sábado, 31 de julho de 2010

A questão do Casamento - Uma dupla opinião escrita na primeira pessoa - Por: Sarah e Cô

Acho que a questão da sexualidade nunca esteve tão acesa como nos últimos anos, principalmente agora, com a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo. E no meio disso tudo, há uma coisa que vem me incomodando cada vez mais. 
Unido a este grande passo, vieram os debates acesos, as discussões, os argumentos e, principalmente, uma belíssima dose de intolerância. E é ela que me incomoda. Mas espera, este post não tem o intuito de levantar bandeiras para os homossexuais e companhia, aliás, eu nunca levanto bandeiras por ninguém. Refiro-me àquelas pessoas que sofrem por se manifestarem contra a preferência sexual de determinada pessoa. Que se vêem sufocadas, que são intimidadas por possuírem uma opinião distinta da maioria, e por fazerem questão de não serem politicamente correctas.

Cá entre nós, tem muita gente que se diz à favor desta nova medida, mas que na verdade, bem no âmago do seu ser, não a aprova. Tem muita gente que diz não se incomodar com os homo, bi, tri, trans, pansexuais, mas se formos ver bem, quando confrontadas por algum familiar com alguma dessas preferências, não a aceitam de modo algum. Ainda existe muita gente que diz que SIM, mas que na realidade deseja berrar um belo de um NÃO. Mas e por quê não o fazem? Por quê é que se privam do direito de não serem pró a algo que vá contra os seus valores?

Eu não sei se sou eu que sou muito chata, muito implicante, mas acho que por detrás disso tudo existe um cinismo muito grande. De um dia para o outro, a sociedade tornou-se favorável ao casamento homossexual. Todos aprovam, todos acham que tal acontecimento tem que ser legalizado. Depois de séculos e séculos vivendo num obscurantismo medonho, o povo abriu as janelas e hoje ninguém se incomoda com isso; todos acham super natural dois homens se casarem e usarem vestido, véu e grinalda... Atenção! Eu não sou contra, até porque essa coisa de igreja não é comigo. O que eu quero dizer é: os homossexuais não venceram a guerra, foi o opositor que desistiu da batalha. A sociedade continua cínica, arrogante e preconceituosa como sempre foi! A nossa mentalidade mudou para muita coisa, mas no que toca ao casamento ela continua conservadora. Não cessaram os olhares tortos, as famílias envergonhadas não desapareceram e aqueles que julgam a homossexualidade como sendo uma patologia, continuam achando. Portugal, por exemplo, um país conhecido pela forte presença do Catolicismo, só promulgou o casamento por uma questão governamental. O próprio Presidente da República o disse ao vivo, para todo o mundo ouvir. No fundo, ele só deu o seu consentimento porque este ano é ano de eleições, e ele quer continuar à frente do país. Ponto final.

Voltando aos que são contra e não dizem que o são, acho que têm todo o direito de manifestar o seu desagrado perante tal situação. Não têm o direito de oprimir, de ofender, de humilhar, mas têm o direito de serem contra, sejam as suas justificações aceitáveis ou não. 

A liberdade de expressão está e sempre esteve em crise, e no fundo aqueles que levantam suas bandeiras, não o fazem sem pisotear a bandeira de outrém. No nosso meio, o tirano passa a oprimido numa questão de segundos, e vice-versa. É por isso que permaneço neutra na maior parte dos casos. E neste tema em particular, opto pelo mesmo: não sou contra nem sou à favor, porque creio que não temos que ser prós nem contra a opção sexual de alguém. O que acho intolerável é a falta de respeito existente dos dois lados: se alguém diz que é contra, pode esperar porque logo cairá meio mundo de gente cínica em cima dele. Se, por outro lado, manifestam-se à favor, esperem o mesmo. Todos querem ter a palavra sobre uma opção que nem sequer deveria ser colocada em causa(...)

 E aí, como ficamos? Promulgamos o casamento entre pessoas do mesmo sexo porque realmente o vemos com naturalidade, ou o fazemos simplesmente para que se silenciem as vozes de uma vez por todas, ainda que isso implique uma falsa sensação de justiça ?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Diálogo com mamãe, aos 8 anos de idade

- Mãe, em que a mulher é tão diferente do homem?
- Ah, filho, a mulher tem o ventre, onde as criancinhas crescem.
- Hm... e não tem piupiu?
- Não, filho. Isso aí só os homens têm.
- E é bom, mãe?
- Hein? Como assim "é bom?" (já estava me levando a mal...)
- Ué, mãe... é bom ter ou não ter piupiu?
- Não sei, filho. Como eu não tenho, não posso avaliar.
- Você queria ter, mãe?
- Não! Claro que não! Ô menino curioso!
- Hm...
- Mãe?
- Diga, filho, diga.
- Fora isso, outra diferença além do aspecto?
- Não, filho.
- As mulheres fazem cocô mais cheiroso?
- Não filho, é a mesma coisa.
- E xixi, mãe, é igual também?
- Tudo igual, filho.
- Suam?
- Suam.
- Cheiram mal?
- Sim, filho, se não tomarem banho.
- Então, mãe, por que as tias ___ e ___ têm cara de quem não faz cocô, xixi e não sua?
- Quieto, Valjean! Vá brincar e me deixe trabalhar.

Ah, os homens mais velhos.... (!)







