quarta-feira, 20 de janeiro de 2010




Ó nuvens, malditas sejam, que me tapam a única chama áurea dos meus olhos. Os pássaros voam camuflados pelo vento que os sopra para longe, enquanto eu me apoio ao parapeito da janela, tentando, inutilmente, levantar voo. Malditos sejam os ventos contrários que, incapazes de suportarem o fardo do meu corpo, lançam-me, impiedosos, contra as pedras que me atiraram. Malditas sois, mãos que me apedrejam enquanto me vergo perante a tirania dos pecados. Nefastas garras que me apunhalam as costas enquanto me viro, e me acariciam as feridas no principiar das alvoradas. Malditos sejam todos vós que me escutam, pois aqueles que me entendem são os mesmos que me julgam e me condenam a viver junto as grades do meu infortúnio. Bem-aventurados sejam os raios que trespassam a barreira das sombras, pois são poucos, e brilham mais do que todos os outros que delas se alimentam. Ditosos sejam os passos daqueles que desconhecem o seu caminho, pois é no âmago das perguntas retóricas, que se encontram as respostas da vida. Felizes aqueles que nada sabem e morrem sabendo ainda menos, pois partem puros e desconhecem os monstrengos que carregam dentro deles. Triste de mim, que me conheço e me escuto e me vejo. Que mesmo trazendo duas asas ceradas, insisto em saltar da janela e partir de encontro aos pássaros encobertos pelas nuvens carregadas de cinzas. Ó nuvens, malditas sejam, que não me deixam ver o sol radioso detrás de vós, e me encerram dentro de um corpo que não sabe voar. Permitam-me, ao menos, iluminar metade do que sou, que a outra metade já não existe mais.

2 comentários:

Jean Valjean disse...

A julgar pelo texto, não vejo nuvem nenhuma: céu dourado, rutilante. Céu de Brigadeiro. As nuvens cederam ao seu entendimento e fugiram, envergonhadas.
Ah, por falar em Brigadeiro, saindo do campo da Aeronáutica e entrando no gastronômico...
Amei!

Cosette disse...

Aqui são 23:26.
Não me fale em brigadeiro. Faça o favor de não me judiar! :D