segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ser 'apenas' mito

Enquanto seja mito, não terei de arder com o sol escaldante, descalço sobre as areias adustas e perdido nos desertos inóspitos da realidade.
É melhor ser mito.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Fim.












Ao longe, a despedida:

O fim do mundo está dentro de mim;
O fim e o princípio de tudo;
O princípio de algo que não tem mais fim;
O findar de algo sem princípio.

Do meu big bang restou o vácuo de um espaço sombrio,
E dos meus olhos uma miscelânea de cores invisíveis e turvas.

O meu corpo é um planeta vazio,
E minhas verdades secaram meus rios
Perante a finitude da vida.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Não gosto de mim

Sou um algo em desagregação.
Minhas lágrimas já formam estalactites sobre as bochechas. Os prazeres desta vida são todos tantálicos e os moldes que me deixaram cheiram a Procusto.
Os esforços sisíficos, excruciantes, toldam-me a visão e me aniquilam a saúde.
No fundo desta caverna vejo grilhões. Eu os prendo lá, e não o contrário. A luz fere os olhos, os olhos ferem a alma, a alma fere a vida e a vida... nem é vivida.
Ontem era Ano-Novo, em alguns segundos veio o Carnaval. Já chegava a Páscoa, e eu não passei. Não quero uma Canaã, pelo menos não a quero exterior. Dia das mães. Depois vem o aniversário, logo é Primavera, Natal e então um dia, quando menos perceba, perecerei.
Não vou fenecer como quem jamais floresceu. Vou é florescer. Flores ser. Ser tudo, ser nada, ser até não-ser.
Venham cataclismas, toquem-se trombetas, abram-se quantos selos hajam de ser abertos. Quero romper o lacre da vida e, na Santa-Ceia metafórica, beber toda a água do Aqueronte.

Chupetas bem-feitas

Só conheço duas:
1a - aquela entre baterias de carros, para o que está descarregado poder pegar;
2a - aquela de mamadeira de criança, desde que não tenha nenhum fiapinho ou imperfeição.

Alguém pensou bobagem?

domingo, 23 de maio de 2010


Sou o sol.
O corpo que queima,
Que se derrama por cima do teu.
Seja o ardor da luz
E a luz do fogo.
Esparrame-se
Dentro do meu.

Senso-De-Ridículo, Procura-se.

O que muitas mulheres parecem não entender, é que a sensualidade não reside no corpo, mas na genialidade da mente que a controla. O corpo é carne, é suor, é gordura. Quem tem um belo corpo, mas uma mente retardada, torna-se numa boneca insuflável. 

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lágrima



A minha água desagua num precipício
E eu me espatifo: me quebro sem quebrar

Invado as rachaduras dos rochedos
E ensopo a aridez dos seus martírios.

Engulo as suas dunas num só trago
Sem deixar nenhum grão para trás.

Quando chove, eu me escondo entre as ruínas
D’um vulcão que se esqueceu de acordar.

Caminho embriagada em descaminhos  
E no sol me suicido: deixando evaporar.

Enfim, renasço nos olhos que me seguem,
Que me procuram com a alma, pelo ar.

E de novo me espelho dentro deles
Para cair outra vez, de novo, sem parar.
Contradigo-me. Não é que eu sinta prazer em desmentir-me diante da plateia que me aplaude. É que as minhas certezas anulam-se a medida que as minhas dúvidas eclodem.
No meio da noite, quando encosto a cabeça na almofada mais mole, os aplausos cessam e o silêncio evidencia o que eu sempre soube: o público que me enaltece é o mesmo que me chacota.
A vida, meu bem, é um teatro a céu aberto. E para representá-la, é necessário desnudar-se de qualquer firmeza, pois aqueles que tudo sabem são desbenvindos.
Quando acordo, não me pertenço. Sou o pouco que sou e, ainda assim, me desconheço. Quem sou eu para demandar sobre a origem de qualquer coisa, se eu sou uma turista dentro de mim mesma. Caminho pelas tortuosas avenidas de pedra, olhando para o alto, admirando os monumentos que construí, enquanto tropeço nas ruínas de tantos outros que eu nunca soube existir. Dentro da mochila, carrego palavras pesadas de tão vazias que são. Nada querem dizer, pois eu sou o significado de algo indefinível. Eu sou o vazio que preenche o nada. Tentar entender-me é conseguir entranhar a luz na sombra, fazendo com que esta se ilumine. Sou impossível, inatingível, uma quimera. Sempre que me olho, sinto-me como Narciso tentando encontrar-se. E quando penso me ter desvendado, voo com as asas de Ícaro - não para o céu, que este não me pertence - contra a parede de concreto que me separa daquilo que poderia vir a ser Eu. Poderia vir a ser, talvez não fosse. Talvez o espectro que sobrevoa o lado oposto da muralha, não passe de uma sobreposição de imagens idealizadas, todas elas, por mim.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Lixo mental

