segunda-feira, 21 de junho de 2010

Shame on you!



A morte de Saramago fez-me presenciar, de certo modo, a morte de tantos outros que Portugal fez o favor de matar antes mesmo de morrerem.

Para mim, para além da tristeza ou de qualquer outra lágrima que tenha ameaçado cair, está um imenso, enorme, gigantesco, desmesurado, descomunal e titânico sentimento de revolta. A dor da perda misturada com o inconformismo que sinto ao ver nas faces de alguns, o contentamento, e noutras, um falso pesar. A repugnância que sinto por um Presidente que recebeu um Papa de m* de maneira magnânima, não medindo esforços para transmitir um falso esplendor de um país que, no fundo, está para lá do fundo do poço, mas que se negou terminantemente a marcar presença na cerimónia ao único português Prémio Nobel, claramente por motivos políticos. Não foi solicitado que ele chorasse, tampouco que se debruçasse sobre o corpo de Saramago, foi pedido apenas que marcasse a sua presença – coisa que nem sequer se deveria pedir, visto ser clara, pelo menos para mim, a sua obrigação como chefe de Estado.

Mas ele não foi – não pelo que eu saiba. Posto isto, concluo algo que sempre soube: este Presidente é, sem tirar nem por, um belíssimo reflexo do seu povo. Gentinha de mente afunilada, de alma e espírito rancorosos. Um povo mergulhado num Catolicismo negro, inflexível e que age em oposição àquilo que prega.

 Portugal é um país ditatorial, albergue de um povo falsamente livre. Ai de quem não siga as regras! Ai de quem ouse erguer a cabeça entre os subordinados, e se atreva a reagir contrariamente! Ai de quem tenha provas contra o partido socialista mais corrupto e contra o Primeiro-ministro mais mentiroso que alguma vez vi. O que havemos de esperar de um Ministro que se diz engenheiro, cujo diploma é falso e assinado a um domingo?

Saiu uma nova agora: Por causa da crise, as famílias estão buscando os seus velhinhos dos asilos e levando-os para casa. Ataque de compaixão? Saudades dos pais, das mães e dos avós? Não. Buscam-nos somente por causa da miserável reforma (aposentadoria) que recebem ao fim do mês. 

Custou-me crer, mas por pouco tempo.

Por outro lado, saiu ainda uma outra notícia: Para gastarem menos, os portugueses preferem diminuir os gastos da alimentação e dos medicamentos, em vez de se livrarem do segundo carro, ou venderem o plasma da sala, ou diminuírem as viagens ao exterior. Posto isto, eu me pergunto em que mãos estarão os doentes, sejam crianças ou idosos que precisam dos remédios e de uma alimentação minimamente decente. Sem falar que Portugal está definhando aos poucos, visto que a população é maioritariamente idosa e a taxa de natalidade é praticamente nula. O interior do país está desaparecendo, transformando as aldeias alegres de outrora, em aldeias fantasmas. Centenas de escolas fecham todos os anos porque são muitos estabelecimentos de ensino para poucos estudantes.

Dá para acreditar numa coisa destas? Agora morre o único português Prémio Nobel da Literatura, e o Presidente (hiper católico) age como se nada fosse. Como se tivesse morrido o Zé da esquina. Um tuberculoso sem pé-de-meia. Mas quem morreu foi Saramago, o homem mais lúcido das últimas décadas. Lúcido o suficiente para mandar esta terra pro inferno e ir viver na sua ilha.

Estou certa de que isolar-se foi a melhor coisa que lhe aconteceu. Portugal não merece, nem nunca mereceu, os génios que Deus lhe deu.



5 comentários:

Jean Valjean disse...

Putz, você tão empolgada aí, falando do Saramago, e eu sou obrigado a confessar que... bão, xapralá.
Nobel ganhou também Obama, o da Paz, não é?
Viva Madre Tereza e viva a minha amiga Sarah-Slowaska-Mago!

Anônimo disse...

Ué, confessar o quê Jean?
Viva eu?! ui!

Jean Valjean disse...

Sarah, você é ótima! Tenho certeza de que minha sobrinha tem algum ciuminho de você, mas não ligue. É coisa da idade, ok?

Cosette disse...

Ciuminho? Da Sarah, ainda por cima? Até parece! O meu tio se acha.
Sarah, é ele que morre de ciúme(s) de mim.

Jean Valjean disse...

Ah, é você que morre de ciúmes da Sarah, aquele mulherão! Ela sim, tá podênu.