domingo, 25 de abril de 2010

Rasuras.



Eu sei porquê é que eu não sei aquilo que sou. Porque hoje nada mais sou do que um papel rasurado onde, antes de o ser, continha tudo aquilo que eu supostamente era e nunca soube. Não sabendo, conforme crescia, fui riscando aquilo que deveria ter sido, e aos poucos fui não-sendo.
Hoje, quase rasgando, com uma borracha tento apagar os rabiscos que fiz, de modo a conseguir ler o que lá fora escrito. Besteira a minha, visto que a borracha não apaga a tinta, e as palavras lá contidas jamais voltariam a ser o que eram.

Um comentário:

Jean Valjean disse...

Ei, v. está meio que parecendo comigo, num outro aspecto: eu amarelei livros em páginas com passagens que me interessavam, e hoje as páginas estão tão amarelas que não se percebe mais o que é branco e o que é amarelo.
Quanto a mim, sou eterno rascunho indelével.
Sei lá se o que falei faz sentido, mas você há-de entender.
Abreijos!