terça-feira, 9 de março de 2010

É aqui que me escondo

Cosette, é aqui que me escondo: entre as quatro paredes desta sala virtual. Descobriram-me, apagaram meus textos (deliram textos que às vezes deliram), mas agora estão proibidos de voltar a fazê-lo. E aqui voltou a ser meu tugúrio.
Quero paz. Quero andar pela sombra. Sem agredir ou ser agredido. Sem conhecer ou ser conhecido. Sem... sem ter de explicar nada a ninguém.
Você tranca a porta, por favor?
Só não apague as luzes, que hoje não quero escuridão. A sombra deve ser parcial, distante do breu.
Vou deixar meu cérebro de molho num copo com formol, para evitar a rápida decomposição que assoma. Vou botar os olhos na geladeira, pois o fogo os consome. Minha boca, esta ficará apoiada, pelo queixo, na amurada dum navio. Vou espalhar meu corpo pelo mundo e ficar aqui, espírito, espiando.
Queria a graça de não-ser, por alguns instantes. Queria o silêncio anterior ao big-bang. Queria não ter sido criado e, incriado, permanecer para sempre inconsciente. Onde coloco meu tronco? Acho que ao lado de alguma árvore. A cabeça, já sem o cérebro (de molho), posso deitar no seu colo? Só quero dormir um pouco, não vou incomodar. Se uma lágrima escorrer, nem se abale: é o resíduo dum pensamento triste, que ficou por dentro da ossada da face, nada mais.
O que me faz querer a paz dum jazigo? Por falar em epitáfios, fiquei pensando em mais um: "agora está deitado o morto que até ontem estivera em pé: só mudou de posição, mantendo a condição."
Baixinha, a música, ao fundo, é a preferida do Thi (que, desgraçado, quase me mata de saudades): L'Ultima Neve...
Vou para outra dimensão, com os personagens de C.S. Lewis. Se der, eu volto. Aqui, entretanto, eu fico. No catre 'dentro do ângulo diedro da parede' imaginária. Perfeição é relativa. Deixo-me aqui e vou embora, pensar numa outra fuga.
Abreijos!

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