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Sou avessa a qualquer tipo de regra gramatical, ou melhor, sou avessa a qualquer tipo de regra, sejam elas imprescindíveis ou não. Sou rebelde, dizem-me eles. Só porque eu não gosto de virgular aquilo que sinto. Será o meu coração o único a se negar a aderir tais regras gramaticais? A intelectualidade de um génio não está na aplicação de uma vírgula, mas sim, no conteúdo daquilo que é proferido. E que se foda o sentido. Com ela ou sem ela, ninguém, nunca, entenderá a cem por cento aquilo que digo. Nem eu sou capaz de me desenvencilhar dos embaraços cognitivos. E quando sou, não é a vírgula que faz com que eu me compreenda, e sim, aquilo que não foi dito. Isso porque para se entender aquilo que não se diz, é preciso levantar o manto negro que encobre os sentimentos mais profanos. É preciso decifrar aquilo que os olhos não vêem por se negarem a ler o que não é separado por uma vírgula. E, acima de tudo, é crucial que escutemos a voz dos nossos pensamentos. Aquela que lê em voz alta enquanto estamos em silêncio. A única que se faz escutar quando nos negamos a ler em voz alta. A mesma que se nega a ler as vírgulas porque virgular aquilo que se sente não faz sentido. Nunga gostei de vírgulas, para mim, a virgularização do coração é o maior erro gramatical da alma.