terça-feira, 12 de julho de 2011

Sonho inútil.

Então, aí eu sonhei que tinha um bebê nos braços, ainda com a placenta, e que alguém me dizia:

- Você deu a luz ao filho do Diabo!

Eu ficava olhando, atónita, para a figura que se encontrava ao meu lado esquerdo, enquanto ela continuava, tranquilamente:

- Ele é o filho do Diabo, você deu a luz ao filho do Diabo.

Daí eu lembro de ter começado a bater na criança, querendo matá-la, ou então querendo fazer com que ele não fosse o filho do diabo.

Sei lá, só sei que dei umas porradas no bebê. Mas ele não tinha cornos nem estava pintado de vermelho. Era mesmo uma criança, branquinha, olhando para mim.

Não me lembro do resto. Acordei com o coração acelerando e fui fazer xixi.

Eram seis da manhã.

Sentei na cama e pensei:

« Puta que pariu... preciso de sal grosso.»

Contei para a minha mãe, e ela disse para eu rezar.


Ri.

Preferi ir para a janela comer Nutella com bolachas maria. 

Dar o seu máximo a quem se contenta com o suficiente é pior do que dar o seu melhor a quem não se contenta com o seu máximo. Porque o excesso é lixo, e para o «resto» não há valor.



domingo, 3 de julho de 2011

Edmond amava uma mulher que - mesmo sem saber - não se amava.
Aos poucos, entregava-se a ela, em atos legítimos e verdadeiros; e quanto mais se entregava, mais causava a ela estranhamento: "se eu não me amo, como ele pode me amar?"
A sina dos que não gostam de si mesmos é não acreditarem que alguém possa deles gostar e, pior ainda, gostar do que eles não gostam, em si.
E a sina dos que gostam dos que não gostam de si mesmos é a mesma, sempre: serão descartados.
Quem SE descarta há de também descartar tudo o que interfira com seu verdadeiro EU.
O ser que não gosta de seu ser-real (embora não seja possível conhecer tal ser-real por inteiro) precisa (subconsciente) de alguém que de alguma forma ponha em segundo plano aquele ser-real.
Se não gosto de meu ser-real, ele é irreal; quem gosta do irreal não existe.
Edmond percebeu isso desde logo, e assim "profetizou" (inferiu, logicamente) a sua exclusão.
Muitas vezes o que se pensa ser mito é tão real que parece mítico. É como se o real e o mitológico fossem o encontro dos "extremos" do planeta - redondo -, que só é ele mesmo, no que pensamos sejam as suas extremidades. E o que parece muito distante pode estar (e está, de fato) ao lado. Ou no mesmo lugar.
A realidade e o mito serem confundidos, a todo tempo, não é culpa nossa; apenas está além de nosso alcance.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

O 'não', dito na hora certa...

Quando terminei meu último relacionamento, ele já estava acabado fazia muito tempo.
Eu a chamava para falar isso, mas ouvia coisas do tipo:
- Não venha me machucar com essas coisas!
- Vá pensar melhor antes de dizer isso!
E o tempo foi passando. Não havia diálogo sobre isso, mas apenas atritos. Não podia me abrir. Não podia dizer que não dava mais.
Hoje penso: deveria ter 'machucado', deveria ter dito, e pronto.
Ela teria sentido uma dor (talvez forte), na hora, mas isso depois teria sido assimilado, a dor teria passado, o tempo a amenizaria, enfim. Mas não. Eu fui pedindo tempo, tempo, tempo...
Com medo de magoar, acabei magoando mais.
Às vezes achamos que vamos poupar uma pessoa, escondendo-lhe informações. Hoje vejo que não. É melhor informar logo, para a pessoa também poder se defender.
Àquela época, quando eu vi já gostava de outro alguém. E não havia falado para minha 'ex' que com ela não era mais possível.
E há coisas que você tem que dizer na hora certa. Passada aquela hora, muito mais saudável não dizer mais nada.
Não penso nunca em voltar no tempo; contudo, se pudesse voltar no tempo olharia hoje para o rosto dela e diria:
- Desculpe, só gosto de você como irmã, hoje em dia. Mais nada.
Ia haver choro, ia haver vela, ia haver cinzas, mas eu estaria com a consciência tranquila para recomeçar.
Já foi. Há páginas do passado que são escritas com tinta indelével; contudo, se isso tenha que acontecer de novo, no futuro, nunca mais será assim. Será verdadeiro. Será um 'nêga, não dá mais de verdade' (O MOMENTO DO SURTO NÃO VAAALEEEE, APAGA!), dito depois de muito diálogo, de muita reflexão em conjunto, de muita elocubração e discussões. Mas é melhor do que fazer como eu fiz.
Maldito não, que a gente NÃO diz quando deve, e DIZ, porém quando NÃO DEVE.
Merda, merda, merda, merda, merda!

sábado, 4 de junho de 2011


Antes, mas bem antes mesmo, eu era capaz de dizer que quem machucava mais era aquela pessoa que não se importava, mas fingia que sim. Porém, de uns meses para cá, eu cheguei à inevitável conclusão de que estava enganada. Quem se importa, e finge que não, consegue provocar uma dor bem mais profunda do que a primeira. Pelo menos em mim.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

When I look into my eyes, I can see something that's not my soul.

pois é...

ah bicho, eu tou tão, mas tão ferrada!
Por isso, tenho lido, mas não tenho dito nada...

um beijo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Direito



Uma vez eu falava para uma classe sobre separação e divórcio.
Uma senhora, provavelmente afeita a alguma religião (não perguntei), disse algo mais ou menos assim:
- Se disse sim naquele dia, é porque queria. Depois não pode voltar atrás!
Eu só respondi a ela:
- Mas minha senhora, o sim dito num determinado dia e local, e por algum motivo muito especial, às vezes a vida cuida de transformá-lo em veemente não.
E ela, inflexível:
- Se disse sim é sim, e não se discute mais!
Eu pedi desculpas e disse a ela que não queria (nem podia) discutir dogmas; estava lá apenas para falar de nossas leis. Só que não resisti e perguntei:
- A senhora é casada?
E ela, risonha:
- Graças a Deus, não!
Oooopaaaaaa!

sábado, 28 de maio de 2011

Vergonha de ser como sou

É, sobrinha... eis-me aqui, para novamente desabafar.
Você tem o peso da idade em seu favor. Os largos anos de experiência espiritual que eu não tenho. Sou mais velho nesta vida, você é mais velha de outras vidas.
Eu sou um perfeito idiota. Sou burro, meu quociente emocional é baixíssimo: quase um in-quociente emocional. Eu reincido nos mesmos erros desde sempre, e há algum tempo, mas bem pouco, venho tentando mudar isso que sou. Só que não é fácil. O justo erra 7 vezes ao dia, eu erro 700 e, como o iníquo (que não julgo ser), tropeço nos meus males, enredo-me, fico lá emaranhado e... nada de sair da minha pegajosa teia.
Às vezes a gente faz coisas que sabe que não são certas, mas vai lá e faz. Há quem faça e ache certo, e para essas pessoas, fazer tais coisas não traz sofrimento; porém, para quem sabe que não são certas, o tão-só fato de fazê-las já gera sofrimento.
Eu sei que posso errar. A situação para que eu erre aparece; eu prometera, antes, que não erraria mais. Só que, com a situação à minha frente, eis que erro de novo. A ocasião não faz, mas revela o ladrão.
Estou roubando a minha saúde, estou roubando a saúde alheia. Estou roubando a minha tranquilidade e a tranquilidade alheia. Estou roubando ao tempo valiosos minutos e horas impagáveis. Estou ocupando espaço sem função social.
Sinto-me um pária, e o problema não é sentir-me assim. O problema é que eu deveria estar em redenção, mas eu me vejo irredempto (não resisti ao castiço).
Até que ponto um Homem pode conviver com o que é? Lembra Paulo de Tarso, quando caiu do cavalo, na estrada para Damasco, e ficou deslumbrado (fenómeno óptico - nossa, Portugal me tomou a alma, hoje) a ponto de não mais enxergar por alguns dias?
Malcomparando, eu caí do cavalo com a minha pequenez (falta de autoconhecimento), e enxergar o certo é a luz forte que me deslumbra e também me cega. É como se fosse algo além do meu alcance, e eu um Tântalo estendendo os braços para os capitosos frutos duma árvore-de-salvação que se curva para o outro lado, a fim de eu não lhe 'subtrair' o que não posso, por alguma razão, ter comigo.
E assim vou vivendo e convivendo com esse serzinho diminuto, limítrofe, que sou. Cada novo passo é um novo medo; cada nova ensancha é uma nova queda. Não quero (nem posso - truísmo dizê-lo, mas tenho que ousar) ser perfeito, mas queria muito, muito mesmo, ser um pouco menos imperfeito.
Introjetar alguma coisa boa em mim parece algo do tipo querer encher o tonel das Danaides.
Ando cansado, bem cansado.
Precisava fugir de mim. Precisava do impossível, e eis aí a única saída que vejo para que minha vida se torne factível.
Sabe como é?
p.s.: SERÁ QUE A DAMA DE CINZAS JÁ SE SENTIU ASSIM?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O que as religiões me incutiram?

