quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"In Itinere" - Jean Valjean

Despeço-me da vida, a pouco e pouco,
sorrindo-me, chorando-me, vivendo.
Enquanto rio-me, eis-me aqui morrendo;
enquanto choro, estou ficando louco.

Não ouço gritos. Tenho o ouvido mouco.
Não vou gritar. A glote está doendo.
Viver sem ver, ou ver sem estar vendo
é coisa de um insano, de um tarouco.

Espero, sim, mas só nunca esperar.
Ainda creio. Eu creio num não crer.
Estar ou não estar? Que há-de valer?

Enquanto rio, para não chorar,
não noto, mas já posso desconfiar:
deixo de ser e luto, até não-ser.


domingo, 26 de setembro de 2010

A Odisseia.

O meu tio sabe a luta que foi conseguir um lugar para ficar em Coimbra, e tomou conhecimento da novela que foi finalmente ter as chaves em mãos. Pois bem: o quarto tem duas camas, uma montada e outra não. O valor do aluguel é de 200€ mensais - sem despesas incluídas. Eu acho um roubo, até porque o quarto apesar de ser bom, não vale tudo isso. Então decidi que ia colocar mais alguém comigo, assim o preço caía para 100€ p/mês, o que já seria muito bom. Liguei para a dona do apartamento, e por ela estava tudo bem.
Pois bem, na sexta-feira, após falar com a mulher, achei por bem alertar a Joana sobre a minha decisão no MSN. E foi assim:

- Joana, eu vou colocar mais alguém no meu quarto. Tem algum problema?

Um minuto depois:

- Mas para viver?

- Sim.

- Não me parece que seja boa idéia.

-  Porquê?

- Em primeiro lugar, porque já houve quem quisesse colocar outra pessoa no quarto, e eu não deixei. Tive leucemia e fiz transplante de medula há pouco tempo. Não posso estar em contato com muitas pessoas, porque ainda estou em tratamento.

Decidi não estender muito a conversa.

- Ah, lamento muito. Tudo bem, então. Até terça.


Desliguei o msn de tão p* que fiquei. Vi logo a jogada da garota: não coloco em questão a doença dela, só não aguento gente fdp. Ela diz que não pode ficar rodeada de gente, mas estuda na mesma faculdade que eu, só que no terceiro ano, e vai e volta todos os dias! Ora, se ela realmente não pudesse viver circundada de pessoas, nem sequer poderia ir para a faculdade, ou não é verdade?
Outra: Não sou eu que corro o risco de pegar alguma doença, é ela. É ela quem se encontra numa situação de fragilidade. E se assim é, ela que procure um apartamento para só uma pessoa! Além disso, ela tem o quarto dela. Ela que se enfurne lá e só saia quando estiver melhor! Ou não é?
O quarto em que me encontro só não foi alugado antes porque ela deu esta mesma desculpa, e provavelmente a dona do apartamento nem sequer sabe o que se passa. Esta semana vou falar com a mulher, e já pago os 200€ do quarto para depois não dizerem que ela está em vantagem por já ter pago.

É cada uma, eu não tenho sossego!

sábado, 25 de setembro de 2010

Voltamos, e espero que minha sobrinha me trate com o respeito que merece um senhor de 45



Estamos aqui de novo - a sobrinha feliz, bem servida pela vida, alimentada de chocolates belgas e ovos moles, e o tio eternamente em dieta: alface, tomate, pepino (e a vida tem sido rude, pelo que o pepino, às vezes, não entra pela boca), etc.
Espero que não seja uma nova temporada de chantagens emocionais (a fim de obter meu aval para todas as suas condutas), mas sim uma nova era, de compreensão e fraternidade - embora sejamos tio e sobrinha, não necessariamente nesta ordem.
Agora, que Cô estuda em Cô-imbra, e o tio continua sendo um mero cidadão tupiniquim, ou melhor, dum país-zinho-inho-inho (com o perdão da Mari do Bajulur pela cópia) submergente (hm... emergente? detergente? não tem gente? repelente? de 3º mundo? ah, não pode mais dizer 3º mundo, porque não é politicamente correto, e o Lula precisa ser conselheiro da ONU), quero ver o que vai ser de mim. Ela vai se esquecer completamente de quem ajudou a criá-la e me tratar feito escovão atrás da porta do banheiro.
Bom, é isso, voltamos. Vamos lá, cacara e cacoragem, que a vida avança sempre.
Sobrinha, pense nisso: você está subindo as ladeiras de Cô-imbra, e eu estou... descendo as da vida.
Abreijinhos a todos!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Voltamos!


Eu acho que o meu tio finalmente se convenceu de que este blog é relíquia da família. Bicho cruel. Queria apagá-lo, acreditam? Eu é que fiz birra, bati o pé, fui obrigada a apelar à chantagem emocional e espiritual para que o velho tivesse piedade de mim!
Bem, não interessa. O importante é que estamos aqui: firmes e fortes. Ele bem mais forte e firme do que eu. Eu hoje estou um caco, e ele sabe a razão. Só desconhece que ontem fui prá night, bebi dois copos de cerveja e um Martini Bianco com suco/sumo de maracujá, e me perdi logo que desci do táxi. É verdade. Foi assim, ó:

- Deixe-me na Rua dos Navegadores, por favor. Vá pela Rua do Brasil.
O taxista:
- Muito bem.
Minutos depois:
- Quer que vá pela rua do Brasil?
Eu, pinguça, quase dormindo:
- Sim.
Ele parou, paguei, desci do táxi, e imediatamente me perguntei:
- Porra, onde é que eu estou?

Fui descendo a rua tentando me equilibrar e não conseguia entender onde eu estava. O táxi tinha desaparecido no horizonte. Quatro horas da manhã. Nada se ouvia para além dos meus passos cambaleantes. De repente, assim, do nada, me apercebi que estava perdida, sozinha e podre de bêbada:

- Puta que pariu! Onde é que o filho da puta me deixou?

São nestes momentos que dou graças a Deus por Coimbra ser um morro. Encontrava-me num local suficientemente alto para enxergar a maldita Rua do Brasil. Fui descendo a ladeira, rezando para não encontrar algum maníaco no meio do caminho. Encontrei outro bêbado. Ele vinha cambaleando de lá, e eu de cá. Parei para confirmar a localização. O bêbado disse que eu estava certa. Acreditei, afinal, eu também não me encontrava propriamente sóbria.

Moral da história: Meia hora depois de descer do táxi...cheguei em casa. Dei graças aos céus. Ascendi a luz do prédio, subi dois andares, sobrevivi. E para abrir a p*rra da porta? Após longos minutos de falhas e tentativas, lá consegui enfiar a chave no seu respectivo buraco. Dormi feliz, acordei quebrada e até agora sem entender que raio de taxista era aquele.