Pois é... minha sobrinha linda, quando falou de homens mais velhos, escolheu justamente o George Clooney.
Aí, todas embarcaram.
Meu, cai na real. Homem mais velho como o Clooney fica fácil. Vemos aqui uns caracteres mais próximos da realidade, todos eles mais consentâneos com a lógica.
A propósito, eu escolhi todos a dedo, pois que cada um tem um pouco de mim - meus traços, os que herdei de mamãe.
Eis aí uma idéia real de homem mais velho, ora pois, pois!
Tio, é só para te dizer que eu sei de tudo. Ele me contou. Não adianta esconder, porque eu já descobri. Sei de tudo e não há nada que faça mudar a minha opinião. Não se faça de desentendido. Eu sei! Me liga, assim que você terminar de ler esta mensagem.

Anti-Barbie



A minha mãe diz que desde pequena eu sempre fui bem diferente das outras crianças. Às vezes, me separava do rebanho para ir brincar sozinha, outras, brincava sozinha dentro do rebanho. Gostava dos amiguinhos, mas se pudesse ficar num canto falando com os meus botões, de preferência sentada na areia, melhor ainda. Não gostava da Barbie, mas batizei a minha cadela com o seu nome. Pois é, a cadela morreu e a maldita boneca existe até hoje.
Mas há uma coisa em particular que me recordo bem: o de ganhar bonecas (não-barbies). Adorava-as tanto, que a primeira coisa que eu fazia era despi-las. Verdade. Existem aquele grupo de meninas que cortam os seus cabelos; Existem aquelas que as maquilham; Outras as enterram; Outras perdem as pernas, braços e cabeça. As minhas, eu despia uma a uma e fazia um montinho de roupinhas de um lado e de corpos de plástico do outro. Coisa macabra, né? Para além disso, adorava mastigar os sapatinhos de plástico, comi as flores que uma delas trazia entre os cabelos, e até mastiguei o pé do Piu-Piu, um chaveirinho que a minha avó havia me dado. Ah, sem falar no dia em que comi uma pedra de sabão, pensando ser um pedaço de doce de leite...

Pô, falando assim dá até medo.

Os homens mais velhos!


O meu tio sabe que eu adoro um cara mais velho. Mas mais velho mesmo. Não um ou dois anos mais velho, mas uns 20 ou 30. Sabe, mas detesta e vive dizendo que sou louca. Sempre que eu aponto o dedo a um coroa inteirão, ele diz: “ Esse cara tem idade para ser o teu avô” ou “ Vai lá, se joga em cima dele! Só vai se cansar, porque esse aí já não dá mais tiro.” ou “ Cê vai ver só…na primeira cag*da no fraldão, você sai correndo..” Enfim, ciúme de tio.
Mas eu não sou a única. Hoje em dia, encontrar uma jovem que manifeste interesse sexual por um quarentão, cinquentão ou até sessentão, não é assim tão incomum. Em primeiro lugar, homem velho, homem idoso, para mim, é só a partir dos 70. Aos sessenta é maduro, aos cinquenta é adulto, aos quarenta é jovem, aos trinta é uma criança e na casa dos vinte é feto. Eu não tenho culpa que assim seja, é um fato. E que lance o primeiro coroa quem não concordar comigo!
E sabem por quê é que nós, jovenzinhas na casa dos vinte, nos encantamos pelos jovens da vida? É simples, porque têm a experiência de vida que um feto não tem, e porque enquanto o feto procura diversão e quase sempre não leva nada a serio, as jovens buscam a estabilidade e a consequente maturidade que só os quarentões, cinquentões, sessentões e, com sorte, os trintões beirando a juventude, possuem.
Nós não temos culpa! Se o meu tio estivesse me lendo neste momento, diria num tom freudiano: “ Vocês transferem para o sujeito uma imagem totêmica freudiana!” Olha, esse seria o caso se possuísse algum tipo de carência paternal, mas não é. Isso acontece porque o homem mais velho, inteirão, com um papo inteligente, atrai sim. Aí, os céticos perguntam: Mas e o mais novo que é tudo isso, não atrai? Atrai mas não é tão interessante. O homem mais maduro tem um ‘ je ne sais quoi’ que faz com que a sirene hormonal da fêmea toque e estremeça tudo lá dentro. E se o cara der corda, se der razões para que essa sirene não deixe de tocar…aí já viu. Por vezes, nem sequer é proposital, mas basta a presença, um bom dia, um beijo no rosto, um abraço, o cheiro do perfume, qualquer coisa…! Para os nossos dois hemisférios cerebrais transformarem-se numa dupla de órgãos sexuais femininos, prontos a serem possuídos.
É errado? É pecado? Sei lá, pode ser, mas eu nunca fui religiosa. Entre olhar duas vezes para um cara 30 anos mais velho do que eu, bonito, charmoso, cheiroso, gostoso, e olhar para um outro de 25 com estas mesmas qualidades, eu torno a olhar para o cinquentão. Sem dúvida alguma! Aliás, um de 50 vale por dois de 25!
 O Jean não engole esta história, eu sei. Mas eu já avisei: ele que tome muito cuidado – não comigo, é claro! Sorte a dele! Deus poupou-lhe de tal desgraça, fazendo-me sua sobrinha (ou seja, com uma desgraça ainda pior) – porque possui todas as qualidades supramencionadas. O mar tá cheio de peixe e não é por ser o meu tio, mas ele é um isco deveras tentador. E tenho dito (tio, não grite comigo!).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Mar VI

Por que quanto mais pensamos que pensamos mais vemos que nada vemos?
Ou é justamente por isso?
Olhar o mar é ver tudo e, ao mesmo tempo, nada ver.
Singrar o mar é singrar o desconhecido, rumo a um Eldorado que não existe. Nem existirá.

O Mar V

Solidão.
Talvez seja disso que eu precise.
E do barulho do mar, e da imensidão do nada, que se confunde com o Todo.