Só o medo da imortalidade. Não fosse isso, eu já estaria lá para conferir.
Covarde até para isso.

Parodiando Ahmanda Marques

Porra nenhuma vale a pena, seja a alma grande ou pequena.
Hoje, quem vier me falar que existe felicidade leva um murro na cara.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eu sempre fui meio ‘desligada’ das pessoas. Mas a cada ano que passa tenho reparado nesta crescente necessidade de afastamento e alienação social. Não, não me estou tornando ‘antissocial’ (novo acordo?), mas apenas fazendo a distinção daquilo que é realmente (re)aproveitável, daquilo que é entulho. E a verdade é que, feita a reciclagem e espremidas as laranjas, o sumo que resta não mata 1/3 da sede que sinto por dentro.

sábado, 21 de maio de 2011

Gay ou não gay, eis a questão

Sobrinha, sei que você vai me atenazar por isto, mas vamos lá:
Se todos somos iguais, pressuponho que todos tenhamos os mesmos direitos, desde que não subtraiamos os do próximo, desde que não lhe invadamos a privacidade, etc.
Pois bem, aceitas tais premissas, o direito de 'ser eu mesmo' é apanágio do ser-humano. É preciso que eu seja o que sou, entendida tal prerrogativa como absoluta.
O 'conhece-te a ti mesmo' implica, necessariamente, haver o 'eu mesmo'. E Píndaro, que nos disse o 'torna-te o que és' parte do pressuposto de que somos, sim, algo/alguém.
O direito de amar é-nos tão inerente, que eu diria ser imanente n'alma.
E eu não sou homem, e você não é mulher, mas nós todos somos espíritos e, como tal, pensamos, sentimos, e hemos de ter toda a liberdade de expressão desse 'nós mesmos'.
Aí fica a minha questão: por que as pessoas se preocupam tanto com a sexualidade das outras?
Se a sexualidade é emanação da personalidade, negar-se a alguém a sua sexualidade é negar-se-lhe a própria individualidade.
Eu não sou heterossexual ou homossexual senão nos dicionários, no catequismo desenxavido das religiões, nos manuais dos psicanalistas (para bom ou mau uso) e nas classificações tirânicas que herdamos de nossos ancestrais. Eu sou eu. 'Ego sum qui sum', 'I am what I am', e não é possível que a lei não me garanta isso.
Se eu sou minoria? Hm... Aristóteles, em um de seus brilhantes ensaios, disse que é da isonomia tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, justamente para que se possa igualá-los.
E a 'sociedade' vem, e elege o que é certo e o que é errado, mas com base em pré-conceitos mal-estabelecidos, porque não pensados, ou então fincados em raízes religiosas tirânicas, ou então em preceitos que se diziam religiosos mas não eram nada além de leis locais com sanção supostamente divina. Imagine o pecado de comer carne de porco porque há vermes que, se a carne não estiver devidamente cozida, podem matar o Homem. Lembra das tênias? 'solium' e 'saginata'?
Há também o casamento sorodato, que virou 'lei divina' porque era necessário manter a família, o patrimônio, a ideia 'feudal'. E há, conforme o local, dependendo da necessidade social, a proibição ou o estímulo à poligamia.
O medo de doenças venéreas levou a várias proibições de prosápia religiosa, e a punição seria divina. A igreja católica, por exemplo: ela não quer que nós simplesmente não usemos camisinha. Jamais: ela quer que não forniquemos.
Imagine tomar essas normas todas ao pé da letra, e imagine o que temos hoje, em termos de 'regras comuns' sobre o que se pode e o que não se pode fazer.
Por que a sociedade aceita melhor 'o galinha' do que 'a piriguete'? E por que é melhor ser 'um pegador' do que ser... (detesto a expressão, pois é um rótulo) gay?
Nelson Rodrigues diz que se os Homens conhecessem, uns, a vida sexual dos outros, não haveria 4 amigos na face da Terra. Acho que ele parodiou Pascal, que havia dito, em Pensées, que se os Homens soubessem o que falam, uns dos outros, não haveria os tais 4 amigos.
Termino com uma questão: será que precisa tanta balbúrdia na mídia em virtude das permissões e proibições ao 'casamento gay', ou a mídia simplesmente aproveita o fato, como aproveita sequestros, assassinatos, escândalos, para ganhar dinheiro?
Francamente, pouco me interessa se aqui do meu lado, no outro apê do andar, há gays ou heteros. Só quero a garantia de que ninguém vai invadir ou me privar dos meus direitos como ser-humano.
PRONTO, EU DISSE! AGORA VEM E ME CRUCIFICA!

domingo, 15 de maio de 2011

Toda vez, Cô, toda vez que vou à casa de meus pais, eu me sinto sugado!

É incrível, meu! Eu chego lá, os dois "vêm para cima" de mim e ficam lá me rodeando. Querem saber o que ando a fazer da vida, quanto estou pesando, quanto tenho trabalhado, se estou comendo corretamente, enfim, aquelas coisas bestas que não vão fazer a menor diferença.
Fico indignado, pois poderíamos conversar; contudo, eu acabo respondendo a um inquérito policial absolutamente rigoroso e, tanto quanto duro, improfícuo; assim, enervo-me e acabo indo embora sem que tenhamos dialogado.
Assim, uma visita aos pais, que deveria ser algo agradável, acaba sendo excruciante.
Agora me responda você, SFS: QUANTOS ANOS EU TENHO??
Se não lembrar, olhe no meu perfil... (hehehe)

sábado, 14 de maio de 2011

Homens...

Se lhe dou importância, ele age como se não se importasse.
Se finjo que não dou importância nenhuma, ele responde com indignação e visivelmente perturbado.

É, depois são as mulheres que são complicadas....


Ai são(?)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Picos e vales

Entre o ser e o não ser vou levando a vida. E essa incrível ciclotimia é diária, incomoda, atrapalha o entendimento, o equilíbrio, tudo, enfim.
Se me perguntam o que sou, digo que não sei. Mas sei que sou e não sou.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Até ultrapassá-los, ninguém conhece seus próprios limites. Eu já ultrapassei alguns. Morais, a maioria deles. Com consciência de que o estava a fazer. Nada imaginam, os que estão de fora. Elogiam-me com uma venda nos olhos. Confidenciam seus mais íntimos pecados porque, sei lá eu a razão, transmito uma imagem de confiança. Enquanto que, ao meu ver, tudo em mim é questionável e, por vezes, até mesmo deplorável, para eles não há nada a apontar. É curioso isso. Essa coisa de « carácter» Como é que julgam conhecê-lo, se eu não soube o que isso era até limpar os meus pés por cima dele?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Justiça com as próprias mãos

Cô, aqui no Brasil é crime. Chama-se 'exercício arbitrário das próprias razões'. Não duvido nada de que aí também seja, pois o Brasil copiou grande parte de suas leis de países mais desenvolvidos. Mas não é disto que quero falar.
Olha, Cô, olha: você já pensou se um dia (um dia de fúria) a gente pudesse pegar uma arma e sair atirando, não só para matar. Não. Para debelar mesmo, e muito. Não estou falando em mortes isoladas, mas em genocídio. Se a gente pudesse pegar uma R15, ou algo melhor ainda, e ir com ela atrás das pessoas que entendemos sejam culpadas, e simplesmente exterminá-las? E se depois pudéssemos pegar um carro maciço, pesadíssimo, inabalável, e pudéssemos, com ele, ir amassando todos os carros que estivessem descumprindo as leis de trânsito, impedindo o nosso caminho, ou então simplesmente nos incomodando?
Era só rezar para não nos pegarem antes (qualquer outra pessoa em fúria), e talvez o resultado nos levasse ao mais paroxístico prazer que um ser-humano já sentiu, ou então ao suicídio, pela dor na consciência.
Lembra do bombardeio em Bagdá? Das torres-gêmeas? de Saddam Hussein? Hitler? Mussolini, etc.
Parece que agora pegaram o Bin Laden (como se pegar um cara adiantasse alguma coisa).
Já pensou se se desse ao Homem o direito efetivo, agente, inalienável, de ser, mas completamente, sem restrição alguma, o lobo do homem?
Talvez, mas só talvez o mundo se concertasse e se consertasse. Fora isso, vai me dizer que está bom, muito bom, do jeito que está?

