quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sobre o Medo.

Antes de escrever este post, me perguntei qual era o meu maior medo. Por incrível que pareça, levei um bom tempo tentando encontrar uma resposta. Tenho medo de quê? De morrer? Não. De ser morta, talvez. De sofrer um acidente? Não. De perder um ente querido? Não. De ficar sozinha? Não. De ser raptada por Aliens? Não, seria demasiado bom. De ficar em coma durante anos? Não, porque nunca me deixariam neste estado. Já disse para desligarem as máquinas. Então, do quê é que eu tenho medo? De cobras, ratos, tubarões? É medo, mas não chega a ser aquele medo pavoroso.Eu estou a falar de um medo que nos apavora. Que nos desestabiliza só de pensar em tal possibilidade. Tenho medo de dormir e não acordar? Não. De ser enterrada viva? Isso já está relacionado com a minha claustrofobia. Sim, talvez um dos meus maiores medos seja o de ser enterrada viva. É provável que isso aconteça? Não, porque eu quero ser cremada. Então, em que ficamos?

Eu lembrei-me deste tema, porque coisa de uma semana atrás, estava assistindo uma entrevista na GNT - no programa da Marília Gabriela - em que um psicólogo, terapeuta, médico e não sei mais o quê, dizia que o medo não era inato. Que no momento do parto, o bebé chora não porque tem medo, mas porque sente incómodo. Segundo ele, nós nascemos sem medo. O medo é cultural. Eu não concordo muito com isso. Até onde sei, o medo é considerado uma emoção primária universal, ou seja, uma emoção evolutiva compartilhada por todas as culturas, e é associado a processos neurais e fisiológicos próprios. Visto que a emoção nada mais é do que uma junção de respostas neurais e fisiológicas, não tendo nós controle(o) sobre os mecanismos neurais indutores da emoção, nós não somos capazes de exercer fiscalização completa, directa e perfeita sobre as nossas reacções emotivas.

O recém-nascido pode não saber que é medo o que ele sente, mas a verdade é que as emoções são o resultado de dispositivos bio-reguladores com os quais todos nós nascemos, e para mim é um bocado impensável que estes reguladores não se activem no acto do nascimento. E não só no acto do nascimento, não são estes terapeutas, médicos e cientistas que estão sempre dizendo que o feto sente tudo o que acontece no exterior? Porquê é que quando uma mulher sofre um acidente, uma das primeiras coisas que se faz é ver como o bebé está? Nota-se um batimento cardíaco elevado, sente-se contracções, e daí para pior. O feto sente: sente o movimento brusco, a pancada, a adrenalina da mãe, provavelmente sente dor, e sem dúvida alguma – pelo menos para mim – sente medo.

Sendo assim, duvido que aquilo que o bebé sente quando está sendo arrancado das entranhas da fémea, não seja medo. Ele esteve lá quentinho, quietinho, sossegado durante meses, e de repente, surge uma luz no fim do túnel com uma mão monstruosa e dedos compridíssimos puxando-o pela cabeça…E ele não sente medo? E mal sai ele do ninho, é virado de cabeça para baixo para levar uns belos tabefes do médico. Um monstro “ de disforme e grandíssima estatura; / O rosto carregado, a barba esquálida/ Os olhos encovados e a postura medonha e má", "(…) crespos os cabelos/ A boca negra, os dentes amarelos.” (Lembra, tio?) E é incómodo que o neném sente? Ora, façam-me o favor! Sem falar na p*ta da agulhada que lhe dão no dedão do pé…


5 comentários:

Jean Valjean disse...

Uia, bem vinda ao mundo dos claustrófobos! Avemariamãedocéu, até isso?
Lembrar? Ah, nem a pau. Se fosse de algum autor importante, eu lembraria; contudo, esses autores menores, mormente os quinhentistas, não me fazem gosto. Quem será? Algum panegirista de Portugal? Algum apaniguado do sistema? Quantos olhos tinha? Esta parte é muito importante, afinal, em terra de cegos, quem tem um olho... hm...
Pergunta final, com hehehehe: você escreveu no blog certo? Hahahahahahaha! Que D+!

Furlan disse...

Ué, entrei aqui e vi o item comentários zerado. De repente, há um do Jean. Está com defeito o blog?
Interessante essa sua visão do Adamastor. Sabe que eu nunca havia associado? Gênio! Uma visão open de um mundo narrow. Você é fantástica. Dá de 10 a zero no bobalhão do seu tio, sabia?

Anônimo disse...

É, o blog em geral anda meio estranho. Gênio? Ah não...! Gênio foi Camões e continua sendo. Ela limitou-se a usá-lo como cobaia, e por acaso até deu certo.

Cosette disse...

É, eu tou sempre usando Camões como cobaia. É uma tara minha, ele e o Mayer.

Furlan disse...

Mesmo assim, eu sou mais Camões que o Mayer...