quinta-feira, 24 de junho de 2010

Epitáfio II

I

Aos vencedores,
A taça dourada.
Aos perdedores,
O pó da estrada.

O regresso
Parece sempre mais longo
Do que a partida.
E o bilhete para quem nasce
É só de ida.

O suor das pernas
É sempre mais grosso
Que o da cara.

E o cansaço pesa nas costas
Feito aço.

II

As colunas curvam-se
Em ângulos obtusos
Rentes ao charco.

Para quem fica, resta
Esperar que a poeira passe.
E para quem vai, 
Basta beber as águas de Março.

Se um dia encontrarem os meus ossos,
Diluam-nos em águas de creolina.

Desmanchem-nos como se eles não fossem partes
De alguém que não se despediu da vida.

13 comentários:

Jean Valjean disse...

A taça dourada tem algo a ver com o jogo de amanha?
Desculpe aí, sobrinha, mas o coração futebolístico falou mais alto...

Jean Valjean disse...

Versos fortíssimos, que na idéia bem me fazem lembrar Augusto dos Anjos. "Dissolva-se portanto minha vida/igualmente a uma célula caída/na aberração de um óvulo infecundo./Porém, o agregado abstrato das saudades/fique batendo nas perpétuas grades/do último verso que eu fizer no mundo."

Jean Valjean disse...

Gostei desta do bilhete de ida, viu? E olhe que o meu já vai para lá da metade...

Cosette disse...

Sabe que eu pensei mesmo na taça? Mas não me fale dela. Você viu o jogo Pt Vs. Br ? Ai.

Cosette disse...

Como assim o teu bilhete já vai para lá da metade? Ô drama da minha vida, você nem de meia-idade é ainda.

Cosette disse...

Vou mudar o meu nome para Cosette dos Anjos.

Jean Valjean disse...

Não precisa, pois v. tem identidade própria, menina. Fique Cosette Valjean mesmo que está de ótimo tamanho, que tal?

Cosette disse...

É...serve.

Jean Valjean disse...

Serve? Ingrata... tirei você do mundo amargurado, puxei-a pela mão, salvei-a de gente ruim e... serve?
Oquêi, c q sá

"Seo" Renato disse...

JV, é poesia, você não entende? A menina é uma artista nata, de talento irretorquível.
Já pensou? Tenho certeza de que se ela fosse convidada por alguma editora a escrever um livro ela JAMAIS se negaria. Jamais.

Cosette disse...

Ué, se eu tivesse algo para escrever, com certeza não me negaria!Mas eu estou planejando umas coisas que, se derem certo, eu conto.

O meu tio sim, deveria ser um exemplo! Deveria ter dezenas, quiçá, centenas de livros publicados. Não tem sei lá eu a razão. E você também, que de Decadente não tem nada, tampouco de Velhinho!
Deveriam ser os meus dois maiores exemplos!

"Seo" Renato disse...

Exemplos do que 'não' fazer. Mas você vem, ao que tudo indica, 'fazendo', não? Hihihihi
Não nos copie naquilo em que estamos errados, Cô!

Anônimo disse...

Tentei ser contra, mas não tem jeito: concordo em absoluto com a Cosette.