Mais dúvidas

Por que é que nós vivemos como se fôssemos eternos?
Pior: como se fôssemos eternos aqui. Vá lá que sejamos eternos em outro canto, em outra dimensão. Não sei. Nem faço questão, hoje em dia, de saber, pois quando fiz nada mudou - continuei em dúvida.
O problema é que vivemos como se fôssemos durar para sempre, neste corpão material pesado, neste planeta azul borrado de cinza(s), de sangue, de dor...
Why?

Não entendo...

Pois é, sobrinha, pois é...
Um cara e uma moça que eu apresentei há quase um ano terminaram.
Para o mundo, queriam mostrar que tudo estivesse bem, muito bem; entretanto, a coisa estava a degringolar.
Um belo dia, ao que tudo indica, ela arrumou um sujeito, e foi um susto para ele (o cara, não o sujeito).
Hoje, o cara acompanha pelo Facebook os 'diálogos' (quiçá de Adão e Eva) entre ela e o sujeito que ela arrumou.
Estou boquiaberto. Parece que o cara tem lá suas culpas, mas, que eu saiba, ele não sabe (i) que as tem, (ii) quais são e (iii) o tanto que aquilo incomodava a moça.
Minhas perguntas: por que é que duas pessoas que estão num relacionamento sério não falam, uma para a outra, o que está se passando em seu mundão interior? Cada um tem um mundo só seu? Não era para serem um 'nós', em vez de um 'nó'?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aí o meu avô disse que não viaja de avião porque tem medo de morrer. Disse que já não sobe tão frequentemente a sua rua porque dói-lhe as costas. Porque dói-lhe os ombros e as pernas, e porque pode morrer. Às vezes eu tenho a impressão que esperar a morte tem sido o seu principal propósito de vida. Que eu saiba, foi logo após ele ter sofrido o seu primeiro – e único – enfarte, há mais de duas décadas, que a morte tornou-se desculpa para ele não viver. É triste, mas ele ri. Talvez a ideia do seu próprio óbito lhe faça cócegas.

Assim fica diphícil!

Eu não entendo como que um Primeiro-ministro – que renuncia ao seu mandato, admitindo a sua majestosa incompetência perante todo o país - pode recandidatar-se para O MESMO CARGO! E entendo menos ainda como que um ditador disfarçado de Primeiro-ministro, prepotente, mentiroso compulsivo, corrupto, cruel e insensível consegue ter a mesma – ou ainda maior – audiência diante dos eleitores! C-O-M-O É P-O-S-S-Í-V-E-L? Já que não tenho direito ao voto, limito-me a lamentar. Ah Portugal, o que foi que fizeram contigo…

Com o tempo, deixei de querer saber o significado das coisas porque, com este mesmo tempo, descobri que estas mesmas coisas vão perdendo o seu sentido – seja lá o que esta palavra quer dizer. E se vão perdendo o sentido é porque nada é definitivo, e se nada é definitivo para quê saber o que as coisas significam? Não compreendo esta nossa mania de definição, visto ser o Ser humano a criatura mais indefinida que alguma vez conheci.
Já que não nos conseguimos definir – não por falta de palavras, mas por excesso de grandeza -, tentamos preencher este enorme ponto de interrogação com as reticências implícitas nas definições das pequenas coisas, e o problema está justamente aí. Na compreensão do implícito.

O ser humano encontra-se subentendido naquilo que desconhece.
Quanto mais vago o autoconhecimento, mais subjectiva é a existência.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Maldição.



Tio, não te dá raiva quando você telefona para uma linha de «Apoio ao Cliente» para comunicar que determinado produto não está funcionando como devia, e a única coisa que esta suposta linha faz é passar a tua chamada para o fulano, o ciclano, o beotrano, para o filho da mãe maria, depois da mãe Joaquina, para finalmente o último filho da puta te dar uma solução que você já havia pensando antes e que, por sua vez, não resultou? E não te dá ainda mais raiva quando esse mesmo filho da putain te diz que afinal o problema é com eles e que o mesmo só será resolvido dali a alguns dias? E não te dá ainda mais raiva quando, passados esses mesmos dias, o tal produto continua sem sinais vitais? O quê você faz numa situação destas? Essa minha vontade de me tornar numa serial killer é anormal? O que fazer com esse desejo insano de os mandar todos para a puta que os pariu em árabe? Sim, em árabe! Ou de rogar-lhes uma praga em alemão, porque as palavras são muito maiores, e naturalmente surtem um efeito aterrador ao receptor? E, já agora, o que fazer com as minhas costelas? Hum? Diz prá mim.

A maldita prima.


Uma das poucas vantagens de se ir ao hospital está em encontrar situações caricatas como esta:
Velha:
- Ai meu Deus, meu deuzinho! Ajude-me, senhor! Eu nunca fiz mal à minha prima! Eu nunca lhe quis mal, Jesus! Que dor, doutor! Dói muito!
- Calma, minha senhora, eu nem sequer espetei a agulha ainda…
- AI MEU PAI! Eu nunca fiz mal à minha prima! Porquê Senhor, porquê? Eu nunca fiz mal a ninguém…a ninguém, doutor! Jesus Cristo, me perdoe, por favor! Ai a minha prima….
- Estique o braço e feche a mão, minha senhora.
-… priminha minha! Eu sempre cuidei tão bem dela! Ai meu Deus, eu nunca fiz mal à minha prima…!
O doutor espeta a agulha.
- AI MEU DEUS DO CÉU, AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA, AI A MINHA PRIMA!!
O doutor começa a tirar o sangue.
- Aiiiiiiiiiii! Aiiiiiiiii meu Deus que eu morro, doutor! Estou a morrer, eu vejo a luz doutor! Estou a vê-la! Ai a minha prima!
- Aquilo é uma lâmpada florescente, minha senhora. Agora fique quieta, por favor!
- Aiiiiiiiiiii doutor! Aiiiiii! Aiiiiii, dói muito! Ai a minha prima, a minha priminha querida! Eu nunca fiz mal à minha prima…! Ai meu Pai, ai…..ai…..ai a minha prima, doutor….!
O doutor tira a agulha.
- Ai…ai a minha prima…Arranje-me um ‘binhozinho’ doutor.
- Ora essa, a senhora está no hospital, é diabética e quer que lhe traga vinho! Ganhe juízo e vá dormir!
- AI DOUTOR, AI A MINHA PRIMA….!!

Quem assistia àquela cena, ria. Ainda hoje me pergunto o que é que a velha deve ter feito à prima, ou vice-versa…



Já me serviram tanto vinho ruim nestes últimos seis meses, que eu acho que quando me servirem um realmente bom, eu não vou gostar!

Ó eu aqui ó!



