quinta-feira, 6 de maio de 2010

O 'dar' e a dor

Vem chegando o dia das mães, e eu detesto datas. Não me dou bem com datas, com rótulos, com dias que as pessoas nos empurram goela abaixo e dizem que temos de ser hipócritas e amar alguém. Dia da secretária, dia do índio, da consciência negra, dia dos namorados (ou que nome tenha), dia internacional da mulher (?), natal e o escambau.
Se você gosta de alguém, se tem consciência de alguma coisa, se quer proteger, ajudar, fazer, interferir, a rigor não é necessário marcar dia. É que povão é povão, e temos de ser tratados como rebanho. O rebanho tem pastor, tem almocreves e tem rafeiros, enquanto nós temos a mídia, os marqueteiros e um apelo constante para façamos o que eles não fazem, embora digam devêramos fazer (perdoem-me as elipse e enálage consecutivas, mas não pude evitar).
É preciso instituir dias de consciência, sim, pois o povo - lato sensu - ainda não tem consciência. O povo brasileiro ainda não. Vá à Suíça para ver como eles agem. Até as leis são diferentes por lá, pois o povo é tão educado (embora seja triste e fria a convivência) que quase é desnecessário determinar em lei que eles procedam comme il faut, pois eles procedem. Não há um Código do Consumidor por lá, pois tudo se regula pelas leis da concorrência! Experimente-se o mesmo, no Brasil... bom, um dia talvez cheguemos lá - assim como o Coringão um dia ainda vai ganhar a Libertadores, e o Ronaldo ainda vai perder peso, &c.
No ponto em que auxiliem o comércio e, de conseguinte, gerem emprego, vá lá, defendo os tais 'dias' disso e daquilo. O Brasil é um país pré-famélico, o povo não tem trabalho e... pausa para comentário: é incrível como aqui nas plagas tupiniquins, nas nesgas de Cabral, há uma burguesia mal-resolvida que não trabalha! Vivem no clube, farting around, e ... tudo bem!
Um país se faz com homens e livros, disse Monteiro Lobato. O homem, aqui no Brasil, o atual presidente da república, orgulha-se de não ler e de não gostar de ler. Olha, não é ler para arrotar conhecimentos, não. É ler para rever a própria postura, ler para introjetar, ler para viajar no rico e inexplorado mundo interior, tão desconhecido quanto belo, tão incógnito quanto inóspito, desde sempre.
Chega, agora volto ao dia das mães.
Minha mãe passou 2009 inteiro e mais, até ontem, me botando contra meus irmãos, e vice-versa. Até de "fratricidas" nos chamou, aos três. Hoje ela telefonou para dizer:
- Filhão, você vem me ver, no Domingo? Senão vou me sentir "mãe-órfã".
Meus irmãos (diga-se: os outros dois filhos dela) não vão. Eu ainda estou pensando em cumprir o mandamento que diz "honrarás teu pai e tua mãe".
Confesso que preferiria ir em qualquer outro dia, como sói ser: volta e meia estou lá, para dar apoio a ambos. Mas precisa rotular "dia das mães", só para deixar triste (ou alegre, sei lá) quem já não tem a sua, constrangido quem a tem, e não quer ver, e incentivar a hipocrisia em muitos, muitos mesmo, que vão comprar o presente só para dizerem que...
Ah... como é fácil botar rótulo de Brunello de Montalcino em Sangue de Boi!

8 comentários:

Cosette disse...

Óia, eu também não dou a menor atenção a qualquer tipo de data comemorativa, principalmente aquelas cujo objectivo maior é arrancar o nosso dinheiro do bolso, mas eu acho que você deveria ir sim. Não porque é 'dia das mães' - até porque dia de mãe e de pai é todo o dia - mas por ela. Se os outros dois farão o mesmo ou não, isso não interessa. Faça você a sua parte, não custa nada.
Até porquê eu acho que deve ser especialmente triste para elas, não estarem com os filhos 'no seu dia.'
'
Vai sim.

Cris Medeiros disse...

Há dias e dias, querido! Natal, Páscoa, dia das mães, dia dos pais, algumas são religiosas e comerciais outras puramente comerciais. Já o Dia da Consciência Negra, Dia da Mulher, Dia do Orgulho Gay, são datas que marcam uma luta, essas eu acho interessantes para reforçar a necessidade de mais mudanças positivas...

Mas devo confessar que não sou chegada a datas comerciais e dia das mães é puramente comercial... Minha mãe já me conhece e sabe que não vou procurá-la só nesse dia, estou disponível todos os dias...

Quanto ao Brasil, concordo com você. Não sou muito fã daqui, é o meu país e tenho que viver nele, mas tem muita coisa que discordo...

Quanto a seu comentário no meu post... ehehe... Realmente, me interesso mais pelo que vai dentro de um cara do que pelo seu exterior, mas tenho que confessar que namoraria um advogado, um evangélico, mas gordo acho meio difícil... ahaha... Aí é uma questão de gosto pelo que estou vendo... ehehehe

Beijocas

Furlan disse...

Jean, concordo com você. Adorei os exemplos voltados para a consciência que aqui não há e na Suíça há. É preciso, sim, criar isto.
Afinal: você foi ou não foi ver sua mãe?

Cosette disse...

É verdade. Você foi ou não ver a minha tia-avó? Não que eu queira realmente saber, não que você se importe com o meu interesse, mas...sim, esclareça-nos mesmo assim.

Cosette disse...

Tia-avó? Hein? sei lá.

Cosette disse...

Nada a ver.

Anônimo disse...

É claro que foi, como o bom filho que é.

Jean Valjean disse...

Ih, Cô, cada pergunta difícil... mas tá mais pra tia-avó, é isso. Tem a ver, sim.

Pois é, Sarah, fui, sim. Não por ser bom filho, mas para não ficar com a consciência mais pesada ainda!

Abreijos às duas!