE A DAMA DE CINZAS JÁ SE SENTIU ASSIM?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O que as religiões me incutiram?

Só o medo da imortalidade. Não fosse isso, eu já estaria lá para conferir.
Covarde até para isso.

Parodiando Ahmanda Marques

Porra nenhuma vale a pena, seja a alma grande ou pequena.
Hoje, quem vier me falar que existe felicidade leva um murro na cara.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eu sempre fui meio ‘desligada’ das pessoas. Mas a cada ano que passa tenho reparado nesta crescente necessidade de afastamento e alienação social. Não, não me estou tornando ‘antissocial’ (novo acordo?), mas apenas fazendo a distinção daquilo que é realmente (re)aproveitável, daquilo que é entulho. E a verdade é que, feita a reciclagem e espremidas as laranjas, o sumo que resta não mata 1/3 da sede que sinto por dentro.

sábado, 21 de maio de 2011

Gay ou não gay, eis a questão

Sobrinha, sei que você vai me atenazar por isto, mas vamos lá:
Se todos somos iguais, pressuponho que todos tenhamos os mesmos direitos, desde que não subtraiamos os do próximo, desde que não lhe invadamos a privacidade, etc.
Pois bem, aceitas tais premissas, o direito de 'ser eu mesmo' é apanágio do ser-humano. É preciso que eu seja o que sou, entendida tal prerrogativa como absoluta.
O 'conhece-te a ti mesmo' implica, necessariamente, haver o 'eu mesmo'. E Píndaro, que nos disse o 'torna-te o que és' parte do pressuposto de que somos, sim, algo/alguém.
O direito de amar é-nos tão inerente, que eu diria ser imanente n'alma.
E eu não sou homem, e você não é mulher, mas nós todos somos espíritos e, como tal, pensamos, sentimos, e hemos de ter toda a liberdade de expressão desse 'nós mesmos'.
Aí fica a minha questão: por que as pessoas se preocupam tanto com a sexualidade das outras?
Se a sexualidade é emanação da personalidade, negar-se a alguém a sua sexualidade é negar-se-lhe a própria individualidade.
Eu não sou heterossexual ou homossexual senão nos dicionários, no catequismo desenxavido das religiões, nos manuais dos psicanalistas (para bom ou mau uso) e nas classificações tirânicas que herdamos de nossos ancestrais. Eu sou eu. 'Ego sum qui sum', 'I am what I am', e não é possível que a lei não me garanta isso.
Se eu sou minoria? Hm... Aristóteles, em um de seus brilhantes ensaios, disse que é da isonomia tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, justamente para que se possa igualá-los.
E a 'sociedade' vem, e elege o que é certo e o que é errado, mas com base em pré-conceitos mal-estabelecidos, porque não pensados, ou então fincados em raízes religiosas tirânicas, ou então em preceitos que se diziam religiosos mas não eram nada além de leis locais com sanção supostamente divina. Imagine o pecado de comer carne de porco porque há vermes que, se a carne não estiver devidamente cozida, podem matar o Homem. Lembra das tênias? 'solium' e 'saginata'?
Há também o casamento sorodato, que virou 'lei divina' porque era necessário manter a família, o patrimônio, a ideia 'feudal'. E há, conforme o local, dependendo da necessidade social, a proibição ou o estímulo à poligamia.
O medo de doenças venéreas levou a várias proibições de prosápia religiosa, e a punição seria divina. A igreja católica, por exemplo: ela não quer que nós simplesmente não usemos camisinha. Jamais: ela quer que não forniquemos.
Imagine tomar essas normas todas ao pé da letra, e imagine o que temos hoje, em termos de 'regras comuns' sobre o que se pode e o que não se pode fazer.
Por que a sociedade aceita melhor 'o galinha' do que 'a piriguete'? E por que é melhor ser 'um pegador' do que ser... (detesto a expressão, pois é um rótulo) gay?
Nelson Rodrigues diz que se os Homens conhecessem, uns, a vida sexual dos outros, não haveria 4 amigos na face da Terra. Acho que ele parodiou Pascal, que havia dito, em Pensées, que se os Homens soubessem o que falam, uns dos outros, não haveria os tais 4 amigos.
Termino com uma questão: será que precisa tanta balbúrdia na mídia em virtude das permissões e proibições ao 'casamento gay', ou a mídia simplesmente aproveita o fato, como aproveita sequestros, assassinatos, escândalos, para ganhar dinheiro?
Francamente, pouco me interessa se aqui do meu lado, no outro apê do andar, há gays ou heteros. Só quero a garantia de que ninguém vai invadir ou me privar dos meus direitos como ser-humano.
PRONTO, EU DISSE! AGORA VEM E ME CRUCIFICA!

domingo, 15 de maio de 2011

Toda vez, Cô, toda vez que vou à casa de meus pais, eu me sinto sugado!

