terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Breathe


Talvez a vida fosse melhor vivida se nós a vivêssemos sem nos apercebermos de que estamos vivos. Morrermos de amor sem darmos por isso. Sem cobranças nem promessas vãs. Vivermos apenas, sermos inteiros. Darmo-nos sem nos pedir de volta. Recebermo-nos de braços abertos. Sermos a nossa própria surpresa. Surpreendermo-nos. Viver é surpreendermo-nos com as coisas que nos rodeiam, como se fosse a primeira vez que as víssemos. Triste é aquele que já não se maravilha com nada, que se recusa a olhar para o mesmo quadro porque pensa que já viu tudo. Que se recusa a sair de casa porque acha que abrir a janela é mais do que suficiente. Ou então, aquele que nem sequer abre a janela porque lá fora a paisagem não muda. As árvores continuam as mesmas, a chuva não deixou de molhar e os pássaros cantam, há mais de cinquenta anos, as mesmas músicas. Estas são as pessoas que se deixaram morrer enquanto pensavam estar vivas. Falam, andam, respiram, sorriem. Mas o cordão dourado que as ligava à essência da vida, rompeu-se no dia em que decidiram fechar as janelas.

Um comentário:

Jean Valjean disse...

J'ai fermé les fenêtres, hélas!
Lindo e profundo texto. Acho que lucrei com esta parceria.