domingo, 14 de março de 2010

Derrotado.


Eu vejo o verde detrás do verde
E o lado cinzento do azul.
Vejo o avesso do amarelo tornar-se roxo
E o vermelho enegrecer-se
Nos bordados do lençol.

Vejo asas nascerem nos peixes
E larvas voarem feito borboletas.
As crianças saltam a corda,
Tocam flautas e trombetas
Enquanto eu fito a minha sombra
Afundar-se no leito do rio.

Sentada na margem, congelo,
Enquanto, lá dentro, sinto frio.
Olho para cima, o sol brilha.
Olho para baixo, sorrio.

Judas, aleivoso, estende-me os braços
Enquanto afundo.
Estico os meus, tento abraçá-lo,
E quando acordo, sinto-me descer
Lá mais pro fundo.

Sentado, ele fita-me
Austero e soberano.
Pergunta-me o que eu quero:
“O mundo ou o submundo”.

Miro-o de volta,
 Digo-lhe: “ Quero tudo!”
Ele sorri, bate palmas.
Levanta-se da cadeira,
Sempre mudo.

Sozinho, abre a porta,
Despe o traje,
Olha-me mais uma vez.
Eu, decidida, não digo nada.
Ele, desiludido, parte
Inconformado com a sua pequenez.

2 comentários:

Jean Valjean disse...

Putaquepariu...
Ok, vou diminuir com palavras a força da sua imagem: é de uma ironia tão fina, e de uma inteligência tão aguda, que... putaquepariu!!

Jean Valjean disse...

Que coisa, é como se eu visse a cena. Putaquepariu!