É incrível, meu! Eu chego lá, os dois "vêm para cima" de mim e ficam lá me rodeando. Querem saber o que ando a fazer da vida, quanto estou pesando, quanto tenho trabalhado, se estou comendo corretamente, enfim, aquelas coisas bestas que não vão fazer a menor diferença.
Fico indignado, pois poderíamos conversar; contudo, eu acabo respondendo a um inquérito policial absolutamente rigoroso e, tanto quanto duro, improfícuo; assim, enervo-me e acabo indo embora sem que tenhamos dialogado.
Assim, uma visita aos pais, que deveria ser algo agradável, acaba sendo excruciante.
Agora me responda você, SFS: QUANTOS ANOS EU TENHO??
Se não lembrar, olhe no meu perfil... (hehehe)

sábado, 14 de maio de 2011

Homens...

Se lhe dou importância, ele age como se não se importasse.
Se finjo que não dou importância nenhuma, ele responde com indignação e visivelmente perturbado.

É, depois são as mulheres que são complicadas....


Ai são(?)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Picos e vales

Entre o ser e o não ser vou levando a vida. E essa incrível ciclotimia é diária, incomoda, atrapalha o entendimento, o equilíbrio, tudo, enfim.
Se me perguntam o que sou, digo que não sei. Mas sei que sou e não sou.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Até ultrapassá-los, ninguém conhece seus próprios limites. Eu já ultrapassei alguns. Morais, a maioria deles. Com consciência de que o estava a fazer. Nada imaginam, os que estão de fora. Elogiam-me com uma venda nos olhos. Confidenciam seus mais íntimos pecados porque, sei lá eu a razão, transmito uma imagem de confiança. Enquanto que, ao meu ver, tudo em mim é questionável e, por vezes, até mesmo deplorável, para eles não há nada a apontar. É curioso isso. Essa coisa de « carácter» Como é que julgam conhecê-lo, se eu não soube o que isso era até limpar os meus pés por cima dele?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Justiça com as próprias mãos

Cô, aqui no Brasil é crime. Chama-se 'exercício arbitrário das próprias razões'. Não duvido nada de que aí também seja, pois o Brasil copiou grande parte de suas leis de países mais desenvolvidos. Mas não é disto que quero falar.
Olha, Cô, olha: você já pensou se um dia (um dia de fúria) a gente pudesse pegar uma arma e sair atirando, não só para matar. Não. Para debelar mesmo, e muito. Não estou falando em mortes isoladas, mas em genocídio. Se a gente pudesse pegar uma R15, ou algo melhor ainda, e ir com ela atrás das pessoas que entendemos sejam culpadas, e simplesmente exterminá-las? E se depois pudéssemos pegar um carro maciço, pesadíssimo, inabalável, e pudéssemos, com ele, ir amassando todos os carros que estivessem descumprindo as leis de trânsito, impedindo o nosso caminho, ou então simplesmente nos incomodando?
Era só rezar para não nos pegarem antes (qualquer outra pessoa em fúria), e talvez o resultado nos levasse ao mais paroxístico prazer que um ser-humano já sentiu, ou então ao suicídio, pela dor na consciência.
Lembra do bombardeio em Bagdá? Das torres-gêmeas? de Saddam Hussein? Hitler? Mussolini, etc.
Parece que agora pegaram o Bin Laden (como se pegar um cara adiantasse alguma coisa).
Já pensou se se desse ao Homem o direito efetivo, agente, inalienável, de ser, mas completamente, sem restrição alguma, o lobo do homem?
Talvez, mas só talvez o mundo se concertasse e se consertasse. Fora isso, vai me dizer que está bom, muito bom, do jeito que está?

Mais dúvidas

Por que é que nós vivemos como se fôssemos eternos?
Pior: como se fôssemos eternos aqui. Vá lá que sejamos eternos em outro canto, em outra dimensão. Não sei. Nem faço questão, hoje em dia, de saber, pois quando fiz nada mudou - continuei em dúvida.
O problema é que vivemos como se fôssemos durar para sempre, neste corpão material pesado, neste planeta azul borrado de cinza(s), de sangue, de dor...
Why?

