domingo, 7 de março de 2010

Amizade e Confiança - Jean Valjean

Se tiveres um amigo,
dá pra ele confiança;
dá-lhe generosamente,
como se fosses criança.

Se houver amigo teu
que confiança te dê,
não pegues o que se deu:
dez por cento do ofertado
já será demasiado,
garanto-o a quem me lê.

Confiança é bem sagrado,
que só por ser ofertado
já mostra amizade intensa;
bem suave como a rosa,
que, se a tiro do canteiro,
deixa de ser formosa
pra morrer sem cor, sem cheiro...

Confiança é, pois, intangível:
deve ser, sim, ofertada,
mas é para ser negada,
pois deveras perecível.
Deve ficar na vitrine,
ou ser raio que ilumine
a água, a alfombra, o prado,
mas sem poder ser tocado.

Demonstração de amizade
de duas partes sinceras
é oferecer confiança,
(aquele que a oferta)
e recusá-la, deveras
(aquele que a desperta),
demonstrando sobriedade.

Confiança é bem etéreo:
lisonjeia a intenção
de se a oferecer
e o bom-senso (que mistério)
de nunca se a exercer.

É que quem dá confiança
confia em quem a receba:
guarda sempre a esperança
de que este logo conceba
que é apenas depositário,
e jamais o donatário
de um bem que, se for tocado,
perde o que tem de sagrado...
e um toque que a desagrade
despertará inimizade...

3 comentários:

Cosette disse...

Inspiradíssimo! Não tecerei maiores elogios porque senão umas certas criaturas vêm praqui dizer que eu estou puxando o saco do meu tio. Limito-me a dizer que a mensagem é linda, mas não me dobra.
Eu já não dou nada a ninguém.

Beijo tio!

Jean Valjean disse...

Como assim? Hoje mesmo eu pedi um colinho e você deu, ora essa é boa...
E vai às compras, traz presentes para todos, menos para si. Enfim, dá, sim, e muito!

Cosette disse...

Hahahahaha quem lê isso até pensa que eu sou um amor... Até eu me julgo adorável.