Cô, desculpe aí lambuzar o nosso blog com essa porcariada toda que me brota da mente atônita com espasmos sôfregos, como se fossem as lavas de um vulcão agora a eruptir.
Meu medo mais íntimo, mais profundo, é que a Pompéia ao redor do Vesúvio o esmague e lhe impeça a atividade.

R*b* quente

Hoje minha janta vai ser saudável: Quarterão com queijo e dose extra de pimenta providenciada por mim. Malagueta. Maledetta. Entra saborosa e ardendo, sai queimando com requintes de tortura. Tudo bem, a vida é curta.

Tensão

Se minha tensão se medisse em gigawatts, hoje eu poderia, sinceramente, ser uma das 20 unidades de geração lá de Itaipu. Fácil.
Se me enfiarem uma lâmpada no r*b*, ela explode a ponto de causar um novo big-bang.

Mergulhei em mim

e me perdi. A ponto de não poder mais voltar.
Mergulhei em mim e mergulhei num buraco negro. Fui sugado para outra dimensão. Não sei como faço para voltar, mas no fundo (em todos os sentidos) não me preocupo muito. Voltar para onde, se não tenho origem?
Este texto é uma homenagem à intelectual Sarah Slowaska.

A Fonte de Itororó

Na última vez em que fui a Santos, fui ver de perto a Fonte de Itororó. É seca. É fonte, mas não tem água. Me fez lembrar meu coração, que é coração, mas não jorra mais amor.

Só a Cô sabe...

como sou feio. E eu sei que ela jamais vai revelar isso ao mundo.

Quando me formei em Direito

(hoje o nome do curso é Ciências Jurídicas), ganhei de meus pais um anel diferente: como jamais gostei de revelar determinadas coisas sobre mim, o rubi que representa minha profissão é voltado para dentro. Por fora, o anel é normal - uma aliança dourada; por dentro, há o rubi. E meu nome, escrito ao lado, com a data.
Eles mandaram fazer a peça com um joalheiro amigo da família, tão descendente de italianos como nós mesmos (hehehe).
De vez em quando eu ponho o "símbolo" no dedo.
É bom, porque a virtude da peça está escondida; é bom, porque me faz lembrar meus tempos de juventude, em que eu achava que tudo poderia; é bom, porque me traz algumas lágrimas aos olhos ressequidos pelo tempo...
Hoje vejo meus pais tão mudados, e eu também. A vida nos mudou, nos desgastou (talvez sejamos todos constituídos de metal frágil), mas numa coisa ainda somos, eles e eu, iguais: guardamos o que julgamos sejam nossos rubis longe das trombetas que anunciam a chegada ao gazofilácio. São poucos, mas são muito pessoais para que se ponham em exposição. Esses rubis são pequenos gestos de auxílio a quem precisa. Sejam eles quais forem, e sejam feitos de que maneira forem, serão anônimos.
Meu avô nos ensinava, do cristianismo: não saiba a mão esquerda o que dá a direita.

O cúmulo da coprorreia

É o sujeito fazer tanto cocô, mas tanto cocô, que comece a se virar do avesso e saia pelo próprio r*b*, a ponto de quando sua cabeça passar lá por baixo ele a mergulhar na água do vaso sanitário e começar a sufocar.
Hor-rí-vel esta, Cô! Horrível!

O cúmulo da cultura

É o sujeito se recusar a tomar o que não seja milk-Shakespeare.
É desejar ao próximo, que está feliz: "enJoyce!"
É dizer que não escreve em vão, mas apenas se suas palavras forem... "Wordsworth"!
É pedir, quando esteja sendo estrangulado, que o seu estrangulador não o "Sófocles" mais, pois a coisa está grega, e ele já está perdendo o ar(ché).
É ir à França para ver as bailarinas dançando o "Lacan"-can;
É não dormir em qualquer cama, senão apenas em "Camões".
É não se sentir, quando forte, um Hércules, mas um "Herculano";
É acordar pela manhã e, se perguntado: - You're awake?, responder: Yep! Finnegan's (a)wake!