O Mar IV

A imensidão do mar é a imensidão de meu mundo interior.
O consciente é o barco, que apenas bóia sobre as águas imperscrutáveis.

O Mar III

Oceano de dúvidas,
ondas de indagação,
marolas de perscrutações,
canais de emoções
que se cruzam.

Ilhas de peregrinos,
imersões de que não retornamos,
pesqueiros em que não pescamos,
homens sonhando ser meninos.

Oceano traiçoeiro,
oceano intransponível,
mar de querelas,
de sonhos, indescritível,
mar sonhado e verdadeiro.

Mar revolto, encapelado,
este mar do meu presente
que remonta ao meu passado.
Mar que ainda eu hei singrado,
com as naus de minha mente,
com memórias ao meu lado.

Quero, mar, que me inaugures
pelos olhos, peito a dentro.
Vem, mar, da epiderme ao centro,
e hás de encontrar-me, algures.

E se me achares, oceano,
em algum lugar de mim,
dá-me o mapa sem engano:
talvez eu me encontre, assim.

O Mar II

Quis ir às regiões abissais, não pude.
Pedi ao barqueiro que parasse, quando chegamos a uma piscina natural. Desci. Pão que jogava sobre as águas, peixes ao meu redor. Éramos natureza. Eu era apenas mais um.
Sinto falta de ser apenas mais um.
No seio daquela fantasia, percebi que a realidade, muitas vezes, é fantasia, e só a fantasia é realidade. Acho que vivo do lado de lá do espelho. Do espelho d'água.
Onde está Netuno?

O Mar...

"As marítimas águas consagradas
que do gado de Proteo são cortadas."
(Camões)
Fui viajar. Fui para uma das paragens da Costa Brasileira. Embora não tenha ido só, em dado momento aluguei um barco. Precisava pensar. Era eu (O Velho) e ele (O Mar) - this old man and the sea.
Na hora em que o barqueiro ligou o motor a diesel, pensei em Caronte, mas... quê!? Foi aí que a vida começou.
À medida que nos afastávamos do cais, aquietei-me. O oceano imenso ao meu redor era o mundo subconsciente: cheio de seres que desconheço e jamais virei a conhecer; só que aquele subconsciente é navegável, e "navegar é preciso". O timoneiro traçou uma rota de acribologia imparagonável, e ia me levar a lugares os mais incongruentes, embora não soubesse.
Enquanto ele pervagava a imensidão equórea, eu submergi em meu mundo, em meu oceano interior.
Vi montanhas de dificuldades, cormorões esfaimados, gaivotas à cata de raiozitos de luz, albatrozes à procura de ilhas sobre que se escondessem, as asas imensas, as asas tronchas e cansadas...

sábado, 24 de julho de 2010

Fuga.



As palavras são pequenas pessoas
Que, quando juntas, formam uma cidade
Fantasma dentro de mim.

Tijolo à tijolo,  
Constroem significados
E albergam entre as telhas
Dos telhados, as respostas
Que procuro.

No escuro,
Acendem suas lanternas,
Entrelaçam suas pernas,
E começam a escalar
Todo o meu corpo.

Torno-me
Na mais alta das montanhas
Enquanto durmo.
E quando acordo, sem voz
Nem melodia que me dê corda,
Vomito as entranhas de Procusto. 

As palavras
São pequenos monstros
Aos quais fujo,
Mas elas me perseguem
Dentro de um labirinto
Onde somente Dédalo encontra
Subterfúgio

Cansada, deixo-me levar
Pelo Touro branco 
Em que Zeus se transforma
E vou embora, encontrando
Na Europa, o meu refúgio.
a nossa alma é um poço sem fundo onde cabe tudo: o bem que fazemos e a desgraça que somos. Para quê nos procurarmos tanto? O segredo está em ser incognoscível eternamente.  Desvendar-se, mantendo-se sempre na confortável ignorância de não se saber nada.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Margaridas I e II


Margarida I

Sonhei com a margarida
tão cheia de aroma,
tão cheia de vida.

As pétalas tão macias,
que eu cheirava com cuidado
que eu sentia, inebriado.

Pus as pétalas na boca
e num instante o desejo
tomou-me a mente, tão louca.

Bom sentir aquele cheiro,
seu perfume alvissareiro,
orvalhada de prazeres.

Tomar o orvalho, com sede.
Lamber os lábios de orvalho,
sem deixar nada escorrer.

Seu orvalho, seu perfume...
Da Natureza, um ciúme
no meu peito vi nascer.

Margarida II

Refeito do sonho louco,
esfreguei os olhos baços,
já vermelhos de cansaços.

Sonhei com a Margarida,
mas o desenho animado,
sem perfume, sem agrado,
só a graça pueril.

Ri bastante do meu sonho,
que me deixou bem cabreiro.
A margarida de olores
perfumados com calores
era de outro jardineiro.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Cô, hoje eu fiz torta de frango! Hahahaha



