terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Just Talking...



Faz frio lá fora. Eu estou aqui dentro sentindo o frio lá de fora enquanto olho pela janela. Tudo está fechado: portas, janelas e buracos. Do tecto já não gotejam pingos de chuva do verão passado, e o soalho de madeira está seco. Faz frio lá fora enquanto olho cá para dentro. Chove, venta e neva. E eu agarro-me às cobertas deixando apenas os olhos destapados. Ninguém me entende, porque eu não digo nada. Olho pela janela enquanto sinto os meus olhos descongelarem. O branco da neve é idêntico ao níveo do creme que espalho pelo corpo, e a minha pele assemelha-se as rachaduras de um lago congelado. O tempo pesa-me como pesam os corpos por cima do lago. E o sol torra-me o cerne das feridas até sangrarem. Ninguém entende aquilo que eu digo, porque eu calo-me. Sento-me diante da janela para ver o gelo transformar-se em água. Do outro lado da rua, os galhos das árvores secas caem. Não são as árvores que estão secas, são os galhos. E eles caem como caem aqueles que confiam nos braços da felicidade. Nunca confiei nos seus abraços, sempre os comparei aos ramos queimados e ressequidos pela ausência de tempestades. Durante toda a minha vida, os julguei desmedidamente fracos para os meus ventos contrários. E eu nunca me enganei nos meus julgamentos, caso contrário, hoje não teria à minha volta uma colecção de galhos quebrados.

2 comentários:

Jean Valjean disse...

Sobrinha, eu já lhe conhecia este ensaio? Talvez não. Como tantos outros, lindo e triste...
Quem nos compreende não carece de que falemos. A solidão é um ignominioso labéu, que se nos tatua de maneira indelével nas costas - e que nos acompanha sempre.
Felicidade? Isto deve ser algum mito religioso, daqueles que se explicam apenas pela poesia.
A imagem dos galhos, da confiança, da sequidão a mancheias, do pugilo de inconformações, ah, como eu sei o que isso significa. Só que você explica de maneira linda, e a sinestesia é uniforme, equipolente, poderosa.
Em seus textos é delicioso sofrer. Alegre dolência!
Abreijos do tio!

Cosette disse...

Talvez já o tenhas lido, não sei...
Tu e a tua bola de cristal! hahahahaha
Ou, talvez, a Cosette esteja se repetindo e ainda não se deu conta.
Preciso falar com ela.

Beijoooo