Então, já fazem uns bons milénios que eu não escrevo coisa alguma aqui. Mas não é falta de vontade não. É falta de coisas interessantes para se dizer. Não que tudo aquilo que já disse tenha sido alguma vez interessante, mas é que nos últimos tempos eu tenho desfrutado de um vácuo mental aparentemente interminável. E o interessante de tudo isso é que o vácuo pesa.
Outro grande motivo de não ter voltado a postar coisa alguma é a minha vida (?) social Coimbrã extremamente atribulada, cheia de altos (?) e baixos (!) Aliás, a própria cidade é cheia de altos e baixos, subidas e decidas, de degraus – alguns soltos, outros tortos, outros cheios de vómitos da madrugada anterior – intermináveis que te destroem os gémeos e te fazem transpirar e feder que nem um trabalhador de uma mineira. Concluindo: hoje tenho a mais pura certeza que, quando Deus resolveu brincar de me fazer, baseou-se em Coimbra.
Daí, o meu tio me chamou de ingrata pela bilionésima vez. Eu acho que já é algo automático. Ele me vê ausente (!) no MSN e associa o meu ‘status’ a uma ingratidão existente apenas naqueles neurónios vaidosos. Aí, ele dá dois cliques lá no meu nomezinho, e escreve a primeira besteira que lhe vem à cabeça. Do género: “ E aí, tá ‘dando’ muito?!” Eu, por minha vez, olho para aquilo e me indago: O «normal» não seria o ‘cota’ dizer: “ Então sobrinhazinha linda do meu coração, eu sei que o tio tem estado SUPER ausente – aliás, como sempre esteve – e que, juntamente com sua senha, esqueceu-se também que tinha uma sobrinha, e peço imenso perdão por isso. Como você está? Tudo bem? E os estudos?” E assim a conversa se iria construindo graciosamente, como qualquer outra conversa familiar! Mas não! O cara é sórdido, creia!
«Juntamente com»? Como assim? ‘Juntamente’ já é ‘com’. ‘Com’ já é ‘juntamente’. Que coisa idiota.
Daí ele lembrou qual era o e-mail e a senha. LEMBRA seu ingrato? Lembra quando eu te perguntei: “ Bicho, o teu e-mail não começava com o teu nome?!” E você respondeu: “ Nãaao! é claro que não!” E eu fiquei quieta, convencida de que tinha enlouquecido.
E ingrato é você tá? Que é pró na arte de me deixar falando sozinha!


Seu gagá!

Passar bem!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pô, sobrinha, lembrei a senha!

Que Kapa-ralho, viu? A gente vai se aprochegando dos 50 e, quando vê... não vê mais quase nada, não ouve mais quase nada, não lembra mais de p* nenhuma e... o que eu ia falar, mesmo?

Sobrinha, você tem valorizado os seus enquantos?, os aindas?, as eternidades que há em cada átimo bem vivido? Se não tem, darling, faça isso, pois o tempo passa rápido demais, e aí, nêga, v. vai ver que as conjunções temporais e os advérbios também se conjugam no passado. Não faça como eu, porque o meu enquanto enquantou e enquantara; o meu ainda aindou e até desa(i)ndou, e as eternidades foram emborcadas num eterno sumidouro.

E agora? A propósito, o que é o agora, que se perde no tempo assim que o pronunciamos como palavra?

Think about, tá?

sexta-feira, 4 de março de 2011

Poema El Pozo de Pablo Neruda


A veces te hundes, caes

en tu agujero de silencio,
en tu abismo de cólera orgullosa,
y apenas puedes
volver, aún con jirones
de lo que hallaste
en la profundidad de tu existencia.

Amor mío, qué encuentras
en tu pozo cerrado?
Algas, ciénagas, rocas?
Qué ves con ojos ciegos,
rencorosa y herida?

Mi vida, no hallarás
en el pozo en que caes
lo que yo guardo para ti en la altura:
un ramo de jazmines con rocío,
un beso más profundo que tu abismo.

No me temas, no caigas
en tu rencor de nuevo.
Sacude la palabra mía que vino a herirte
y déjala que vuele por la ventana abierta.
Ella volverá a herirme
sin que tú la dirijas
puesto que fue cargada con un instante duro
y ese instante será desarmado en mi pecho.

Sonríeme radiosa
si mi boca te hiere.
No soy un pastor dulce
como en los cuentos de hadas,
sino un buen leñador que comparte contigo
tierra, viento y espinas de los montes.

Ámame tú, sonríeme,
ayúdame a ser bueno.
No te hieras en mí, que será inútil,
no me hieras a mi porque te hieres.

L. F. Veríssimo

Brincadeira

Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:
-"Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
-Como é que você soube?
-Não interessa. Sei de tudo.
-Me faz um favor. Não espalha.
-Vou pensar.
-Por amor de Deus.
-Está bem. Mas olhe lá, hein?
-Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
-Sei de tudo.
-Co-como?
-Sei de tudo.
-Tudo o quê?
-Você sabe.
-Mas é impossível. Como é que você descobriu?
-A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
-Alguém mais sabe?
-Outras se tornavam agressivas:
-Está bem, você sabe. E daí?
-Daí, nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
-Se você contar pra alguém, eu...
-Depende de você.
-De mim, como?
-Se você andar na linha eu não conto.
-Certo.
-Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
-Eu sei de tudo.
-Tudo o quê? Você sabe.
-Não sei. O que é que você sabe?
-Não se faça de inocente.
-Mas eu realmente não sei.
-Vem com essa.
-Você não sabe de nada.
-Ah, quer dizer que existe alguma coisa para saber, mas eu é que não sei o que é?
-Não existe nada.
-Olha que eu vou espalhar...
-Pode espalhar que é mentira.
-Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
-Qualquer coisa que você espalhar será mentira.
-Está bem. Vou espalhar.
-Mas dali a pouco veio um telefonema.
-Escute, estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.
-Aquilo o quê?
-Você sabe.
-Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava:
-Você contou para alguém?
-Ainda não.
-Puxa. Obrigado.
-Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.
-Porque eu? - quis saber.
-A posição é de muita responsabilidade - disse o amigo. - Recomendei você.
-Porquê?
-Pela sua discrição.
-Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos mas nunca abria a boca pra falar de ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:
-Sei de tudo.
-Co-como?
-Sei de tudo.
-Tudo o quê?
-Você sabe.
-Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia remota. Os vizinhos contam que numa noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que mais se ouvia era a dele, gritando:
-Era brincadeira!Era brincadeira!
-Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
" Sabia demais"


Luís Fernando Veríssimo

Fui a Porto Alegre

Não voltei de bombachas, não botei a boca no canudo de chimarrão. Nada. Estou aqui. Só.
E é só.

domingo, 28 de novembro de 2010

Dor: de 2005 - Jean Valjean


Há a dor que aponta, espanta, arde, urra, queima

E a gente agüenta, que ela perde a fúria;

E a gente esquece e volta à vida, à incúria,

Porque a vida, sem dor, em viver teima...


Há a dor que esmaga, espanca e lança injúria,

E quer viver pra sempre, e mata a fleima,

E a gente perde o senso, e só a toleima

Nos dita a vida, aos cantos da lamúria...


Um dia ela se vai, e a gente fica.

Há a dor, porém, que é mais, bem mais que nós:

A dor que fica e que nos cala a voz;


A dor que, de viver, jamais abdica:

Um dia ela nos acha, abraça, envolve...

Viemos do pó, e ao pó ela nos devolve...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dar ouvidos a quem não tem palavra é deixar de merecer o dom de ter ouvidos.

Dar crédito a palavras de quem não merece crédito é emprestar dinheiro ao sabidamente insolvente ou ao estelionatário?

É burrice, e não maldade

Não consigo acreditar, quando alguém recém-chegado fala mal de mim para pessoas que me conhecem há um decênio, que essas pessoas acreditem... é burrice, e não maldade, de quem crê; é maldade (e burrice também?) de quem fala.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fuso Horário.

Tá tudo sossegado, hoje. Sei lá, tudo quieto com uma quietude que me inquieta. O dia está com a mesma tranquilidade que se sente quando estamos dentro do olho do furacão. Tudo parece estranhamente sossegado, e eu estou só à espera daquele segundo que destrói tudo. Às vezes, me dá vontade de ver tudo destruído. Tudo mesmo, para ser obrigada a começar do zero. Mas do zero mesmo. E é preciso mergulharmos nos destroços para chegarmos ao ponto de partida. Há dias em que sinto o meu cérebro deteriorando-se de dentro para fora. Se auto-destruindo porque dentro dele pouco ou nada se aproveita. Quem me dera viver sem cérebro. Quem me dera ser eu a construí-lo. Ter o total poder de saber somente aquilo que me convir, facultando-me o direito de na infinita ignorância sobre aquilo que bem me apetecer.

Ah, que idiotice.
Isso é tudo para dizer que estamos com 2 horas de diferença.

Que o Senhor tenha piedade de vós, porque eu não tenho.

sábado, 16 de outubro de 2010

Ai a minha vida....!