Veja só, sobrinha lindinha do meu coração:
eu estava sozinho aqui, e resolvi ir mexer os miolos na cozinha. Há uma certa massa de liquidificador, cuja receita peguei com minha mãe, sua tia-avó, bem fácil de fazer.
O recheio foi todo criação minha: fritei cebola no azeite; quando esta começou a corar, botei alho (porque o alho cresta mais rápido que a irmãzona dele). Aí foram salsinha e cebolinha, que abafei com a tampa, para permutarem sabor com os outros dois ingredientes.
Quando achei que os 4 fantásticos já estavam num ponto de cocção bom, botei lá tomates picados bem pequenininhos e deixei refogar a mistura. A pimenta vai a gosto. Eu prefiro malagueta.
O frango estava sendo frito em outra panela, já desfiado. Veja: não é deep fried, mas stir fried.
Untei a assadeira, enchi com a massa a parte de baixo, depositei ali o meu recheio e coloquei o resto da massa, por cima.
Foram 30 minutos de forno.
Enquanto a torta assava, fui lavando a louça, para poder comer numa cozinha organizada - não sou clean freak, mas também não gosto de baderna, você sabe bem.
Ah, que delícia. E olhe, modéstia à parte. O toque secreto foi pôr um pouco de creme de leite no frango-recheio. Huuummmm!
Eis aí: são estes os prazeres da carne que venho tendo, ultimamente. Hehehehehehe

Como eu queria

um colírio que me desse aos olhos o dom de enxergar a alma!

Espremido entre a realidade e a fantasia ficou apenas o gosto salobro da esperança, esta regada a molho de desilusão...

Para que tantos sonhos, se não se podem realizar?

Post de Retratação - Pedido de Desculpas, de joelhos





Sobrinha, eu errei. Fui maus, fui punk, sou bipolar, tenho TOC, sei lá o que é... sou um M*, é isso.
Para vê-la sorrir de novo, escolhi estas imagens: o gatinho humilde rezando. Aqui ele representa meu pedido sincero de desculpas.
Em seguida, ofereço-lhe uma rosa, com carinho. De cô-ração para cô-ração.
Tudo isso para ver você sorrindo de novo, cô-mo a meninota da última imagem.
Você é a melhor sobrinha do mundo. Insubstituível, é a minha criança hiperdotada, megacefalada, de coração que verte amor e carinho.
É a minha Tudinha, lindinha, fofinha, etc.
Eu adoro você, Cô.
Desculpa aí o seu tio, ó...

Quando a vida perde a razão de ser.... ( A VERDADE)



Ontem fui dormir aos prantos. Finalmente me apercebi que o meu tio não gosta de mim. Só sirvo para resolver os seus problemas amorosos, as suas dores intestinais, para ver novelas sem o Mayer e para dar-lhe alguns auxílios acerca do youtube pornô. Enfim, ele me explora e não sente remorso algum.

Mas a estúpida sou eu, pois rezei durante anos para ser a única sobrinha, de modo a tê-lo só para mim, pensando que seria mais amada por ser exclusiva! Ó vida, como dói a desilusão da ilusão! O quê fiz, meu Deus, para ser tratada pior do que um farrapo transformado em tapete da porta de entrada? Onde foi que eu errei?

Eu fiz as maiores loucuras por ele: aceitei tomar sopa fria, comer ovos-moles às colheradas, mastigar nabos estragados, comer macarrão com feijão gelado, porções de frituras gordurentas logo pela manhã, potes gigantescos de nutela… hum…Passei madrugadas inteiras vigiando as sua febres, dei remedinho, dei sopinha na boca, fiz papinhas de aveia com mel, os mais variados tipos de sobremesas, dei apoio moral nos momentos em que os seus intestinos deram nós de marinheiro, o defendi quando alguém quis lhe bater… (pausa para respirar) … ajeitei as cobertas, passei a roupinha, comprei gravatas, levei para passear, comprei sorvetinho, levei ao cinema, comprei pipoquinha, fiquei acordada até amanhecer só para fazer-lhe companhia, dispensei as suas peruas, partilhei da sua insónia, dei conselhos, deixei que ele chorasse aqui ó…no meu ombro! E é só eu arranjar um namorado, que ele começa a dar chiliques? A berrar que não lhe dou atenção? Que já começa reclamar só porque eu não preparo a água da banheira dele? Ó, dor! O quê foi que eu ganhei com tudo isso? Broncas! Puxões de orelhas! Abanões! Tropeções!

Maldita a hora em que aceitei partilhar um blog! Isso aqui virou um campo minado! Aonde quer que eu olhe, lá está ele tecendo injúrias contra a minha pessoa, ameaçando me abandonar, despaixando os outros dois tios suplentes, me trocando por mulheres nuas e me isolando do mundo virtual! O meu tio, aos poucos, tornou-se no meu cativeiro! Alguém me salve! Alguém me acuda! Porque ele não tem janelas nem portas, e eu não consigo sair daqui de dentro!

 Buáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Monólogo de um Lençol (Jean Valjean)



Vou alisar-te a pele, sem receios.
Do calcanhar à nuca... a alisar-te.
Teu corpo, tua linda obra de arte.
Tua arte, que me encanta com meneios.

Um palmo meu há de acariciar-te
os bicos túrgidos dos belos seios;
e outro, em teu recôndito, os anseios...
Teu corpo - muito mais que um baluarte.

E quando a pele tua, em arrepios,
te faça então sonhar mil desvarios,
deixa que o sonho embale a tua emoção:

Me aperta contra o peito, com ternura,
que eu, macio, refesto em minha alvura,
hei-de cobrir também teu coração.

Quando a vida perde a razão de ser...

Minha SOBRINHA, minha única SOBRINHA, anda me ignorando.
De novo sem paciência para ouvir os meus lamentos que, pobrezinhos, vêm em dó menor. Eu murmuro dores, ela me castiga com chicotadas.
Eu revelo minhas fragilidades, ela me cobra uma pujança que não tenho.
Acho que vou me suicidar, e pensei em três formas diferentes:

1a - Vou a New York, subo até o alto do Empire State Building e... pulo. Imaginem só! 5a Avenida, eu lá no topo do glamour e... puffffffff!