Não entendo...

Pois é, sobrinha, pois é...
Um cara e uma moça que eu apresentei há quase um ano terminaram.
Para o mundo, queriam mostrar que tudo estivesse bem, muito bem; entretanto, a coisa estava a degringolar.
Um belo dia, ao que tudo indica, ela arrumou um sujeito, e foi um susto para ele (o cara, não o sujeito).
Hoje, o cara acompanha pelo Facebook os 'diálogos' (quiçá de Adão e Eva) entre ela e o sujeito que ela arrumou.
Estou boquiaberto. Parece que o cara tem lá suas culpas, mas, que eu saiba, ele não sabe (i) que as tem, (ii) quais são e (iii) o tanto que aquilo incomodava a moça.
Minhas perguntas: por que é que duas pessoas que estão num relacionamento sério não falam, uma para a outra, o que está se passando em seu mundão interior? Cada um tem um mundo só seu? Não era para serem um 'nós', em vez de um 'nó'?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aí o meu avô disse que não viaja de avião porque tem medo de morrer. Disse que já não sobe tão frequentemente a sua rua porque dói-lhe as costas. Porque dói-lhe os ombros e as pernas, e porque pode morrer. Às vezes eu tenho a impressão que esperar a morte tem sido o seu principal propósito de vida. Que eu saiba, foi logo após ele ter sofrido o seu primeiro – e único – enfarte, há mais de duas décadas, que a morte tornou-se desculpa para ele não viver. É triste, mas ele ri. Talvez a ideia do seu próprio óbito lhe faça cócegas.

Assim fica diphícil!

Eu não entendo como que um Primeiro-ministro – que renuncia ao seu mandato, admitindo a sua majestosa incompetência perante todo o país - pode recandidatar-se para O MESMO CARGO! E entendo menos ainda como que um ditador disfarçado de Primeiro-ministro, prepotente, mentiroso compulsivo, corrupto, cruel e insensível consegue ter a mesma – ou ainda maior – audiência diante dos eleitores! C-O-M-O É P-O-S-S-Í-V-E-L? Já que não tenho direito ao voto, limito-me a lamentar. Ah Portugal, o que foi que fizeram contigo…

Com o tempo, deixei de querer saber o significado das coisas porque, com este mesmo tempo, descobri que estas mesmas coisas vão perdendo o seu sentido – seja lá o que esta palavra quer dizer. E se vão perdendo o sentido é porque nada é definitivo, e se nada é definitivo para quê saber o que as coisas significam? Não compreendo esta nossa mania de definição, visto ser o Ser humano a criatura mais indefinida que alguma vez conheci.
Já que não nos conseguimos definir – não por falta de palavras, mas por excesso de grandeza -, tentamos preencher este enorme ponto de interrogação com as reticências implícitas nas definições das pequenas coisas, e o problema está justamente aí. Na compreensão do implícito.

O ser humano encontra-se subentendido naquilo que desconhece.
Quanto mais vago o autoconhecimento, mais subjectiva é a existência.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Maldição.



Tio, não te dá raiva quando você telefona para uma linha de «Apoio ao Cliente» para comunicar que determinado produto não está funcionando como devia, e a única coisa que esta suposta linha faz é passar a tua chamada para o fulano, o ciclano, o beotrano, para o filho da mãe maria, depois da mãe Joaquina, para finalmente o último filho da puta te dar uma solução que você já havia pensando antes e que, por sua vez, não resultou? E não te dá ainda mais raiva quando esse mesmo filho da putain te diz que afinal o problema é com eles e que o mesmo só será resolvido dali a alguns dias? E não te dá ainda mais raiva quando, passados esses mesmos dias, o tal produto continua sem sinais vitais? O quê você faz numa situação destas? Essa minha vontade de me tornar numa serial killer é anormal? O que fazer com esse desejo insano de os mandar todos para a puta que os pariu em árabe? Sim, em árabe! Ou de rogar-lhes uma praga em alemão, porque as palavras são muito maiores, e naturalmente surtem um efeito aterrador ao receptor? E, já agora, o que fazer com as minhas costelas? Hum? Diz prá mim.

A maldita prima.