O tio pelos olhos da sobrinha.



De todos os meus tios – e quem fala todos, fala quatro – o Jean sempre foi o meu preferido (apesar dos sucessivos abandonos já narrados). Tudo com ele sempre foi muito mais fácil do que com os meus pais. Passo a explicar:
O meu tio tem um coração mole. Molengão mesmo, e o que tem de mole, tem de grande e tem de belo. Mas isso, por enquanto, não vem ao caso: é mole. E eu, que venho de uma família de mafiosos sicilianos, nunca perdi a oportunidade de o chantagear. Mas o faço com amor e dedicação. Ora, e por qual razão eu faço isso? Porque, apesar d'ele nunca ter dito em voz alta, eu sei que sempre fui a sua sobrinha predileta. No fundo, eu acho que ele gosta de ser explorado pelo sexo feminino, seja quem for. Aqui mesmo, no blog, ele não quer voltar a administrá-lo, pois diz gostar de ser dominado por mim. Eu, sinceramente, me sinto honrada, e farei os possíveis para nunca o desiludir.
O Jean é um doce. Coisinha mais linda. Orgulho da sobrinha. É verdade! Eu babo no cara. O povo ri de mim quando eu digo isso, mas eu não estou nem aí. É o meu xodó. Quando era criança, e o meu pai corria com o cinto atrás de mim, era atrás do meu tio que eu me refugiava. Quando a minha mãe lançava o tamanco lá do topo da escada, era o Jean que ela acertava. Quando eu roubava bolachas dos potes da minha avó, era com ele que eu as partilhava. Quando o meu pai se negava terminantemente a aceitar meus namoricos, era o tiozão que estava lá, na linha de tiro, de peito aberto pela sobrinha. É, eu nunca me esqueci.
Muita coisa que sei hoje – principalmente as mais nojentas – foi com ele que aprendi. Era para o meu tio que eu telefonava quando brigava com um namorado e ele, em plena madrugada, levava dois pratos e uma panela de macarrão com feijão para comermos juntos. Foram várias as pizzas frias e feijoadas com farofa. Foram várias as bananas nanicas. Só que aí, eu cresci…e hoje, quem tenta colocar juízo na cabeça dele sou eu! C’est moi! Sou eu quem o salva das tamancadas das ex-namoradas, das cintadas da mãe e dos puxões de orelhas do pápis. Sou eu quem o protege dos bichos esquesitíssimos que o querem traçar. Mas sabem de uma coisa? Eu não me importo que o meu tio tenha se tornado na criança da nossa relação. Apesar d'ele estar prestes a me trocar pela mocréia da Sarah, ele continuará sendo o meu tio preferido. O mais querido. Alguém que eu não dou, não troco, não vendo, não financio, não reformo, não nada. Eu gosto dele assim: com um coração enorme (só para mim).

sábado, 15 de maio de 2010

Ricos, pobres... que seja. A questão não é essa.

É irritante quando ouço alguém dizer que o dinheiro não traz felicidade. Bem, a mim traz, e muita! Somos bem mais felizes quando vemos algo que queremos e sabemos que podemos comprar, do que quando nos deparamos com algo que está muito além do nosso alcance.
No que toca a alma, o dinheiro é passageiro. Isso quando a alma é vazia. Mas quando ela é plena, o dinheiro traz felicidade sim, traz realizações, materializa sonhos, nos livra de preocupações primárias que já nem sequer deveriam existir.

