quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Estou aqui fora, com uma xícara de chá preto nas mãos, observando o movimento da rua, quando vejo o meu vizinho dirigir-se a mim. Vem sorrindo, vem com algo nas mãos, vem feliz. Convido-o a entrar para sentarmo-nos junto a mesa da cozinha. Ele segura-me pela cintura antes de chegarmos à sala. Arrepio-me com a frescura do seu nariz. Cheiras a rosas, diz-me ele. Numa das mãos trás um girassol mais amarelo do que o áureo do próprio sol. Cheiras a rosas do campo. Viro-me para ele e sorrio. Obrigada pela flor, vizinho. No momento em que lhe beijo o rosto, ele abre o primeiro botão do meu vestido. O quê estás a fazer, pergunto. Quero sentir o cheiro do teu corpo. O meu corpo cheira a rosas, respondo, impedindo que ele abra o segundo. Ele tem olhos azuis e bochechas vermelhas. Duas maçãs prontas a serem mordidas. O seu nariz traz pequenas sardas castanhas e os seus lábios trincam-se até fazerem feridas. Beijo-lhe os lábios com suavidade. As suas mãos dançam por cima do meu vestido, para cima e para baixo enquanto a sua língua baila harmoniosamente junto da minha, até cairmos para cima da poltrona que havia sido do meu pai, mas que hoje está demasiado funda para alguém se sentar.
Abre-me o segundo botão com os dentes. Estou por cima dele, tenho uma visão privilegiada dos seus olhos. Por instantes, sinto-me tentada a beber da sua água e a cair de cabeça no oceano das suas cores. No entanto, desvio-me. As minhas mãos descem até a sua cintura e despem-lhe a camisa sem que eu desse por isso. Quero, mas não quero. Não quero porque se quiser terei que me convencer que fui para a cama com o vizinho da frente. E nada será como antes. Ele inventará todos os pretextos do mundo para bater à minha porta, e eu inventarei todas as desculpas do mundo para abri-la. Mas quero, porque assim escuso de fechá-la a chave, e passo a deixá-la encostada para ele entrar.


Ele levanta-se, pergunta-me onde é o meu quarto e antes que eu lhe indique a direcção, já estamos na cama. Agora é ele quem está por cima. Impaciente, rasga-me o resto de vestido como um felino faminto. Arrasta a sua língua do meu pescoço até a barriga e para logo abaixo do umbigo. Arrepio-me. Penso comigo no que estaria a fazer se não estivesse prestes a abrir-lhe as pernas. Possivelmente, estaria dando alface aos últimos patos que haviam sido da avó Márcia. Ou então, comendo amendoins enquanto via a repetição de uma telenovela mexicana. Ou pior, fazendo as unhas dos pés enquanto praguejava com o homem do rádio. Talvez, não consegui pensar em mais nada, pois, quando dei por mim, já ele tinha a língua no meu ponto de prazer, e um misto de satisfação e insânia invadiu-me o corpo de rompante, fazendo-me arquear as costas violentamente. Sabia que ele olhava para mim. Tinha a certeza de que enquanto passeava a sua língua, os seus olhos encontravam-se fixos no meu rosto. Porém, só tornei a mirar-lhe a face quando acomodei-me por cima do seu corpo e o beijei até os nossos pulmões perderem o fôlego e os nossos lábios se encontrarem totalmente mergulhados no frescor das nossas salivas.
Passo a minha língua pelo seu torso e sinto o seu coração palpitar por baixo dela. Ele acaricia-me os cabelos e com os olhos fixos nos olhos dele, continuo a descer. Paro por baixo do umbigo e observo a sua expressão. Ele olha para mim sorrindo, e quando ele sorri, pequenos pés de galinha se formam em cada canto do olhar. És lindo, penso comigo, mas não és o tal. Continuo a descer e logo me deparo com a vivacidade do seu membro. Tudo o que ele pensava naquele momento, ia dar ali, na erectilidade do seu ponto de prazer. Levo-o de encontro ao céu da minha boca, e faço-o alcançar as estrelas. Ele suspira a alto e bom som e eu sorrio. Alterno a minha atenção entre o seu rosto e o movimento dos meus lábios. Ele grita: «Pára!» e eu não paro. Quero que supliques para que eu pare, quero que me puxes pelos cabelos até sentires a minha respiração no teu pescoço. E é exactamente isso que fazes, lês-me os pensamentos enquanto te engulo. Chupas-me a carne dos lábios com fúria enquanto te enfias dentro de mim. Sinto-te morno. Ao fim da tarde, abraço-me à exaustão do teu corpo e adormeço com a cabeça junta ao teu peito. Não aconteceu nada, nada disso é verdade. Antes de tu chegares, eu disse a minha mãe que não estaria em casa. E não estás, respondes-me enquanto vestes a camisa. Nós nunca estivemos aqui.

( Pronto, fiz um esforço. Mas não se surpreenda se daqui....hum...48 horas este post não estiver mais aqui. Ainda nem sequer postei e já estou arrependida......hahahaha)

11 comentários:

Jean Valjean disse...

Barbaridade... vou tomar uma água gelada e já venho.

Jean Valjean disse...

Cosette,
você definitivamente tem o DNA da família, mas tem muito, mas muito mais classe do que o Thiago e do que eu. Ainda volto.

Jean Valjean disse...

Vou voltar à Argentina só para eu e o 'desinfeliz' do seu irmão estudarmos um pouco de técnicas de eloqüência com 'catigoria', e reformularmos o que vínhamos pensando, ele há uns 39 anos, eu há uns 45...

Jean Valjean disse...

Fui tomar um bradicárdico e uma metade dum calmante, pois há certas emoções que, à orla dos 45, um ser-humano não deve mais sentir.

Jean Valjean disse...

Teologicamente falando, você não vai para o inferno por isto. Teologicamente falando, e também teleológica e sistematicamente, acho que ninguém vai para o inferno por um motivo só. Eu vou por pelo menos uns 54 motivos (a mais do que os 112 que imagino poderem compelir-me até lá).
Que texto...

Jean Valjean disse...

Estou aqui ainda, lendo e relendo. Isto é arte escrita para falar da arte vivida. Oxalá todos os artistas fossem felinos de grande porte, e todos os felinos de grande porte fossem artistas. E vamos esquecer o Fellini, ok?

Jean Valjean disse...

Ainda bem que ontem comprei um potinho de creme de jinguba.

Jean Valjean disse...

Oi, sou eu... não estou aqui de novo, mas AINDA. Arre(panhado)!
O que é isso? V. já pensou em criar coragem e a começar a escrever um pouco com o heterônimo da leoa indomável? Em vez de a mágoa da jaula que a prende, a fúria da liberdade que a faz vir ao mundo.
POODEEROOOOSAAAAA!

Jean Valjean disse...

I'm back! Uffaaa, é ler isto e suar frio... papaidocéu!

Cosette disse...

Cruzes, quando cheguei até assustei! hahahaha
Não, isso foi uma exce(p)ção à regra. Levei a "Leoa" prá passear um bocadinho, mas ela já está na jaula outra vez. Eu nem sequer a consigo ler! Saltei o texto todo e vim parar aqui! Só de pensar, já fico com as bochechas quentes. Não, não pode ser...

Beijão

Jean Valjean disse...

Melhor v. deixar a leoa solta e botar a Cosette na jaula, que a vida dá uma revi(da)ravolta e o seu mundo interior passa a sorrir novamente (já sorriu um dia, não?).
Leia tudo, re-viva tudo, e que bochechas quentes, que nada! Pense na sua temperatura no estado de leoa, e veja que as bochechas nem chegam perto daqueles 150 graus!