2a - Vou à França. Paris. La Tour Eiffel, Quai Branly. Subo até o topo e pulo. Eu lá no topo do glamour e... puffffff!

3a - Fico aqui em casa, mesmo. Ligo um CD da Alcione, tomo um copo de formicida, ligo o gás, fecho todas as janelas, tampo as frestas.

Quem quiser sugerir, por favor, aguardo, ansioso. Já que minha SOBRINHA não está mais aí comigo, só me resta o érebo, cruzar o Aqueronte, ir apertar a destra de Caronte. Nada mais quero... ó, dor!

Velho babão, bundão.


Esta semana, voltei a fazer as minhas corridas. Fiquei três meses impossibilitada de as fazer, e levei mais dois para criar coragem e entrar no rítimo. Tudo bem, há coisas piores.

Ontem, corri durante uma hora e meia, para acostumar. Cheguei em casa quebrada, morta de cansaço e de fome, querendo comer um boi. À noite, minhas pernas e coxas doíam. Tudo bem, há coisas piores. Comi meio boi e fui encontrar com o militar. Ou melhor: Fui encontrar com o militar e comi meio boi! Hahahahahaha!

Hoje a minha mãe disse que queria ir comigo. Amanheci quebrada, mancando, cambaleando. Enfim, arrebentada. Disse que sim, já sabendo que teria que adaptar o exercício não só por causa dela – que não corre – mas também porque não queria arrebentar os músculos. Fiz a mesma rota de ontem, só que metade do caminho correndo, metade caminhando rápido. Minha mãe ia bem atrás, caminhando, se assustando com aqueles cães que esperam você virar as costas para latirem, com os carros que surgiam de nenhures e tropeçando.

Repetimos o caminho umas oito vezes, até que eu disse:

- Fazemos esta última e vamos embora, tá?

Concordou. Virei a esquina e logo avistei um senhor lavando o carro. Pensei comigo: “ Pô, se esse cara me molhasse, era tudo!” Porque estava fervendo, apesar do vento. Quando me aproximei mais um pouco, a primeira coisa que reparei, foi: o velho tava com metade da bunda prá fora. Que nojo, senti vontade de sair correndo, mas não dava.

Disfarcei, continuei me aproximando, e não é que assim que passei pelo carro, o velho me ensopou as costas?! Eu não sabia se ficava p*ta ou se agradecia. Não fiz nada, subi na calçada para ver se ele faria o mesmo com a minha mãe. Mas não fez. Não sei se foi por ter se assustado com a sua cara zangada (cara de quem tinha visto tudo), ou porque só gosta de molhar ‘menininhas’.

O pior não foi isso. O pior é que eu estava toda de branco, e apesar da parte inferior ser mais grossa, a camiseta era finíssima, junto ao corpo, e o sutian enchia o saco porque não era próprio para corrida. Dá para acreditar? Cheguei em casa quebrada, molhada, chingando a minha roupa interior, faminta e, pior ainda, lembrando da cara de satisfação do velho babão.

Existe coisa pior do que isso?
Tio, me (s)acode.

Se eu fosse...


(i) o sutiã, gostaria de ser meia-taça, para sustentar, carinhosa e eficientemente, os seios que eu abraçasse;

(ii) a calcinha, gostaria de ser minúscula - fio dental -, para estar em contato muito próximo e muito íntimo com o mundo que eu invadisse.

domingo, 18 de julho de 2010

Eu, mulher (Jean Valjean, sob inspiração dos laços borromeanos de Lacan)

Eu te quero, homem, corpo e espírito. O tesão, sem alma, é hemiplégico; a alma, sem corpo, é inane. E também quero entregar-me a ti inteira. Não metade de mim, não a minha epiderme, não a minha complacência. Quero mais que satisfazer-te: desejo satisfazer-nos. Quero que quando a porta se feche sejamos cúmplices, e que quando a mesma porta se abra sejamos um só.
Quero teu sangue em minhas veias, a circular; tuas idéias em minha mente; tua boca em minha boca, teu corpo no meu corpo, teu coração me amando tanto quanto o meu te ama.
Dadas tais premissas, meu corpo será o teu templo, e teu corpo o mar onde o meu, feito barco, vai singrar.
Tua língua, lânguida, quero-a em meus seios bailando coréias; desce, amor, ao meu umbigo, beija-me o ventre, lambe-me os lábios vermelhos e o prazer que me escorre, morno e incessante, do imo.
Penetra-me, invade-me, rompe-me e irrompe em mim. Fertiliza-me de apreensão, de ansiedade, de dúvida, de gozo, de satisfação.
Deposita em meu âmago a tua confiança, como eu, a minha, deposito em ti.
Quero beijar-te, insopitável, e molhar teu corpo todo com minha saliva. Quero colher teu sêmen com a gana duma esfaimada.
Aqueces-me e te aqueço, a cada hora. Trocamos calor, confidências, imagens, reflexos, desejos, ensejos, despimo-nos um para o outro. Despimo-nos das alfaias e das vaidades. Do corpo, da mente, do coração. Entramos em simbiose. Entregamo-nos à inércia dos objetos em movimento, que permanecem a mover-se.
Queres-me? Vem a mim. Vem montar tua casa no meu peito, lançar tuas luzes em minha sombra, deitar a cabeça em minha alfombra, calar-me a boca com tua língua.
Neste momento, não sou eu - sou tu. E tu não és senão eu. Permutemo-nos e sejamos, ao menos pela infinitude desse encontro, não-eus dissolvidos e depois amalgamados num algo só. Sejamos o real, o simbólico e o imaginado. Ao menos nessa hora.



sábado, 17 de julho de 2010

Parabéns Velhinho!!