Uma das poucas vantagens de se ir ao hospital está em encontrar situações caricatas como esta:
Velha:
- Ai meu Deus, meu deuzinho! Ajude-me, senhor! Eu nunca fiz mal à minha prima! Eu nunca lhe quis mal, Jesus! Que dor, doutor! Dói muito!
- Calma, minha senhora, eu nem sequer espetei a agulha ainda…
- AI MEU PAI! Eu nunca fiz mal à minha prima! Porquê Senhor, porquê? Eu nunca fiz mal a ninguém…a ninguém, doutor! Jesus Cristo, me perdoe, por favor! Ai a minha prima….
- Estique o braço e feche a mão, minha senhora.
-… priminha minha! Eu sempre cuidei tão bem dela! Ai meu Deus, eu nunca fiz mal à minha prima…!
O doutor espeta a agulha.
- AI MEU DEUS DO CÉU, AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA, AI A MINHA PRIMA!!
O doutor começa a tirar o sangue.
- Aiiiiiiiiiii! Aiiiiiiiii meu Deus que eu morro, doutor! Estou a morrer, eu vejo a luz doutor! Estou a vê-la! Ai a minha prima!
- Aquilo é uma lâmpada florescente, minha senhora. Agora fique quieta, por favor!
- Aiiiiiiiiiii doutor! Aiiiiii! Aiiiiii, dói muito! Ai a minha prima, a minha priminha querida! Eu nunca fiz mal à minha prima…! Ai meu Pai, ai…..ai…..ai a minha prima, doutor….!
O doutor tira a agulha.
- Ai…ai a minha prima…Arranje-me um ‘binhozinho’ doutor.
- Ora essa, a senhora está no hospital, é diabética e quer que lhe traga vinho! Ganhe juízo e vá dormir!
- AI DOUTOR, AI A MINHA PRIMA….!!

Quem assistia àquela cena, ria. Ainda hoje me pergunto o que é que a velha deve ter feito à prima, ou vice-versa…



Já me serviram tanto vinho ruim nestes últimos seis meses, que eu acho que quando me servirem um realmente bom, eu não vou gostar!

Ó eu aqui ó!



Então, já fazem uns bons milénios que eu não escrevo coisa alguma aqui. Mas não é falta de vontade não. É falta de coisas interessantes para se dizer. Não que tudo aquilo que já disse tenha sido alguma vez interessante, mas é que nos últimos tempos eu tenho desfrutado de um vácuo mental aparentemente interminável. E o interessante de tudo isso é que o vácuo pesa.
Outro grande motivo de não ter voltado a postar coisa alguma é a minha vida (?) social Coimbrã extremamente atribulada, cheia de altos (?) e baixos (!) Aliás, a própria cidade é cheia de altos e baixos, subidas e decidas, de degraus – alguns soltos, outros tortos, outros cheios de vómitos da madrugada anterior – intermináveis que te destroem os gémeos e te fazem transpirar e feder que nem um trabalhador de uma mineira. Concluindo: hoje tenho a mais pura certeza que, quando Deus resolveu brincar de me fazer, baseou-se em Coimbra.
Daí, o meu tio me chamou de ingrata pela bilionésima vez. Eu acho que já é algo automático. Ele me vê ausente (!) no MSN e associa o meu ‘status’ a uma ingratidão existente apenas naqueles neurónios vaidosos. Aí, ele dá dois cliques lá no meu nomezinho, e escreve a primeira besteira que lhe vem à cabeça. Do género: “ E aí, tá ‘dando’ muito?!” Eu, por minha vez, olho para aquilo e me indago: O «normal» não seria o ‘cota’ dizer: “ Então sobrinhazinha linda do meu coração, eu sei que o tio tem estado SUPER ausente – aliás, como sempre esteve – e que, juntamente com sua senha, esqueceu-se também que tinha uma sobrinha, e peço imenso perdão por isso. Como você está? Tudo bem? E os estudos?” E assim a conversa se iria construindo graciosamente, como qualquer outra conversa familiar! Mas não! O cara é sórdido, creia!
«Juntamente com»? Como assim? ‘Juntamente’ já é ‘com’. ‘Com’ já é ‘juntamente’. Que coisa idiota.
Daí ele lembrou qual era o e-mail e a senha. LEMBRA seu ingrato? Lembra quando eu te perguntei: “ Bicho, o teu e-mail não começava com o teu nome?!” E você respondeu: “ Nãaao! é claro que não!” E eu fiquei quieta, convencida de que tinha enlouquecido.
E ingrato é você tá? Que é pró na arte de me deixar falando sozinha!


