sábado, 17 de abril de 2010

Espectralizando.



Eu já não faço questão que acreditem em mim. Eu mesma vivo me desacreditando sem chegar a acreditar naquilo que digo. Não faço questão que sintam a minha falta, porque eu não sinto. A minha ausência manifesta-se através da falta de espírito. Contradigo-me porque metade de mim é uma mentirosa compulsiva, e a outra é descrente. Coloco-me sempre em causa, não porque tenho fundamentos, mas porque duvido. Sorrio, mas no fundo não passo de um grande ponto de interrogação no final de uma frase exclamativa. Todos os meus caminhos vão dar à um beco sem saída. Sou ridícula. Não sei como me comportar na minha presença. Pergunto-me se existo, ou se fui abandonada pela minha existência e agora não passo de um espectro. De um espírito que pensa que existe, mas só vagueia.Talvez eu seja a materialização daquilo que não devia. Paciência, agora só me destruindo.

4 comentários:

Cris Medeiros disse...

Adorei o texto... rs.. é a minha cara!

Beijocas

Jean Valjean disse...

Arrenóis (dos dilúculos & arrebóis)! Destruir-se? Não era melhor apenas e simplesmente aceitar-se? Eu tinha complexo de inferioridade até o dia em que me toquei que sou, de fato, inferior. E queria ser perfeito até o dia em que vi que isso é impossível. Um dia, ouvi uma pessoa dizendo que adorava cuidar de cãezinhos de rua, e já guardava (todos bem lavados, com lacinhos, tratados feito bebês mesmo) em sua casa - por sinal, enorme - uns 40. Aí o 'bom samaritano' ao lado dela disse assim: e por que a Sra. não cuida de crianças, em vez de cuidar de cachorros? A mulher dos cães respondeu na hora: porque eu não gosto de cuidar de crianças. Se cada um contribuísse com o mundo fazendo o que gosta de, com o que pode e com o que sabe fazer, não haveria necessidades. Assim, vamos dar um exemplo: por que o Sr. não cuida de crianças e me deixa cuidar de cachorros?
Riso geral na platéia.
Seu texto me fez pensar que às vezes exigimos ser o que o mundo quer que sejamos. Por que não mandar o mundo à puta que o pariu, e cada criatura à respectiva genitora? Prossiga aí com o seu jeito de ser, e escrevendo deliciosamente, e esqueça o berço de procusto em que o mundo a deitou, e o leito em que a deseja deitar. Não seria melhor assim?
Abreijos!

Celamar Maione disse...

O texto me fez lembra de Clarice Lispector.
Parabéns !

Celamar Maione disse...

Errata : LembraR