Eu sei que o seu aniversário é amanhã, mas nós não estaremos aqui para postar!
Por isso, eu desejo ao meu queridíssimo tio suplente, e o meu tio deseja ao seu mais feroz rival, um Felicíssimo Aniversário, repleto de coisinhas boas tanto para serem vividas, como comidas ou ambas!
Saiba que, mesmo que o meu tio não confesse, a sua presença sempre foi, é e sempre será essencial, por isso, não se atreva a morrer antes dos 98 anos!
Um beijo bem grande da Cô, outro enorme da Sarah ( ela obrigou-me), ambos cheios de carinho, e abracinhos do meu tiozão desaparecido, cruel e terrivelmente ingrato! 

Feliz Aniversário! 

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Hope.

A esperança é uma menina de saia rodada e saltos altos. É uma jovem de tronco despido e seios proeminentes que seduz todos os homens, fazendo com que corram atrás dela. A esperança é loura de cabelos encaracolados e olhos negros, profundos. Suas pernas são finas e sua cintura assemelha-se a um violoncelo. Seu silêncio é musical e voz silenciosa. É uma jovem peculiar, perpetuamente grávida de quimeras e sonhos por realizar. A esperança é a deusa dos mares incertos. Uma caravela carregada de fantasmas dentro dela. Quem nela entra, é condenado a nunca desistir de nada. Quem dela cai, afoga-se e se torna no próximo fantasma a velejá-la.
Olho para as fotografias e não me reconheço. Há qualquer coisa ali que não se encaixa. Existem tantas peças soltas. Tropeço em mim.

Por amor.



Das terras mais profundas,
Içarei o teu defunto e o lavarei
Com as águas cálidas do meu
Coração.

Das terras mais profundas,
Te roubarei as larvas
Para tornar as suas carnes,
Em bichos de estimação.

Deitar-me-ei, enfim, em teu lugar,
Deixando os teus ossos postos
Em sossego.

E de olhos fechados abrirei
Uma cova ainda mais funda
Para deitar-te bem no fundo 
Do meu peito.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

As vacas das filas de espera!



...e depois existem aquelas bestas super grossas, que acham que só porque adoram passar a perna nos outros, todos são como elas!!

Ontem fui à minha antiga escola, para buscar uma ficha necessária para a candidatura. Secretaria é sempre secretaria. Não interessa o lugar: ou você se depara com uma fila enorme na tua frente, ou você só encontra uma pessoa que, por sua vez, gasta a tarde toda lá dentro. A da Faculdade de Letras de Cô-imbra funciona da seguinte maneira: Abre às 11, fecha às 13:00 para almoço. Depois abre às 14:00 para fechar às 16:30. Se você tira a sua senha às 11 horas, pode esquecer, pois só será atendido na parte da tarde. E não é porque tem muita gente antes de ti, aliás, pode ter somente uma. O que acontece é que eles estendem a chamada o máximo que puderem, e quando é lá  para o meio-dia e meia, eles começam a passar os números correndo. Conclusão: se você não estiver, for cagar, libertar teus gases num local mais reservado, se fode.
Se você chega lá às 14:00, pode tirar a senha e fazer um tour pela cidade até as 15:45, pois lá para as 16:10 eles repetem o que fizeram na parte da manhã, e se você não estiver, se fode de novo. Sugestão: vá devidamente peidado, cagado, arrotado, almoçado e comido, assim não correrás o risco de ficares para o dia seguinte.

Voltando à escola. Lá não existem senhas, vão entrando de dois em dois. Ao entrarmos, vemos, se não me falha a memória, 10 pessoas lá dentro: 2 atendendo, 5 estão fingindo estar muito ocupados, outro realmente está bastante ocupado, e os dois últimos estão ao telefone.
Só uma rapariga me precedia, e antes dela encontrava-se mãe e filha (julgo eu) no balcão, e mais outro rapaz. Mãe e filha sairam, boy ficou, a garota entrou, eu entrei. Poucos minutos após fechar a porta e me encostar ao balcão (somente porque havia espaço e não queria levar com a porta nas costas), a garota muito sorrateiramente dirigiu-se a mim, dizendo:

- Não penses que vais ser atendida primeiro, eu estou na tua frente.

Aquilo foi o suficiente para me ferver o sangue. Tive vontade de dizer:

- Ô jumenta, não se preocupe que eu não vou te roubar o cliente!

Mas não disse. Pensei, ainda, em responder-lhe:

- Veremos.

Mas também não disse, simplesmente respondi para ela não se preocupar, pois eu tinha conhecimento que a donzela estava antes de mim. Ela deu um sorrisinho amargo, provavelmente pensando: “sei…”, e eu retribuí, pensando: “ %#$%S#*$%!” 
No fim, de nada lhe valeu a sua chamada de atenção, pois fomos atendidas ao mesmo tempo, e eu saí primeiro que ela! Heuheuheusheushe! Além disso, fui embora respirando o ar puro, e ela saiu da secretaria respirando o arroto que mandei pelo nariz.

Sôudemais, confessaí!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

De amores e paixões - Jean Valjean, republicação

Busquei nos teus abraços meus anseios,
E, no teu colo, a cura da soidão.
Eu quis meus fins por força dos teus meios,
E me entreguei, no Saara da paixão.

Busquei minha coragem em teus receios,
Meu tirocínio em tua indecisão.
Fundei meu raciocínio em tua emoção
E a minha liberdade em teus bloqueios.

Fui dono, enfim, de tudo o que não tinhas;
Dei-te os meus olhos pra com os teus, só, ver.
Não quis ter pernas, para andar com as tuas.