Tio, mudei de casa. Fui para uma república mais próxima da faculdade. A república tem três andares: no primeiro, vivem 3 estudantes que ainda não conheço muito bem. No terceiro, vive a senhoria. No segundo, somos cinco! Eu e a Marta no maior quarto da casa. A Ana, noutro. A Patrícia, noutro. E a Rita, noutro. Depois temos a sala, a cozinha cuja segunda porta irá dar para o primeiro andar e o banheiro/casa-de-banho.
Até aí, tudo bem. O problema é que essa semana que passou foi meio negra...Eu disse «meio»? Hum...

1) Cheguei no domingo. Fui com o meu pai e a minha tralha dentro do carro: computador, malas, sacos, saquinhos, sacolinhas, cobertas, etc. Depois de nos termos perdido em Coimbra ( aliás, como sempre acontece com o meu pai, apesar de lá dar aulas), e depois de esperarmos 40 min. lá fora, pois não havia ninguém em nenhum andar e tivemos de esperar pela Patrícia, finalmente começamos a descarregar as coisas do carro.
Ok, quando eram umas 20hrs, o meu pai, depois de ter instalado o computador,  se despediu e eu finalmente pude (pensar em) descansar. Mal sabia eu que, após 20 min. a contar do momento em que ele se foi, ficamos sem net. A casa INTEIRA ficou sem net.

Quis morrer!

A senhoria estava em viagem e ainda não havia data de retorno. O papel que ela deixara afixado junto das «normas da casa», era sobre a internet sim, mas não havia nenhum número que pudéssemos contactar para o caso de imprevistos.
Desesperadas, começamos a desconectar tudo e a tornar a ligar, esperançosas de que a bendita fosse reestabelecida. Que nada! Foi assim na segunda, na terça...E eu com um mundo de coisas para fazer! Os avisos, exercícios, enunciados de trabalhos, TUDO, mas tudo MESMO, são colocados online.
De repente, por causa desta coisa chamada «internet», oito criaturinhas dos seus 18 aos 27 anos começaram a ver suas vidas andarem para trás...

- Às quartas, o meu pai dá aulas na Faculdade de Engenharia, em Coimbra. Passou lá em casa, levou cabos, arrastou mesas, rogou pragas à senhoria desaparecida. Nada resultava. E eu danada da vida...

- Ah, esqueci de dizer. Na terça-feira de manhã, estava um frio de morrer. Coloquei uma meia-calça, calça comprida, blusa de lã, casaco e um gorro para não ficar com dores de ouvido. À tarde, fez um calor absurdo (absurdo porque estamos em pleno Outono, e não é suposto o Outono ser pior do que o verão).
Tirei o casaco e o gorro, mas a maldita meia-calça eu não podia tirar. No fim da tarde, comecei a sentir uma coceira na perna esquerda. Mas uma daquelas coceiras que dá vontade de pegar uma lixa de lixar mesas de madeira, e esfregar na perna!
Quando cheguei em casa, tirei tudo e finalmente vi o que já suspeitava: estava toda empipocada...

- Voltando à quarta. A verdade é que o meu pai ficou até as 23hrs tentando reestabelecer a internet, mas não conseguia porque precisava da password e do nome de quem havia assinado o contrato. Ligávamos à senhoria, e ela não atendia. Resumindo: tive que dormir de quarta para quinta em Aveiro, pois na quinta tinha um trabalho para entregar que, por estarmos incomunicáveis com o universo, não tinha chegado a começar...

- No dia a seguir, vi que a minha mão direita estava começando a ficar como a perna esquerda. Não queria acreditar! Só faltava mais esta! Entreguei o trabalho por e-mail, e retornei à Coimbra. As meninas ainda não tinham internet.

- Na quinta, a maldita senhoria finalmente disse que no dia a seguir estaria de volta. Contamos o que havia acontecido e ela, sonoramente perturbada, disse que logo resolveria o assunto.
Nesse dia, saí. Ah, queria lá saber! Sem net, com a vida em atraso e cheia de alergia ao calor, passei a noite bebendo Martini, cerveja, vinho e absinto. Voltei para casa às 4 da manhã.

- Na sexta, como que por milagre, a net foi reestabelecida. Saltávamos de alegria! Às 14hrs fui embora para Aveiro: ressacada, com a vida ainda em atraso e morrendo de coceira.
À noite, encontrei a minha médica ( Viu, tio? MÉ-DI-CA!), e ela me disse que realmente tive uma reação alérgica e me passou dois remédios para tormar.


Mas esta semana também teve momentos cómicos, principalmente na cozinha:

Patrícia: - Ai Cô, eu não sei fazer arroz! Ou fica duro, ou fica uma sopa!
Eu: - Então é porque ainda não acertaste na medida de água.
P.; - O que é que fazes com a água do arroz?
Eu, visivelmente perturbada: 
- Como assim?
P. : Então, eu jogo a água fora! Comes o arroz com a água?

Ah, não conseguimos. A Marta e eu sentimos um daqueles ataques de riso impossíveis de segurar:
-  Patrícia... - disse - ... a água SECA!
- Seca? A sério? Eu sei lá! O meu arroz vai sempre pro lixo!

Na terça, fiz macarrão com a Marta. Era massa com cogumelos e molho bechamel. Após dividirmos a quantidade, eu disse:


- Não colocas queijo ralado na massa?
- Queijo ralado?!
- Sim, não colocas?
- Não, nunca experimentei!
Eu, espantada, indaguei:
- Então para quê é que serve o queijo ralado?
- ...
O queijo, para ela, parecia um ET. Eu é que tive que o colocar no seu prato, porque ela nem sequer sabia como se havia de comportar com aquilo. Olhou para o seu jantar, e disse:
- E agora, o que eu faço?
- Então, agora envolves o queijo na massa e comes, ué!
Ela demorou cinco minutos para dar a primeira garfada.


Na sexta, ainda com a Marta, ainda na cozinha:

Ela: - Cô, tenho a massa fervendo na água, quero pôr o creme, escorro a água ou ponho o creme assim mesmo?

Eu nem sequer precisei responder. Acho que o meu riso disse tudo, pois ela fez como devia ser.

Agora estou aqui, com a vida um pouco menos atrasada, contando o meu degredo para um tio extremamente negligente e insensível, e criando coragem para ler a montanha de textos de Estudos Lingúisticos, Estudos Literários e de Metodologia do Trabalho Científico. Tou indo, tá? Vim mesmo para dizer que ainda existo!

Beijo!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Na rodoviária, um comboio inesperado



Então... era lá pelos idos de 1990. Minha namorada, à época, e posteriormente esposa, tinha família em Tatuí (Tatuí é Tatu com injeção eletrônica? Uiiiii!), e eu fui com ela ao terminal rodoviário, para que ela embarcasse no busungo que iria levá-la até seu destino.
Um dia antes - mais precisamente na noite anterior - eu havia comido muito. Sabem aquelas misturebas que de quando em vez a gente faz, tipo um monte de carne, um monte de verdura, um monte de legumes, um monte de doces? É.
Acordei pela manhã com gases. Flatulento. Fart-ulento. E desde cedinho era um tráááá aqui, um pppuuuuffff ali, um bbbrrrrrr acolá, mas estava eu lá, forte e firme, sem manifestação alguma de que a barroca-maçaroca viria abaixo. Nenhuminha da silva.
Sendo assim, peguei o carro e fui levar a patroa. De janelas abertas, craro.
Aí chegamos ao terminal rodoviário. Em pé, conversando com ela, senti, de repente, que uma outra manifestação eólica ia sair-me pela porta dos fundos. Não segurei nada.
Não segurei naaadaaaa.
Nada.
Nada.
E por que não segurei?
Ora, porque confiei nas forças contidas da natureza.
Só que nessa de confiar, tadindemim... senti uma coisa escorrendo pelas pernas, mole e morna. Humilhante e umectante, lá vinha o pequeno regato marrom.
Coincidência ou não, minha calça, naquele dia, era marrom-escura.
Saí correndo lá de perto da plataforma para o banheiro. Chegando lá, rrrranquei as carça, as ceroulas e, sobre o vaso (não sentado, mas acocorado), comecei a liberar a moçada. Meeeeuuuu, 6 não sá o q é bão. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaafffffffffffffffffffffff!
Depois da apresentação toda da bateria da escola de samba, limpei o fiofó, vesti o cuecão, as carça e fui lavar as mãos. Saí do banheiro com a cara de quem defecou e foi feliz.
Quando cheguei à plataforma, o ônibus da mulher já estava pra sair. Ainda bem que não saiu poucos minutos antes, senão eu nem teria conseguido despedir-me.
Disse isso a ela.
E ela:
- Quando atrasa é ruim, mas quando adianta desconserta.
E caiu na risada.
E lá fui eu, embora pra casa. Tinha que me lavar, porque o trem havia passado antes da hora, ó!

