quarta-feira, 9 de junho de 2010

Eu não queria amar de novo... não agora.

Luto contra um sentimento que considero perigoso. Ele chega como um simum, e embora se lhe possam pressagiar a força, o ímpeto e os estragos que causará, quando de fato avulta é assustador.
Desgraçados os que amam, pois sofrem. Sofrem de um mal que quanto mais nos vê sofrer mais nos leva ao torvelinho da dor.
Devia haver um círculo no inferno dedicado apenas ao amor. Infeliz de quem caia nessa rede de Hephaístos; triste o que perca o prumo e sinta o perfume das flores, no campo, levado a lembrar-se de outro alguém.
Não, isso não é certo. É um castigo de Deus para o pobre mortal. É lá que se nos flagra em desequilíbrios de fraqueza, prantos escondidos, suspiros que se engolem, olhares que não podem e... se cruzam. E quando se cruzam lá vem a pororoca.
Amor é dor, é ausência de paz, é turbulência quando se imaginava tranquilo o voo, é renúncia à razão, é o fado, mas o fado fadado ao infausto.
Tudo se dá como se Cloto, Láquesis e Átropos viessem até nós e avisassem: "vamos puxar violentamente o fio de sua vida." E tome earthquake, e tome aftershock.
Não se escolhe amar. O amor nos escolhe. Escolhe-nos, da casa grande para a senzala. Esta a direção da coisa. Pensamos estar livres justamente quando o cárcere se fecha.
Amar é condenar-se a ser fruto inconho; é impingir-se o castigo de um jugo pesadíssimo sobre a cerviz, que passa a andar sempre curvada.
Amar é uma doença contra a qual penso haver logrado imunidade - a vacina do tempo.

9 comentários:

Cosette disse...

Fugir para onde?
Lá vem ele com a sua mania insuportável de querer controlar tudo e todos. Os que se aproximam, ele interdita a passagem tipo segurança de discoteca. Os que tentam, mas se afastam por causa da segurança ferrenha, ele fica vigiando para ver se realmente viraram a esquina. Os que não tentam, ele já trata de avisar para que não se aproximem. E para os que insistem, a solução que ele encontra é ignorar até que desistam.
E eu pergunto: Você está lutando contra o quê? Contra o amor? Desiste, pois essa luta assemelha-se àquela do cão querendo morder a própria cauda. Fica rodando em círculos até cair tonto, ou pior, até dar uma cabeçada na parede. Travar uma batalha contra o amor, é o mesmo que querer lutar contra a própria sombra. Não dá. Não se pega, não se alcança, ela não vai embora. Essa tua insistência em querer determinar o tempo certo de amar e ser amado é absurda, pois você agora está querendo controlar três coisas que não lhe pertencem: o amor, o tempo e a outra pessoa. Sem falar que as duas primeiras são completamente distintas, pois o amor é intemporal.
Você mesmo diz que não se escolhe amar, e antes disso diz que não quer amar agora. Então quando? Há uma data aí na agenda, ao lado das reuniões? Porquê não aproveitar o agora, enquanto é forte, inteligentíssimo, disposto, lindo por dentro e por fora (por mais que diga o contrário, mas isso é por causa da visão turva causada pela armadura que já não despes)? Você, na verdade, não poderia estar mais pronto.Porquê não aproveitar agora? Não somos nós que vamos embora do amor, é ele que vai embora de nós (quando vai). Por isso, esta tua fuga não tem cabimento.

Cosette disse...

O amor não é turbulência, nem ausência de paz. Ele é o que tu fazes dele. Nós somos a turbulência, a dor e a ausência de paz. Nós sentimos tudo isso com ou sem amor. Nós é que intelectualizamos o que não deve ser pensado, nem agendado, tampouco controlado. Que nos fragmentamos, tentando encontrar, veja só, uma verdade absoluta. O sentido da vida e respostas para as nossas perguntas. Tentando nos encontrar como se realmente quiséssemos estar ao nosso alcance.
Tio, baixe as armas. Eu já disse: tire o paletó e vista-se de turista. Não vale a pena querer impor barreiras a algo que, por si só, tem por objectivo romper com todas elas. Não é o amor que te enclausura, é ele que está aí dentro, enclausurado dentro de você, como se fosse o culpado pelas tuas dores, sem direito a defesa. Faça assim: dê-lhe a liberdade condicional, ao menos. Ou proponha um regime semi-aberto, por enquanto.
Esta tua luta é inútil, e você sabe muito melhor do que eu. Tão inútil que até me dói ler.
Agora sim, eu fui dormir.
Beijos!

