quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aí o meu avô disse que não viaja de avião porque tem medo de morrer. Disse que já não sobe tão frequentemente a sua rua porque dói-lhe as costas. Porque dói-lhe os ombros e as pernas, e porque pode morrer. Às vezes eu tenho a impressão que esperar a morte tem sido o seu principal propósito de vida. Que eu saiba, foi logo após ele ter sofrido o seu primeiro – e único – enfarte, há mais de duas décadas, que a morte tornou-se desculpa para ele não viver. É triste, mas ele ri. Talvez a ideia do seu próprio óbito lhe faça cócegas.

Assim fica diphícil!

Eu não entendo como que um Primeiro-ministro – que renuncia ao seu mandato, admitindo a sua majestosa incompetência perante todo o país - pode recandidatar-se para O MESMO CARGO! E entendo menos ainda como que um ditador disfarçado de Primeiro-ministro, prepotente, mentiroso compulsivo, corrupto, cruel e insensível consegue ter a mesma – ou ainda maior – audiência diante dos eleitores! C-O-M-O É P-O-S-S-Í-V-E-L? Já que não tenho direito ao voto, limito-me a lamentar. Ah Portugal, o que foi que fizeram contigo…

Com o tempo, deixei de querer saber o significado das coisas porque, com este mesmo tempo, descobri que estas mesmas coisas vão perdendo o seu sentido – seja lá o que esta palavra quer dizer. E se vão perdendo o sentido é porque nada é definitivo, e se nada é definitivo para quê saber o que as coisas significam? Não compreendo esta nossa mania de definição, visto ser o Ser humano a criatura mais indefinida que alguma vez conheci.
Já que não nos conseguimos definir – não por falta de palavras, mas por excesso de grandeza -, tentamos preencher este enorme ponto de interrogação com as reticências implícitas nas definições das pequenas coisas, e o problema está justamente aí. Na compreensão do implícito.

O ser humano encontra-se subentendido naquilo que desconhece.
Quanto mais vago o autoconhecimento, mais subjectiva é a existência.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Maldição.



Tio, não te dá raiva quando você telefona para uma linha de «Apoio ao Cliente» para comunicar que determinado produto não está funcionando como devia, e a única coisa que esta suposta linha faz é passar a tua chamada para o fulano, o ciclano, o beotrano, para o filho da mãe maria, depois da mãe Joaquina, para finalmente o último filho da puta te dar uma solução que você já havia pensando antes e que, por sua vez, não resultou? E não te dá ainda mais raiva quando esse mesmo filho da putain te diz que afinal o problema é com eles e que o mesmo só será resolvido dali a alguns dias? E não te dá ainda mais raiva quando, passados esses mesmos dias, o tal produto continua sem sinais vitais? O quê você faz numa situação destas? Essa minha vontade de me tornar numa serial killer é anormal? O que fazer com esse desejo insano de os mandar todos para a puta que os pariu em árabe? Sim, em árabe! Ou de rogar-lhes uma praga em alemão, porque as palavras são muito maiores, e naturalmente surtem um efeito aterrador ao receptor? E, já agora, o que fazer com as minhas costelas? Hum? Diz prá mim.

A maldita prima.


Uma das poucas vantagens de se ir ao hospital está em encontrar situações caricatas como esta:
Velha:
- Ai meu Deus, meu deuzinho! Ajude-me, senhor! Eu nunca fiz mal à minha prima! Eu nunca lhe quis mal, Jesus! Que dor, doutor! Dói muito!
- Calma, minha senhora, eu nem sequer espetei a agulha ainda…
- AI MEU PAI! Eu nunca fiz mal à minha prima! Porquê Senhor, porquê? Eu nunca fiz mal a ninguém…a ninguém, doutor! Jesus Cristo, me perdoe, por favor! Ai a minha prima….
- Estique o braço e feche a mão, minha senhora.
-… priminha minha! Eu sempre cuidei tão bem dela! Ai meu Deus, eu nunca fiz mal à minha prima…!
O doutor espeta a agulha.
- AI MEU DEUS DO CÉU, AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA, AI A MINHA PRIMA!!
O doutor começa a tirar o sangue.
- Aiiiiiiiiiii! Aiiiiiiiii meu Deus que eu morro, doutor! Estou a morrer, eu vejo a luz doutor! Estou a vê-la! Ai a minha prima!
- Aquilo é uma lâmpada florescente, minha senhora. Agora fique quieta, por favor!
- Aiiiiiiiiiii doutor! Aiiiiii! Aiiiiii, dói muito! Ai a minha prima, a minha priminha querida! Eu nunca fiz mal à minha prima…! Ai meu Pai, ai…..ai…..ai a minha prima, doutor….!
O doutor tira a agulha.
- Ai…ai a minha prima…Arranje-me um ‘binhozinho’ doutor.
- Ora essa, a senhora está no hospital, é diabética e quer que lhe traga vinho! Ganhe juízo e vá dormir!
- AI DOUTOR, AI A MINHA PRIMA….!!