domingo, 3 de outubro de 2010

Vontade de chorar

O Ibope - fiasco público - está anunciando que a Dilma pode ganhar no primeiro turno, com 51%.
Eu não me espantaria. A democracia no Brasil, para quem queira ver, está assim: um percentual gigantesco do país só não passa fome porque recebe o 'bolsa família'. Muitas dessas pessoas não têm água potável em casa, nem luz elétrica, e têm de ir buscar água em algum lugar, muitas vezes não tão perto lá de onde residem. E tome vela, que vela lembra velório, féretro, luto.
Essas pessoas vão buscar também o bolsa família. É o que lhes mantém o estômago cheio.
Governo comprometido com o 'social' não manteria isso. Daria a esse povo educação e subtrairia, aos poucos, o bolsa família. Só que se isso fosse feito o Brasil se fortaleceria, e o panorama sócio-político estaria completamente abalado. Os porcos não se manteriam no poder. Eu não seria obrigado a ver todos os que vejo desde o cenozóico da era quaternária mostrando as caras botocadas, muitos com dentes refeitos pela IMBRA, UNIODONTO e não sei mais o quê. Sorriem, como se não tivessem culpa da situação em que este país se encontra.
Ah, à merda. Votassem os cachorros, e nada mudaria.
Demos + Kratos. Tire a força do poder (Kratos), que não haverá Demos, mas só o demo. É o que há no Brasil de hoje.

O Jean tem a mania de dizer que morrerá logo. " Que a hora está se aproximando." Coisa de adolescente pré-sénior, sabe? Mas eu sei a razão desta pressa toda: ele não quer me dar o que prometeu. O meu sandwich de mortadela! Mas pode ir tirando o cavalinho da chuva, seu muquirana, porque você não vai morrer.

Vem prá cá!

Há relativamente pouco tempo que me apercebi que não são poucos os Petistas que falam com a língua presa. Pronto, vou mais direta ao assunto: Que falam como o Palocci. Achei interessante. Será um requisito? Para além de mentirosos, ladrões, ignorantes, terroristas, corruptos e analfabetos, têm de falar daquela maneira? E a anta da Rouseff? Aquela mulher é homem, nénão? É aquela besta/bosta que vai governar o Brasil nos próximos 4 anos? Ah tio, desculpa. Pensando bem, eu acho que não volto não. Vemprácávocê.

Eleições, Votos Nulos e a Burrice recorrente!

Fomos votar, hoje. Cinco da manhã aí. Fomos ao Porto, num hotel chamado Ipanema, onde, supostamente, estaríamos protegidos da chuva.  Su-pos-ta-men-te! Hoje o céu amanheceu desabando, e as pessoas desabavam com ele antes mesmo de chegarem ao outro lado da rua.
A fila era grande. Foi engraçado, já não via grandes grupos de tupiniquins há muito tempo.


Foi estranho, me senti um E.T.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"In Itinere" - Jean Valjean

Despeço-me da vida, a pouco e pouco,
sorrindo-me, chorando-me, vivendo.
Enquanto rio-me, eis-me aqui morrendo;
enquanto choro, estou ficando louco.

Não ouço gritos. Tenho o ouvido mouco.
Não vou gritar. A glote está doendo.
Viver sem ver, ou ver sem estar vendo
é coisa de um insano, de um tarouco.

Espero, sim, mas só nunca esperar.
Ainda creio. Eu creio num não crer.
Estar ou não estar? Que há-de valer?

Enquanto rio, para não chorar,
não noto, mas já posso desconfiar:
deixo de ser e luto, até não-ser.


domingo, 26 de setembro de 2010

A Odisseia.

O meu tio sabe a luta que foi conseguir um lugar para ficar em Coimbra, e tomou conhecimento da novela que foi finalmente ter as chaves em mãos. Pois bem: o quarto tem duas camas, uma montada e outra não. O valor do aluguel é de 200€ mensais - sem despesas incluídas. Eu acho um roubo, até porque o quarto apesar de ser bom, não vale tudo isso. Então decidi que ia colocar mais alguém comigo, assim o preço caía para 100€ p/mês, o que já seria muito bom. Liguei para a dona do apartamento, e por ela estava tudo bem.
Pois bem, na sexta-feira, após falar com a mulher, achei por bem alertar a Joana sobre a minha decisão no MSN. E foi assim:

- Joana, eu vou colocar mais alguém no meu quarto. Tem algum problema?

Um minuto depois:

- Mas para viver?

- Sim.

- Não me parece que seja boa idéia.

-  Porquê?

- Em primeiro lugar, porque já houve quem quisesse colocar outra pessoa no quarto, e eu não deixei. Tive leucemia e fiz transplante de medula há pouco tempo. Não posso estar em contato com muitas pessoas, porque ainda estou em tratamento.

Decidi não estender muito a conversa.

- Ah, lamento muito. Tudo bem, então. Até terça.


Desliguei o msn de tão p* que fiquei. Vi logo a jogada da garota: não coloco em questão a doença dela, só não aguento gente fdp. Ela diz que não pode ficar rodeada de gente, mas estuda na mesma faculdade que eu, só que no terceiro ano, e vai e volta todos os dias! Ora, se ela realmente não pudesse viver circundada de pessoas, nem sequer poderia ir para a faculdade, ou não é verdade?
Outra: Não sou eu que corro o risco de pegar alguma doença, é ela. É ela quem se encontra numa situação de fragilidade. E se assim é, ela que procure um apartamento para só uma pessoa! Além disso, ela tem o quarto dela. Ela que se enfurne lá e só saia quando estiver melhor! Ou não é?
O quarto em que me encontro só não foi alugado antes porque ela deu esta mesma desculpa, e provavelmente a dona do apartamento nem sequer sabe o que se passa. Esta semana vou falar com a mulher, e já pago os 200€ do quarto para depois não dizerem que ela está em vantagem por já ter pago.

É cada uma, eu não tenho sossego!

sábado, 25 de setembro de 2010

Voltamos, e espero que minha sobrinha me trate com o respeito que merece um senhor de 45



Estamos aqui de novo - a sobrinha feliz, bem servida pela vida, alimentada de chocolates belgas e ovos moles, e o tio eternamente em dieta: alface, tomate, pepino (e a vida tem sido rude, pelo que o pepino, às vezes, não entra pela boca), etc.
Espero que não seja uma nova temporada de chantagens emocionais (a fim de obter meu aval para todas as suas condutas), mas sim uma nova era, de compreensão e fraternidade - embora sejamos tio e sobrinha, não necessariamente nesta ordem.
Agora, que Cô estuda em Cô-imbra, e o tio continua sendo um mero cidadão tupiniquim, ou melhor, dum país-zinho-inho-inho (com o perdão da Mari do Bajulur pela cópia) submergente (hm... emergente? detergente? não tem gente? repelente? de 3º mundo? ah, não pode mais dizer 3º mundo, porque não é politicamente correto, e o Lula precisa ser conselheiro da ONU), quero ver o que vai ser de mim. Ela vai se esquecer completamente de quem ajudou a criá-la e me tratar feito escovão atrás da porta do banheiro.
Bom, é isso, voltamos. Vamos lá, cacara e cacoragem, que a vida avança sempre.
Sobrinha, pense nisso: você está subindo as ladeiras de Cô-imbra, e eu estou... descendo as da vida.
Abreijinhos a todos!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Voltamos!