Seu gagá!

Passar bem!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pô, sobrinha, lembrei a senha!

Que Kapa-ralho, viu? A gente vai se aprochegando dos 50 e, quando vê... não vê mais quase nada, não ouve mais quase nada, não lembra mais de p* nenhuma e... o que eu ia falar, mesmo?

Sobrinha, você tem valorizado os seus enquantos?, os aindas?, as eternidades que há em cada átimo bem vivido? Se não tem, darling, faça isso, pois o tempo passa rápido demais, e aí, nêga, v. vai ver que as conjunções temporais e os advérbios também se conjugam no passado. Não faça como eu, porque o meu enquanto enquantou e enquantara; o meu ainda aindou e até desa(i)ndou, e as eternidades foram emborcadas num eterno sumidouro.

E agora? A propósito, o que é o agora, que se perde no tempo assim que o pronunciamos como palavra?

Think about, tá?

sexta-feira, 4 de março de 2011

Poema El Pozo de Pablo Neruda


A veces te hundes, caes

en tu agujero de silencio,
en tu abismo de cólera orgullosa,
y apenas puedes
volver, aún con jirones
de lo que hallaste
en la profundidad de tu existencia.

Amor mío, qué encuentras
en tu pozo cerrado?
Algas, ciénagas, rocas?
Qué ves con ojos ciegos,
rencorosa y herida?

Mi vida, no hallarás
en el pozo en que caes
lo que yo guardo para ti en la altura:
un ramo de jazmines con rocío,
un beso más profundo que tu abismo.

No me temas, no caigas
en tu rencor de nuevo.
Sacude la palabra mía que vino a herirte
y déjala que vuele por la ventana abierta.
Ella volverá a herirme
sin que tú la dirijas
puesto que fue cargada con un instante duro
y ese instante será desarmado en mi pecho.

Sonríeme radiosa
si mi boca te hiere.
No soy un pastor dulce
como en los cuentos de hadas,
sino un buen leñador que comparte contigo
tierra, viento y espinas de los montes.

Ámame tú, sonríeme,
ayúdame a ser bueno.
No te hieras en mí, que será inútil,
no me hieras a mi porque te hieres.

L. F. Veríssimo

Brincadeira

Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:
-"Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
-Como é que você soube?
-Não interessa. Sei de tudo.
-Me faz um favor. Não espalha.
-Vou pensar.
-Por amor de Deus.
-Está bem. Mas olhe lá, hein?
-Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
-Sei de tudo.
-Co-como?
-Sei de tudo.
-Tudo o quê?
-Você sabe.
-Mas é impossível. Como é que você descobriu?
-A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
-Alguém mais sabe?
-Outras se tornavam agressivas:
-Está bem, você sabe. E daí?
-Daí, nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
-Se você contar pra alguém, eu...
-Depende de você.
-De mim, como?
-Se você andar na linha eu não conto.
-Certo.
-Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
-Eu sei de tudo.
-Tudo o quê? Você sabe.
-Não sei. O que é que você sabe?
-Não se faça de inocente.
-Mas eu realmente não sei.
-Vem com essa.
-Você não sabe de nada.
-Ah, quer dizer que existe alguma coisa para saber, mas eu é que não sei o que é?
-Não existe nada.
-Olha que eu vou espalhar...
-Pode espalhar que é mentira.
-Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
-Qualquer coisa que você espalhar será mentira.
-Está bem. Vou espalhar.
-Mas dali a pouco veio um telefonema.
-Escute, estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.
-Aquilo o quê?
-Você sabe.
-Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava:
-Você contou para alguém?
-Ainda não.
-Puxa. Obrigado.
-Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.
-Porque eu? - quis saber.
-A posição é de muita responsabilidade - disse o amigo. - Recomendei você.
-Porquê?
-Pela sua discrição.
-Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos mas nunca abria a boca pra falar de ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:
-Sei de tudo.
-Co-como?
-Sei de tudo.
-Tudo o quê?
-Você sabe.
-Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia remota. Os vizinhos contam que numa noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que mais se ouvia era a dele, gritando:
-Era brincadeira!Era brincadeira!
-Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
" Sabia demais"


Luís Fernando Veríssimo

Fui a Porto Alegre

Não voltei de bombachas, não botei a boca no canudo de chimarrão. Nada. Estou aqui. Só.
E é só.