Hoje, que ando onde tu não mais caminhas,
Sinto-me um paralítico a correr,
Ou um cego, sem bengala, pelas ruas.




Nota: acabei de publicar, digo, republicar e já está no Google? O que é isto? Big Brother, como Orwell previra?

domingo, 11 de julho de 2010

Deus é fiel

Toda vez que eu leio essa frase, no carro de algum 'crente' ou o que o valha, fico pensando nos cachorros. Os cães são fieis, e são fieis sob o meu prisma de visão: eu sou, supostamente, o centro do universo deles; eles orbitam ao meu redor. Eu sou o sol, sou eu que brilho - como diria o compositor - e eles são fieis a mim. Ótimo. Agora Deus... ou é O Criador, Onipotente, Onisciente, Onipresente, Soberanamente Justo e Bom, ou não é Deus.
Aí eu pergunto: quem tem de ser fiel?
Então sugiro a frase seguinte:
Deu Zé Fiel.
O que significa? Havia dois cavalos num páreo: Zé Fiel e Zé Pagão. Depois de dada a largada, e a cavalaiada sair no pau pra levar a taça, foram ficando para trás todos os outros, até que Zé Fiel ganhou de Zé Pagão.
O João, meu amigo, havia apostado em Zé Pagão, mas não pôde ir ao Jockey Club para ver a corrida. Quando eu saí, ele ligou no meu celular e perguntou:
- E aí? O que deu?
E eu, honestamente:
Deu Zé Fiel.
Ó, crentes do catano... sugiro que não leveis o nome do cara em vão, pô!

Cada ano que passa

Uma homenagem ao Decadente, que em pouco fará aniversário.
Para mim, Decadente, se a juventude do corpo era a noite da alma, o envelhecimento do corpo tem trazido manhãs ao espírito. Prefiro a sensação de rejuvenescimento interior, e que venham as rugas, pois por suas trilhas as lágrimas vão para os lugares certos e os pensamentos escoam só por onde e para onde devem.
Passada a idade das ilusões é que nos permitimos renascer de cada tropeço, e cada vez mais introspectivos.
Só espero, pré-provecto amigo, que você não se torne tão amargo quanto eu venho me tornando.

sábado, 10 de julho de 2010

Os irmãos mais velhos servem para quê mesmo?


Tou com o meu ouvido pulsando desde ontem. Pulsando é pouco: tenho uma escola de samba dentro do ouvido, e o meu tímpano é o tambor. Todos têm conhecimento da minha fragilidade psicológica no que diz respeito aos ouvidos. Tenho um trauma profundo desde 1994, aquando da p*ta infecção que peguei em Brasília. É um trauma absolutamente justificável, para não falar do gigantesco histórico de dores e até de tímpanos perfurados, existentes na minha família (por parte de mãe)

Mas tudo piorou quando o meu irmão disse assim:

- Você tem um besouro aí dentro.

- Ah André, não enche o saco!

- É sério! Tá tremendo o ouvido?

- Tá.

- Poizé, é o besouro batendo as asas.

- Fica quieto!

- Daí, ele irá para o teu cérebro. A tua cabeça é um ninho de besouros!

Fiquei com medo:  será que entrou um bicho no meu ouvido, e eu não me dei conta?

Ensinamento.

Seja feliz, mas em silêncio. Quando a felicidade lhe bater à porta, não faça uma festa. Não estoure foguetes. Não chame os vizinhos. Não cante, não dance, não grite bem alto! Seja feliz, mas por dentro. A tristeza tem sono leve.

Não sei ser aquilo que realmente sou, sem ser primeiro o que não sou. Ser aquilo que não se é, é ser da existência o seu artista, e do destino o trapezista. É preciso equilibrar-se no cordão umbilical da existência, sem rompê-lo. Quem conseguir chegar ao outro lado, ao útero que o condenou ao exílio, saberá ser daquilo que sempre foi, o complemento.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cotó ou com os braços para trás?

Cô, agora eu estava olhando com calma para os bonequinhos que nos representam... ali, ó, no alto, à direita.
Filosofia de boteco: eu suponho que eu esteja com os braços para trás. Suponho. Mas se a gente olha de novo, não parece que o bonequinho não tem os braços, senão apenas o cotozinho, lá nos ombros, ou nem isso?
E aí eu parei para pensar no ser-humano que não pode ser simplesmente ele. Quem não pode ser o que está fadado a ser, quem não preenche o 'abismo entre o que é e o que deveria ser' fica igual àquele bonequinho: não dá pra saber se não tem os braços ou se simplesmente não os pode usar, ainda que os tenha.
Um minuto de silêncio para que reflitamos sobre o que de fato somos, e sobre se nos permitimos ser isto, apenas isto.

Tabela Periódica

Cô, faz tempo que eu saí da escola, e há coisas de que não me lembro mais, mesmo que deseje muito. Eis a minha dúvida, neste momento: o que é que a gente precisa comer, mesmo, para só expelir gases nobres? Ou talvez gases nobres sejam apenas os da Rainha Elisabeth? Se ela soltar 6 por dia vai de Argônio a Xenônio? Nestes casos não há o ir de A a Z? Ajude o seu tio, por favor.