Eu acho que o meu tio finalmente se convenceu de que este blog é relíquia da família. Bicho cruel. Queria apagá-lo, acreditam? Eu é que fiz birra, bati o pé, fui obrigada a apelar à chantagem emocional e espiritual para que o velho tivesse piedade de mim!
Bem, não interessa. O importante é que estamos aqui: firmes e fortes. Ele bem mais forte e firme do que eu. Eu hoje estou um caco, e ele sabe a razão. Só desconhece que ontem fui prá night, bebi dois copos de cerveja e um Martini Bianco com suco/sumo de maracujá, e me perdi logo que desci do táxi. É verdade. Foi assim, ó:

- Deixe-me na Rua dos Navegadores, por favor. Vá pela Rua do Brasil.
O taxista:
- Muito bem.
Minutos depois:
- Quer que vá pela rua do Brasil?
Eu, pinguça, quase dormindo:
- Sim.
Ele parou, paguei, desci do táxi, e imediatamente me perguntei:
- Porra, onde é que eu estou?

Fui descendo a rua tentando me equilibrar e não conseguia entender onde eu estava. O táxi tinha desaparecido no horizonte. Quatro horas da manhã. Nada se ouvia para além dos meus passos cambaleantes. De repente, assim, do nada, me apercebi que estava perdida, sozinha e podre de bêbada:

- Puta que pariu! Onde é que o filho da puta me deixou?

São nestes momentos que dou graças a Deus por Coimbra ser um morro. Encontrava-me num local suficientemente alto para enxergar a maldita Rua do Brasil. Fui descendo a ladeira, rezando para não encontrar algum maníaco no meio do caminho. Encontrei outro bêbado. Ele vinha cambaleando de lá, e eu de cá. Parei para confirmar a localização. O bêbado disse que eu estava certa. Acreditei, afinal, eu também não me encontrava propriamente sóbria.

Moral da história: Meia hora depois de descer do táxi...cheguei em casa. Dei graças aos céus. Ascendi a luz do prédio, subi dois andares, sobrevivi. E para abrir a p*rra da porta? Após longos minutos de falhas e tentativas, lá consegui enfiar a chave no seu respectivo buraco. Dormi feliz, acordei quebrada e até agora sem entender que raio de taxista era aquele.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A nossa despedida - Parte Final - Cô

Tio, você sabe: por mim, eu não deixaria isso aqui não, bicho. Pô, são oito meses! Conta aí. Foram oito meses inteirinhos sem cometermos bloguicídio! Nem parece coisa nossa, ó! Velho chato, ranzinza, picuinhas, complexado, teimoso e chato de novo! Pô, eu tinha esperança de que isso aqui durasse pelo menos um ano, bicho. Só que aí vem você, com aquele espírito revolucionário, cheio de luzes nos pensamentos e blá blá blá, e diz: “ Vamos fechar o Manière e está acabado!”. Mas e aí, e eu? Aí phodeu.
Bem, mas quando eu aceitei vir para cá com você, eu já sabia que, mais cedo ou mais tarde, este dia iria chegar. Só não esperava que fosse tão cedo, mas tudo bem. Você o quis abrir, você decide quando parar, até porque sem o meu tiozão não tem graça. Eu aceito, não concordo, mas aceito.
Bem, acho que o essencial você já disse. Tudo se resume a mudanças, mas acho que estas mesmas mudanças poderiam ser feitas aqui dentro. E os bonequinhos ali em cima? Pô, escolhi com o maior carinho…tive o maior cuidado para escolher um carinha bem parecido contigo…e…e…enfim.
Tio, estamos aí, tá? Talvez não com a mesma frequência de antes, mas com o mesmo amor e admiração.

É isso, bicho.


Um grande beijo ao pessoal,

Cô.

A nossa despedida (parte I, Jean Valjean)

Cô, que bom v. haver aceito iniciarmos um novo blog.
Acho que, de certa forma, terminei um ciclo de minha vida. Agora entro em outro. Vida nova, blog novo, novos desafios, novos frios na barriga, novas emoções.
Quero renascer, reviver e, só se for o caso, um dia, 'remorrer'.
Que venha uma nova manhã, uma nova alvorada. Que venham os dilúculos matinais e vespertinos. Que o samsara da vida se faça, e que possamos saudar a vida que chega.
Vou entrar nu e de braços abertos num vergel que vislumbro à frente, referto de belas e coloridas vergônteas, olentes, orvalhadas, ridentes e esparramadas pelos canteiros onde antes havia tristeza.
Ontem 'morrideitei-me', hoje 'renasciergui-me'. Mutatis mutandi, no outro blog faço a minha parúsia.
Se bem sei de você, sobrinha, você também está mudando de etapa: fim de um ciclo, início de outro. Que nos sorria a sorte, pois para mim há um sorriso lindo, de lábios doces, de coração aconchegante, de pensamento liberto e aberto para o mundo.
Vamos lá?
Nossos leitores que desejem nos acompanhar - o que sempre é bom demais -, eis-nos em
Abreijos a todos(as)!

domingo, 15 de agosto de 2010

Je vous remercie

Je vous remercie, ma chérie, d'être née. Il y avait quelque chose de vide dans ma poitrine, mais maintenant il ya des marguerites à ce lieu là...

Tes yeux,
ta touche,
tes cheveux,
ta bouche,
toi...

Ta peau,
t'allure,
de l'eau,
tout est beau,
tout est bon,
je t'assure!

Tu est présent,
présence,
vie,
lumière...
Tu est amie,
femme,
ma fille, ma mère,
amante,
parfum,
chanson,
sentiment
et raison.

Ma joie,
mon soleil,
ma lune
à la nuit obscure...

Tu est
simplement
mon tout.

O passado, no futuro - Jean Valjean

Aquele ontem que morreu um dia
e transformou-se no hoje sem futuro,
de repente saiu de trás de um muro
na ânsia de viver uma alegria.

Mas se morreu, por que renasceria?
Por que sairia assim dum beco escuro,
feito o lixo que foge do monturo
pra ver nascer o Sol, com euforia?

Em verdade, não era o tal passado;
em verdade, não vinha sem porvir;
em verdade, ele era só o presente.

Presente que está ali, mas não se sente,
mas que basta deixemo-lo sorrir,
e apontará o futuro tão sonhado...

o verbo «Ser» não se conjuga na primeira pessoa,
e as restantes pessoas não são aquilo que eu julgava ser.
conjuguemos, então, um verbo que não
transite de pessoa à pessoa, mas que
estagne nos intervalos de cada uma.
Sejamos o hiato entre o «sou» e o «és».

Esqueçamos o «somos».

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Terei perdão?

Estávamos todos no pátio, a “ouvir” o padre falar. Era uma missa, creio - creio, porque não tava nem aí. Queria saber o que é que ele tinha naquela taça. O que é que ele colocava na boca das pessoas, enquanto circulava pela gente. Estava lá, toda contente, possivelmente armando uma das minhas. Queria que ele chegasse logo, queria ver o que é que ele trazia aliiiii! 

Curiosidade de criança é f*da.

À medida que ele foi se aproximando, notei que ele dizia alguma coisa ao colocar aquele troço na boca das crianças, mas não conseguia entender o quê. Deixei prá lá e decidi aguardar pacientemente que ele chegasse, em vez de puxar a barra da calça da professora e correr o risco de levar uma bronca daquelas.

Finalmente chegou, só faltava mais uma e depois era eu. Preocupada, pensando que quando fosse a minha vez já não teria aquele troço pra mim, me mostrei ansiosa.

O Padre disse:
- Levante-se, filha.

Ué, levantei.

Ele ergue o negócio aos céus, e eu acompanho a sua mão, atentamente, com os meus olhinhos amendoados. 
Vejo a sua mão(zona) aproximar-se da minha boca, e hoje a única coisa que me lembro é isso:
- Corpo de D….(NHAC – mordi o troço) - …eus.

Ficamos nos olhando durante alguns instantes. Eu, mastigando aquele troço sem gosto, sem sabor nenhum. Ele, sem saber se parava a missa ou seguia a boiada. A professora, morrendo de vergonha, é claro, me deixou de castigo durante doiiis dias!!!
Foram dois dias inteirinhos sem poder ir para os recreios, sem poder comer o meu croissant de frango com catupiri…Sem poder ir vasculhar os quartos das freiras...

Pois é, está aí o meu primeiro contacto com Deus. Estou certa de que Ele nunca se esqueceu.

O Guerreiro.



Partiu para a guerra
Com um propósito:
Conquistar novas terras,
Matar muitos homens.