Cris Medeiros disse...

Bem... Vou dar uma de psicóloga barata... rs... Parece que se apaixonar te trouxe muita dor, do tipo "amar e não ser amado" e outras semelhantes, por isso você ficou com uma espécie da trauma do amor...

Uma paixão correspondida pode ser muito benéfico, pode iluminar nossos dias, deixar tudo com um ar maravilhoso...

Pena que me encontro no estágio que você quer ficar. Total "não apaixonar-se" e fiquei assim por tantas decepções nessa esfera. E pra dizer a verdade vivo mais feliz assim... rs... Parece que tem gente que nasceu pra dar sorte nessa área e outras pra ser f*derem!... rs

Beijocas

Anônimo disse...

"tire o paletó e vista-se de turista"...
e
"dê-lhe a liberdade condicional, ao menos. Ou proponha um regime semi-aberto, por enquanto."

OH, Jean..eu nem quero acreditar!!!!
Ao menos, segue com verdade as palavras sábias da tua sobrinha!!!
Faço minhas...todas as palavras dela...
Abração

Agora para a Cô!
Onde é que aprendeste isso tudo, menina? Gosto desse teu manual...
estás a surpreender-me constantemente. Não basta já os post...como tb os comentários...
Fabuloso!
Agora...é que o teu tio vira do avesso!!!!eheheh
Beijo, Cô.
afonso rocha

Jean Valjean disse...

Cô, de visão obnubilada neste momento, tentando evitar o inevitável, nem tenho o que responder. Vou refletir acerca dos seus admoestares, pois que merecem. No words to thank you!

Jean Valjean disse...

Dama, é isso, sim. Você não é psicóloga barata, mas das boas! Não sei quanto às paixões correspondidas, pois bem podem ser dores bilaterais. Paixões vêm com o viço das flores e vão com o aroma da decomposição. Não cheguei ainda ao estágio em que você parece já haver atingido, mas estou bem perto dele. Quero atingir o ateísmo, em termos de paixão.
Abreijos!

Oooopaaaa, havia esquecido os abreijos da Cô! Abreijos, Cô!

Jean Valjean disse...

Pois é, Afonso... esta menina, embora tente esconder, tem um I.Q. que beira os 200. Eu, que a conheço desde rebento nos vergéis da intelectualidade, vergôntea no jardim da infância, já ouvia das professoras: "Jean, ela tem que ir para escolas especiais, onde se saiba ministrar o ensino aos superdotados do intelecto."
E assim foi. Ei-la, que não me surpreende mais - gênio, tanto para apoiar como para me pisotear, quando necessário hehehehehehehe!

afonso rocha disse...

Hoje estou triste. Aliás esta noite...e talvez para desanuviar...
vim visitá-los, pois têm o dom de me fazer esquecer as tontices e as alarvices da vida.
A dama de cinzas é boa psicóloga?
Tô precisando...

"Paixões vêm com o viço das flores e vão com o aroma da decomposição."

Como sei bem, Jean...isso aí!
Só que passada uma semana, agora, bicho já sabido...(mas às vezes cai....que nem burro)anda com máscara na sacola...para na hora indicada...não lhe sentir o cheiro...
(sem eheheh)
Cuide-se Jean! C'ést la vie.
E não tenha medo de se apaixonar ou paixonar-se. Doem...mas não matam...por enquanto!Nem mordem!!

Jean Valjean disse...

Só hoje o vejo aqui novamente, Afonso. Espero que triste não esteja mais. A Dama de Cinzas é excelente psicóloga, como você bem pôde notar. Os dois blogs dela são fantásticos, exalam inteligência e bom-senso.
Como ela disse, o medo vem dum sofrimento d'outrora. Gato escaldado... o uso do cachimbo... e outros ditados deste naipe.
Um abraço, meu caro!