sábado, 28 de maio de 2011

Vergonha de ser como sou

É, sobrinha... eis-me aqui, para novamente desabafar.
Você tem o peso da idade em seu favor. Os largos anos de experiência espiritual que eu não tenho. Sou mais velho nesta vida, você é mais velha de outras vidas.
Eu sou um perfeito idiota. Sou burro, meu quociente emocional é baixíssimo: quase um in-quociente emocional. Eu reincido nos mesmos erros desde sempre, e há algum tempo, mas bem pouco, venho tentando mudar isso que sou. Só que não é fácil. O justo erra 7 vezes ao dia, eu erro 700 e, como o iníquo (que não julgo ser), tropeço nos meus males, enredo-me, fico lá emaranhado e... nada de sair da minha pegajosa teia.
Às vezes a gente faz coisas que sabe que não são certas, mas vai lá e faz. Há quem faça e ache certo, e para essas pessoas, fazer tais coisas não traz sofrimento; porém, para quem sabe que não são certas, o tão-só fato de fazê-las já gera sofrimento.
Eu sei que posso errar. A situação para que eu erre aparece; eu prometera, antes, que não erraria mais. Só que, com a situação à minha frente, eis que erro de novo. A ocasião não faz, mas revela o ladrão.
Estou roubando a minha saúde, estou roubando a saúde alheia. Estou roubando a minha tranquilidade e a tranquilidade alheia. Estou roubando ao tempo valiosos minutos e horas impagáveis. Estou ocupando espaço sem função social.
Sinto-me um pária, e o problema não é sentir-me assim. O problema é que eu deveria estar em redenção, mas eu me vejo irredempto (não resisti ao castiço).
Até que ponto um Homem pode conviver com o que é? Lembra Paulo de Tarso, quando caiu do cavalo, na estrada para Damasco, e ficou deslumbrado (fenómeno óptico - nossa, Portugal me tomou a alma, hoje) a ponto de não mais enxergar por alguns dias?
Malcomparando, eu caí do cavalo com a minha pequenez (falta de autoconhecimento), e enxergar o certo é a luz forte que me deslumbra e também me cega. É como se fosse algo além do meu alcance, e eu um Tântalo estendendo os braços para os capitosos frutos duma árvore-de-salvação que se curva para o outro lado, a fim de eu não lhe 'subtrair' o que não posso, por alguma razão, ter comigo.
E assim vou vivendo e convivendo com esse serzinho diminuto, limítrofe, que sou. Cada novo passo é um novo medo; cada nova ensancha é uma nova queda. Não quero (nem posso - truísmo dizê-lo, mas tenho que ousar) ser perfeito, mas queria muito, muito mesmo, ser um pouco menos imperfeito.
Introjetar alguma coisa boa em mim parece algo do tipo querer encher o tonel das Danaides.
Ando cansado, bem cansado.
Precisava fugir de mim. Precisava do impossível, e eis aí a única saída que vejo para que minha vida se torne factível.
Sabe como é?
p.s.: SERÁ QUE A DAMA DE CINZAS JÁ SE SENTIU ASSIM?

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu não fui mencionada aqui, mas venho de xereta. Gostei do texto, e diria que qualquer pessoa um pouco mais velha (você, ao que tudo indica, é quarentão na metade do caminho para cinqüentão, pelo que pude entender de postagens antigas e pelo seu jeito de falar do mundo e de si) já sentiu/sente exatamente isto. Ver-se em sinucas-de-bico é normal, em alguns períodos da vida. Desistir é que me parece covardia. Há que lutar, não?

Cosette disse...

Largos anos de experiência espiritual? Eu? Que experiência? Acho que toda a experiência que possa ter tido até agora, serviu somente para me mostrar que não tenho experiência alguma. O que é certo, é que desta tal 'velhice de outras vidas', apenas restou do que um enorme cansaço e um peso monumental em cada ombro.

Não esquenta não. Essa tua sensação passa. Isso tudo acontece. Você é forte. Excelente pessoa. Não tem porque ficar assim.

Eu sei muito bem como é...

Jean Valjean disse...

Amanda, tentando adivinhar minha idade? Eu mereço... mas v. está certa no tocante à parte da coBardia. Não vou desistir, não. Pelo menos agora. Pode vir, seja convidada ou não.

Jean Valjean disse...

Forte? Excelente pessoa? Hm... tá bão.
São seus olhos aveirenses (é assim que se fala?)