Voltou de lá sem nada,
Roto e cadavérico:
Morto de fome.

Tio, se eu te dissesse que me engasguei de rir ao ler esta p*rra

Você acreditaria?
É tão idiota.

O texto é da Sarah - ( achado não é roubado!)


Tempo maldito. Causador da minha insónia e da rouquidão dos meus gritos. Vire-me do avesso, por favor. Permita-me exibir minhas veias aos olhos dos furacões e tornados. Deixe-me andar com o coração agarrado aos ossos das costelas, enquanto os meus olhos ameaçam saltar dos seus penhascos. Faça com que nas minhas mãos circule o sangue que me falta ao resto do corpo, pois somente assim serei capaz de escalar os imalaias que me encarceram. Roube-me de mim: prometo que não darei pela minha falta.

Liberte-me desta jaula a que todos chamam corpo, mas que eu denomino maldição. Rompa-me os tímpanos para que eu já não ouça as vozes dos que me habitam, e depois grite bem alto todas as verdades que sempre quiseste que eu escutasse. Prometo que o ouvirei com atenção. Cosa-me os lábios, corte-me as pernas, transforme-me num ser invertebrado. Deixe que eu me arraste entre os brotos e raízes, e ides para longe de mim. Leve-me para longe daqui, mas não contigo. Tu, que és por excelência o maior dos ilusionistas, transmute-se no casulo de onde eu não deveria ter saído.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sobrinha: um nome injusto para a minha Garota Maravilha


Volta e meia eu assunto (do verbo assuntar) com minha sobrinha. Se o nosso DNA é o mesmo, o que houve? No dela, a seleção dos melhores itens; no meu, a dos piores. Ela é génio, eu normalzin, normalzin.
Conversamos de igual para mais que igual. De igual para maior. O igual sou eu, mas igual aos outros, e não a ela. Ela é mais que igual, é maior.
Por isso, esse título "sobrinha", que parece uma pequena sobra, do almoço ou do jantar, não é legal.
Diálogos imaginários para formação da palavra "sobrinha", e futura negação:

1) Alguém bate à porta:
TOC, TOC, TOC...
A Dna. Maria abre e ouve a pergunta:
- Dna. Maria, estou morto de fome, a Sra. tem comida?
- Olha, não tenho, mas... espera, espera, vou ver se tem uma sobrinha.
E traz, num pires.

2) O marido mineirinho, para a mulher mineirinha:
- Muié, a janta estava ótima.
- Que bão, bem, quiocê gostô.
- E sabe, muié, que ainda tem espaço no meu bucho?
- Ué, pera, vou ver se tem uma sobrinha.
E traz, num pires.

3) A Cô manda ovos moles pelo cô-rreio, para o tio.
Eles chegam, e o tio, desesperado, enfia tudo, tudo, tudo na boca.
A Repolhuda o vê comendo e pede, desesperada:
- Ei, você comeu tudo, não tem nem uma sobrinha?
E o tio, azedo:
- Vou ver se tem.
E traz, num pires (mas só migalhas que lhe escaparam da boca).

4) A moça chega para a mãe, meio constrangida, e diz:
- Mamãe, estou grávida.
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!
E cai no chão, batendo a boca.
Chama-se o SAMU, a mãe vai para o hospital. Reanimam-na. Ela acorda e pensa que sonhou...
- Filha, o que houve? Eu fui atropelada?
- Não, mãe, você desmaiou quando eu contei que estou grávida.
Aí a mãe pensa, pára, pondera e diz:
- Filha, mas ele não usou camisinha?
- Usou, mãe, mas quando a retirou, escorreu lá uma sobrinha...

Exemplos hediondos, e tudo para dizer que minha sobrinha não é esse tipo de sobrinha. Esse tipo de sobrinha aí sou eu. Ela é TUUUDOOOO! É prato principal, panela cheia, tacho transbordando, fonte cristalina, etc. Nada de sobrinha: completude, totalidade.

E tenho dito!

Supernal

Our heart is the only door
which not closes - eternal;
it can so much!, it can more...
it's wonderful and supernal.



Dá um pouco de vergonha de dizer, mas os versitos sem pé são meus.

domingo, 8 de agosto de 2010

O desejo de um 'sempre' (Jean Valjean)



Que não se perca o ar desta esperança,
que não se torne lágrima o meu riso.
Chorar ou navegar é tão preciso...
viver é naufragar mesmo em bonança.
Você já teve em mãos um diamante,
a flor mais linda, ou a mais perfumada?
Já viu a cor mais pura e mais radiante,
já acreditou que existe a alma amada?
Que não se perca esta oportunidade,
que não se perca o hausto respirado;
que não se perca um bem tão desejado...
que não se perca em prantos de saudade.

Eu quero eternizar a eternidade
de um só momento pleno de verdade.

sábado, 7 de agosto de 2010

Sonhei...



Hoje dormi e sonhei.
Sonhei que fui feliz.
Entendi que não há lugares,
mas apenas pessoas certas.
E então acordei.
Ficou a memória.
Ficou um pálio da luz que me iluminou o sonho.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010




AI AI, VIU?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010



Sejamos inteiros
Enquanto não quebrarmos.
Enquanto o vaso não cair 
Das mãos da Cinderela,
Pelos degraus inclinados.

Juntos, contemos as estrelas
Fingindo que nunca morreremos.
Enlacemo-nos como os planetas,
E desfrutemos a nossa rotatividade.

Meu amor,
A felicidade encontra-se
Na banalidade.
Tudo o que é complexo demais,
Um dia parte.

Sejamos felizes nas coisas pequenas.
Troquemos o boa noite pelo boa tarde,
Pois nunca é tarde
Para amanhecermos contentes.

Deixemos os nossos sonhos
Pela metade,
Pois a vida, meu amor, é infinita.
E tudo aquilo que é eterno,
Tem prazo de validade.

Os ovos moles...



Rodo o supermercado feito um louco, e nada.
- Moça, onde estão os ovos moles?
E ela faz uma cara esquisita, franze o cenho, torce a boca e aponta numa direção X. Eu vou. Chego lá, eis que encontro os ovos. Ovo de galinha, sabe? É aquele que tem casca, vem na embalagem de papelão, enfim. Resolvi voltar a falar com a dita cuja:
- Moça, os ovos que você me apontou não são os que procuro. Quero ovos moles.
- Meu senhor, existe algum ovo que não seja mole? A casca é dura, mas quebra fácil. O que vem depois é mole!
Era daquilo que eu estava, mesmo, precisando. Ser tratado como retardado, no momento de desespero pelos ovos moles.
- Ok, moça, não faz mal. Vou procurar nas geladeiras, do outro lado.
- Senhor, a gente não deixa os ovos na geladeira.
- Obrigado, moça!
Fui para o outro lado do mardito PDA. Olhei as geladeiras todas, e... nada. Nisso vejo um rapaz, também funcionário da rede. A ele:
- Moço, onde estão os ovos moles?
- Ah!, os de Aveiro, né?
Aleluia... Jesus escutara as minhas preces. Exultei. Quase ergui as mãos para o Céu, a fim de louvar. Respondi, animado:
- Isso, os de Aveiro, que vêm naquele vidro grande, amarelos como o ouro, doces como a cana, perfumados como as flores orvalhadas nos vergéis da Alsácia (isto foi poesia para vocês, ok?, eu não falei para ele).
- Sabe, senhor, estão em falta.
- Glup... (barulho que o Maurício de Souza usa para os personagens dele que engolem seco). Em falta?
- É, às vezes a gente não fecha com eles, pois cobram muito caro. Tem que negociar, né, senhor?
- É...
Sem alternativa, resolvi apelar. Fui a outra geladeira e comprei um daqueles queijos franceses nojentos, que vêm com escorpiões, vermes, bactérias e espermatozóides dentro. Aqueles que você corta e precisa ainda tirar a no-to-cor-da, o cordão umbilical, e os fungos, cancerosos e cancerígenos, estão mastigando suas próprias metástases.
Comprei aquela bosta, uma geléia de pêssego e vim para casa. Jantei isso aí.
Nôja.
Sobrinha, eis aí. Não ria do pobre tio... mas um dia ainda vou contratar o Mayer, ligar a webcam e, quando você estiver toda animadinha olhando, beijo-o na boca, tá?
Jararaca mirim!!!