Acho que a questão da sexualidade nunca esteve tão acesa como nos últimos anos, principalmente agora, com a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo. E no meio disso tudo, há uma coisa que vem me incomodando cada vez mais.
Unido a este grande passo, vieram os debates acesos, as discussões, os argumentos e, principalmente, uma belíssima dose de intolerância. E é ela que me incomoda. Mas espera, este post não tem o intuito de levantar bandeiras para os homossexuais e companhia, aliás, eu nunca levanto bandeiras por ninguém. Refiro-me àquelas pessoas que sofrem por se manifestarem contra a preferência sexual de determinada pessoa. Que se vêem sufocadas, que são intimidadas por possuírem uma opinião distinta da maioria, e por fazerem questão de não serem politicamente correctas.
Cá entre nós, tem muita gente que se diz à favor desta nova medida, mas que na verdade, bem no âmago do seu ser, não a aprova. Tem muita gente que diz não se incomodar com os homo, bi, tri, trans, pansexuais, mas se formos ver bem, quando confrontadas por algum familiar com alguma dessas preferências, não a aceitam de modo algum. Ainda existe muita gente que diz que SIM, mas que na realidade deseja berrar um belo de um NÃO. Mas e por quê não o fazem? Por quê é que se privam do direito de não serem pró a algo que vá contra os seus valores?
Eu não sei se sou eu que sou muito chata, muito implicante, mas acho que por detrás disso tudo existe um cinismo muito grande. De um dia para o outro, a sociedade tornou-se favorável ao casamento homossexual. Todos aprovam, todos acham que tal acontecimento tem que ser legalizado. Depois de séculos e séculos vivendo num obscurantismo medonho, o povo abriu as janelas e hoje ninguém se incomoda com isso; todos acham super natural dois homens se casarem e usarem vestido, véu e grinalda... Atenção! Eu não sou contra, até porque essa coisa de igreja não é comigo. O que eu quero dizer é: os homossexuais não venceram a guerra, foi o opositor que desistiu da batalha. A sociedade continua cínica, arrogante e preconceituosa como sempre foi! A nossa mentalidade mudou para muita coisa, mas no que toca ao casamento ela continua conservadora. Não cessaram os olhares tortos, as famílias envergonhadas não desapareceram e aqueles que julgam a homossexualidade como sendo uma patologia, continuam achando. Portugal, por exemplo, um país conhecido pela forte presença do Catolicismo, só promulgou o casamento por uma questão governamental. O próprio Presidente da República o disse ao vivo, para todo o mundo ouvir. No fundo, ele só deu o seu consentimento porque este ano é ano de eleições, e ele quer continuar à frente do país. Ponto final.
Voltando aos que são contra e não dizem que o são, acho que têm todo o direito de manifestar o seu desagrado perante tal situação. Não têm o direito de oprimir, de ofender, de humilhar, mas têm o direito de serem contra, sejam as suas justificações aceitáveis ou não.
A liberdade de expressão está e sempre esteve em crise, e no fundo aqueles que levantam suas bandeiras, não o fazem sem pisotear a bandeira de outrém. No nosso meio, o tirano passa a oprimido numa questão de segundos, e vice-versa. É por isso que permaneço neutra na maior parte dos casos. E neste tema em particular, opto pelo mesmo: não sou contra nem sou à favor, porque creio que não temos que ser prós nem contra a opção sexual de alguém. O que acho intolerável é a falta de respeito existente dos dois lados: se alguém diz que é contra, pode esperar porque logo cairá meio mundo de gente cínica em cima dele. Se, por outro lado, manifestam-se à favor, esperem o mesmo. Todos querem ter a palavra sobre uma opção que nem sequer deveria ser colocada em causa(...)
E aí, como ficamos? Promulgamos o casamento entre pessoas do mesmo sexo porque realmente o vemos com naturalidade, ou o fazemos simplesmente para que se silenciem as vozes de uma vez por todas, ainda que isso implique uma falsa sensação de justiça ?