Ração Humana

Pois é, Cô. Agora virou moda aqui nas plagas tupiniquins a tal da ração humana.
Na verdade, lá naquela cidade com que nós dois temos vínculos começou bem antes. Explodiu para os lados de cá faz menos tempo.
Enfim, isto é outro papo.
Hoje comprei ração humana para jogar no baldinho de iogurte.
Comecei a comer aquele macerado e pensei: agora vou engolir o pâncreas, moído; depois vêm os rins, triturados. E tome fígado, baço, miolos... comecei a criar um açougue na minha cabeça fraca. Deu nojo.
Liguei a TV, começava o Jornal Nacional.
...
Acho que a imprensa se alimenta de ração humana há mais tempo que nós, os comuns mortais.

terça-feira, 6 de julho de 2010

(IN)finito.



Pior do que a crise económica, é a crise moral. Ao contrário da primeira, esta é silenciosa. Ao contrário da primeira, a fome que a segunda provoca não é física, nem pode ser saciada com lacticínios. Ela tem a ver com o espírito. Espírito que controla a mente que, por sua vez, comanda o corpo - carne mergulhada em micróbios, vírus e secreções.

Em nós, existe dois tipos de deterioração: aquela que ocorre de fora para dentro - quando um corpo é abandonado, desprovido de cuidados, e antes mesmo dos órgãos deixarem de funcionar, as moscas, larvas e até mesmo animais selvagens o dilacera; E o apodrecimento ocorrido em sentido oposto. Este último, por sua vez, estou certa de que acontece com mais frequência. Ele não envolve larvas, nem se encontra necessariamente ligado aos meios mais pobres. O que é débil não é o corpo, mas a alma que é desnutrida. Não são os órgãos que deixam de funcionar, mas é o espírito que deixa de ter comando sobre a mente. E quando isso acontece, o nosso cérebro torna-se num albergue aberto a todos e quaisquer tipos de pensamentos, fazendo com que os nossos demos – outrora chicoteados, hoje algozes – façam a festa.

 A crise moral dá-se quando o nosso avesso se transmuta num campo de batalha. Quando aquilo que resta do nosso organismo desenvolve anti-corpos, tendo como objectivo a expulsão da podridão que alimentamos. Podridão que não deixa de ser aquilo que realmente somos, pois ela sempre lá existiu antes de nossa alma ser açoitada pelo lado mais dark dela mesma. Ou seja, somos nós contra nós mesmos. Nós com alma, nós sem alma, nós porventura desalmados. Desarmados. São os nossos valores universais – partindo da premissa de que somos todos pequenos universos voltados para dentro de si mesmos, e infinitos até encontrarmos o nosso princípio – lutando contra o lixo espacial que nos invade por todos os lados.

O espírito, quando devidamente são, funciona como uma peneira. Ou, então, como um abutre: recicla o que não presta, transformando o que é prejudicial em algo bom. A verdade é que ainda não conheci uma pessoa que nunca se tenha debatido com os seus próprios valores, ou se confrontado com a falta deles. Que não se tenha olhado ao espelho, e indagado o que era feito da alma. Ou então, em casos mais drásticos, em que tenha chegado tarde demais. Mas chegado aonde? Como foi dito, eu posso ter um pouco mais de metro e meio, mas de alguma maneira o meu universo é infinito. E quanto maior for o universo, mais difícil será encontrar o vértice no qual se iniciou a deterioração.

Shakespeare, sonnet CXLIV

Two loves I have of comfort and despair,
Which like to spirits do suggest me still:
The better angel is a man right fair,
The worser spirit a woman colour'd ill.
To win me so on to hell, my female evil
Tempteth my better angel from my side,
And would corrupt my saint to be a devil,
Wooing his purity with her foul pride.
And wether that my angel be turn'd fiend
Suspect I may, yet not directly tell;
But being both from me, both to each friend,
I guess an angel is another's hell:
Yet this shall ne'er know, but live in doubt
Till my bad angel fire my good one out.


Versão: Sugestão de Jean Valjean

Vozes que de conforto e derrocada
Gritam-me dentro d'alma, esta em conflito:
Meu anjo-bom é homem gentil, bonito;
Meu anjo-mau, u'a fêmea intemperada.
Quer me levar, a fêmea, ao Pandemônio,
Tentando o gênio-bom, o meu confrade;
Quer fazer, deste, assecla do Demônio,
Tisnando o puro ser com sua vaidade.
Suspeito eu, a mente turva, em briga,
Que o anjo-bom não é mais ser-superno.
Estando ambos em mim, eu é que diga:
Acho que os anjos são, um do outro, o inferno.
Só um modo há, de saber, e é este, enfim:
Quando o anjo-mau expulse o bom de mim.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Método Francês (?)


Aí você entra na lavanderia e está escrito: "método francês".
O que será? Eles pegam a camisa, do jeitinho que estiver, e enchem de Chanel?
Ué, pode ser, né? Duas funcionárias erguem as mangas da camisa, a outra mira o Chanel sei lá que número nas axilas e pfffff, pfffff, pfffff.
15 minutos depois a camisa está pronta para ser usada.
E se for calça?
...

domingo, 4 de julho de 2010



Meus pensamentos são onomatopeias.
Gritos que se confundem com suspiros;
Pedidos de socorro e consoantes acidentadas
Numa estrada onde o trânsito é proibido.

A sinalização é sempre a mesma:
« Proibido Pensar» escrito com tinta vermelha.
Mas sempre que me perco entre as curvas
E contracurvas dos meus abismos,
Os meus demónios desatam aos guinchos.

Penso porque o meu cérebro
Não funciona de outra maneira:
Meus pensamentos são carros sem freio
Que batem nos postes dos meus precipícios.

A voz que ouço não é a mesma
Que me açoita a garganta.
E meus dentes mastigam um silêncio
Que não quer ser cuspido.

No fundo, eu sou a ponte
Entre aquilo que sou
E o que deveria ter sido.