Quem assistia àquela cena, ria. Ainda hoje me pergunto o que é que a velha deve ter feito à prima, ou vice-versa…



Já me serviram tanto vinho ruim nestes últimos seis meses, que eu acho que quando me servirem um realmente bom, eu não vou gostar!

Ó eu aqui ó!



Então, já fazem uns bons milénios que eu não escrevo coisa alguma aqui. Mas não é falta de vontade não. É falta de coisas interessantes para se dizer. Não que tudo aquilo que já disse tenha sido alguma vez interessante, mas é que nos últimos tempos eu tenho desfrutado de um vácuo mental aparentemente interminável. E o interessante de tudo isso é que o vácuo pesa.
Outro grande motivo de não ter voltado a postar coisa alguma é a minha vida (?) social Coimbrã extremamente atribulada, cheia de altos (?) e baixos (!) Aliás, a própria cidade é cheia de altos e baixos, subidas e decidas, de degraus – alguns soltos, outros tortos, outros cheios de vómitos da madrugada anterior – intermináveis que te destroem os gémeos e te fazem transpirar e feder que nem um trabalhador de uma mineira. Concluindo: hoje tenho a mais pura certeza que, quando Deus resolveu brincar de me fazer, baseou-se em Coimbra.
Daí, o meu tio me chamou de ingrata pela bilionésima vez. Eu acho que já é algo automático. Ele me vê ausente (!) no MSN e associa o meu ‘status’ a uma ingratidão existente apenas naqueles neurónios vaidosos. Aí, ele dá dois cliques lá no meu nomezinho, e escreve a primeira besteira que lhe vem à cabeça. Do género: “ E aí, tá ‘dando’ muito?!” Eu, por minha vez, olho para aquilo e me indago: O «normal» não seria o ‘cota’ dizer: “ Então sobrinhazinha linda do meu coração, eu sei que o tio tem estado SUPER ausente – aliás, como sempre esteve – e que, juntamente com sua senha, esqueceu-se também que tinha uma sobrinha, e peço imenso perdão por isso. Como você está? Tudo bem? E os estudos?” E assim a conversa se iria construindo graciosamente, como qualquer outra conversa familiar! Mas não! O cara é sórdido, creia!
«Juntamente com»? Como assim? ‘Juntamente’ já é ‘com’. ‘Com’ já é ‘juntamente’. Que coisa idiota.
Daí ele lembrou qual era o e-mail e a senha. LEMBRA seu ingrato? Lembra quando eu te perguntei: “ Bicho, o teu e-mail não começava com o teu nome?!” E você respondeu: “ Nãaao! é claro que não!” E eu fiquei quieta, convencida de que tinha enlouquecido.
E ingrato é você tá? Que é pró na arte de me deixar falando sozinha!


Seu gagá!

Passar bem!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pô, sobrinha, lembrei a senha!

Que Kapa-ralho, viu? A gente vai se aprochegando dos 50 e, quando vê... não vê mais quase nada, não ouve mais quase nada, não lembra mais de p* nenhuma e... o que eu ia falar, mesmo?

Sobrinha, você tem valorizado os seus enquantos?, os aindas?, as eternidades que há em cada átimo bem vivido? Se não tem, darling, faça isso, pois o tempo passa rápido demais, e aí, nêga, v. vai ver que as conjunções temporais e os advérbios também se conjugam no passado. Não faça como eu, porque o meu enquanto enquantou e enquantara; o meu ainda aindou e até desa(i)ndou, e as eternidades foram emborcadas num eterno sumidouro.

E agora? A propósito, o que é o agora, que se perde no tempo assim que o pronunciamos como palavra?

Think about, tá?