sábado, 21 de maio de 2011

Gay ou não gay, eis a questão

Sobrinha, sei que você vai me atenazar por isto, mas vamos lá:
Se todos somos iguais, pressuponho que todos tenhamos os mesmos direitos, desde que não subtraiamos os do próximo, desde que não lhe invadamos a privacidade, etc.
Pois bem, aceitas tais premissas, o direito de 'ser eu mesmo' é apanágio do ser-humano. É preciso que eu seja o que sou, entendida tal prerrogativa como absoluta.
O 'conhece-te a ti mesmo' implica, necessariamente, haver o 'eu mesmo'. E Píndaro, que nos disse o 'torna-te o que és' parte do pressuposto de que somos, sim, algo/alguém.
O direito de amar é-nos tão inerente, que eu diria ser imanente n'alma.
E eu não sou homem, e você não é mulher, mas nós todos somos espíritos e, como tal, pensamos, sentimos, e hemos de ter toda a liberdade de expressão desse 'nós mesmos'.
Aí fica a minha questão: por que as pessoas se preocupam tanto com a sexualidade das outras?
Se a sexualidade é emanação da personalidade, negar-se a alguém a sua sexualidade é negar-se-lhe a própria individualidade.
Eu não sou heterossexual ou homossexual senão nos dicionários, no catequismo desenxavido das religiões, nos manuais dos psicanalistas (para bom ou mau uso) e nas classificações tirânicas que herdamos de nossos ancestrais. Eu sou eu. 'Ego sum qui sum', 'I am what I am', e não é possível que a lei não me garanta isso.
Se eu sou minoria? Hm... Aristóteles, em um de seus brilhantes ensaios, disse que é da isonomia tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, justamente para que se possa igualá-los.
E a 'sociedade' vem, e elege o que é certo e o que é errado, mas com base em pré-conceitos mal-estabelecidos, porque não pensados, ou então fincados em raízes religiosas tirânicas, ou então em preceitos que se diziam religiosos mas não eram nada além de leis locais com sanção supostamente divina. Imagine o pecado de comer carne de porco porque há vermes que, se a carne não estiver devidamente cozida, podem matar o Homem. Lembra das tênias? 'solium' e 'saginata'?
Há também o casamento sorodato, que virou 'lei divina' porque era necessário manter a família, o patrimônio, a ideia 'feudal'. E há, conforme o local, dependendo da necessidade social, a proibição ou o estímulo à poligamia.
O medo de doenças venéreas levou a várias proibições de prosápia religiosa, e a punição seria divina. A igreja católica, por exemplo: ela não quer que nós simplesmente não usemos camisinha. Jamais: ela quer que não forniquemos.
Imagine tomar essas normas todas ao pé da letra, e imagine o que temos hoje, em termos de 'regras comuns' sobre o que se pode e o que não se pode fazer.
Por que a sociedade aceita melhor 'o galinha' do que 'a piriguete'? E por que é melhor ser 'um pegador' do que ser... (detesto a expressão, pois é um rótulo) gay?
Nelson Rodrigues diz que se os Homens conhecessem, uns, a vida sexual dos outros, não haveria 4 amigos na face da Terra. Acho que ele parodiou Pascal, que havia dito, em Pensées, que se os Homens soubessem o que falam, uns dos outros, não haveria os tais 4 amigos.
Termino com uma questão: será que precisa tanta balbúrdia na mídia em virtude das permissões e proibições ao 'casamento gay', ou a mídia simplesmente aproveita o fato, como aproveita sequestros, assassinatos, escândalos, para ganhar dinheiro?
Francamente, pouco me interessa se aqui do meu lado, no outro apê do andar, há gays ou heteros. Só quero a garantia de que ninguém vai invadir ou me privar dos meus direitos como ser-humano.
PRONTO, EU DISSE! AGORA VEM E ME CRUCIFICA!

7 comentários:

Cris Medeiros disse...

Bom saber que está de volta. Adoro seus textos e da Cosette.

Agora estou "levemente" alcoolizada, portanto prefiro ler e comentar seu texto sóbria... rs

Sejam Bem-vindos!

Beijocas

Cris Medeiros disse...

Tô aqui lendo seus comentários e rindo...

Bom ter você de volta no meu blog com suas observações deliciosas.

Beijocas

Cosette disse...

Olha, bicho, como o próprio Jô Soares disse: " Não dando o meu, pode fazer o que quiser! Estamos numa culocracia."
Isso foi uma resposta que ele deu quando lhe perguntaram se ele era gay.

Se é ou se deixa de ser, não me interessa, e nem sequer deveria interessar a ninguém. É impressionante como que uma sociedade dita tão avançada e tão moderna, insiste em fazer da sexualidade alheia um tema de discussão.

Eu nunca convivi tanto com gays como tem acontecido nos últimos tempos. Na Faculdade de Letras é o que não falta. E um dos meus melhores amigos é gay assumidíssimo. Aliás, odeio esta palavra. Eles não estão num tribunal para assumir nada. Sempre que dizem que são 'gays assumidos', me dá a sensação de que estão confessando um crime.

Ora, eu não tenho que assumir que sou hetero, por quê é que eles têm que assumir que são gays?

O povão ainda não aprendeu que a 'escolha' sexual de cada um não define o seu caráter, nem torna ninguém superior ou inferior ao outro.

Enfim, é ridículo tudo isso.
Cada um é aquilo que é, não deve satisfações a ninguém e ninguém tem nada a ver com isso!

Ponto final.

Cris Medeiros disse...

Bem... Agora estou sóbria.. rs.

Eu só posso concordar com seu texto. Nunca entendi essa perseguição quer fazem aos gays. Se eles não estão prejudicando ninguém, apenas buscando seu caminho, sendo coerentes consigo mesmos...

Nunca me choquei com homens se beijando, mulheres se beijando. Meu ex-marido tinha como amiga uma mulher que sempre trazia a namorada aqui em casa. Elas se beijavam, olhava aquilo e não conseguia entender o que os outros viam de tão errado.

Acho que não nasci muito para esse mundo... rs

Beijocas

Jean Valjean disse...

Dama, 'levemente alcoolizada' quer dizer que v. chapou o melão?

Jean Valjean disse...

Reclamação às duas, Dama e Cô: eu não fui crucificado??? Ui!

Cosette disse...

Bicho, você é pró na arte da auto-crucificação. Não precisa que mais ninguém o faça. Tá?