Há poucos dias, estava conversando com a minha mãe a respeito disso:
Os meus pais vieram de famílias simples, apesar de o meu pai ter tido mais oportunidades do que a minha mãe. Em compensação, ele perdeu a mãe aos 19 anos, idade em que saiu de casa por não suportar o ‘irmão’ e por a relação dele com o meu avô não ter sido nunca das mais amigáveis. A minha mãe, com muito sacrifício, conseguiu terminar o colegial – coisa que o meu avô não era muito favorável, pois, para ele, os filhos tinham que trabalhar para devolver o dinheiro que os pais haviam gasto com eles. Cabeça de cearense, vai-se entender. Continuando, quando os meus pais se conheceram, minha mãe tinha 22 anos e o meu pai 29. Ele era divorciado e tinha os três animais com a outra mulher (eu tou parecendo o Vautour, falo, falo, falo e não digo nada).
Adiante, lá para finais de 1990 os meus avós maternos ganharam um terreno num bairro social e, logo a seguir, o meu avozinho paterno ganhou outro na rua ao lado. Continuando (tudo isso é para explicar que a pobreza não traz felicidade. Calma, eu chego lá!), os meus pais viviam no alto da cidade, mas a dona da casa queria a residência de volta. Eles, pegos de surpresa e sem maiores opções, foram para a casa que o meu avô paterno havia ganho (ele vivia em Minas, por isso a casinha estava desocupada). E assim foi. É escusado dizer que a minha mãe sentiu o maior desespero, pois mudar do alto da cidade, parte nobre, para um bairro social (apesar que, na época, os bairros sociais eram decentes, não se confundiam com o inferno que são as periferias hoje) foi um choque sem precedentes.

O meu irmão e eu, pequeninos, adorávamos aquela casa. Ela era de esquina, por isso, o quintal era enorme, com um caminho cimentado e o resto com aquela terra vermelha, óptima para se sujar e para manchar o banheiro e as toalhas rendadas da mamãe. Vivemos lá….de 1991 à 1997, se não me engano. Dentro deste espaço de tempo, o meu pai ganhou uma casinha também, e resolveu fazer um sobrado. Um sobrado de esquina, cozinha enorme, quintal grande, piscina com cascata, escritório por cima da garagem, garagem com espaço para uns 5 carros (se o meu pai não a tivesse abarrotado com ferramentas dele e do meu avô), sala de jantar, sala de som, sala de televisão, quatro quartos e cinco banheiros.
Pois é, dito assim, tudo parece muito bonito, mas não foi. A minha mãe conta que a vizinhança morria de inveja. De certo modo, é compreensível: num bairro inteiro, eramos os únicos com condições de transformar uma casinha de dois quartos, sala, cozinha e banheiro, num sobrado de grandes dimensões. As vizinhas, inconformadas, chamavam os fiscais um dia sim e outro também, inventando queixas e tentando impedir a conclusão das obras. Isso só parou quando o meu pai fez queixa contra o fiscal que lá ia (que, só por acaso, era pai da nossa vizinha da frente).

Quando nos mudamos para lá, nos finais de 1997, já existiam mais casas mas nós continuávamos sendo a única família com um sobrado. Depois, a vizinha ao lado fez um sobrado também, e os amiguinhos que antes se juntavam à ela, para fazerem queixa contra nós, uniram-se contra ela porque “não queriam viver rodeados por arranha-céus.” Pobre é invejoso, putaquepariu. O problema não está em ser pobre monetariamente, o problema é não ter nada por fora, e ser vazio por dentro. Pobre não pode ver um vizinho subindo o muro, que já acha que o outro está traindo a comunidade inteira. Puxa o outro para baixo, pois não aceita viver na foça sozinho.
Nós não mantivemos amizade com quase ninguém. E o meu pai tinha sido o mais afectado com tudo isso.Fomos embora em 2002. Ainda hoje ele diz: “ Eu tinha que tirar os meus filhos daquele meio. Se eu não saísse de lá, ou morria ou matava alguém.” E o pior é que eu não duvido. Em Santo André, ele matou todos os gatinhos da região. Eles arranhavam os carros e acabavam com os telhados, e a solução que ele encontrou, foi fazer uns bolinhos evenenados, sabor: sardinha. Ninguém, para além da minha mãe, ficou sabendo disso. Quando um rapaz disse que o havia visto colocando algo perto das árvores, ninguém acreditou. “ O Sr. Fulano de tal? Nãao, nem pensar! Ele é tão simpático, tão educado! A mulher dele adora gatos! De jeito nenhum! “ Ele parou de fazer isso, no dia em que uma das vítimas foi o gato de uma menininha que o meu pai adorava (adorava porque eu ainda não havia nascido, é claro). Hoje ele se mata de rir disso tudo, e quem o escuta não consegue manter a seriedade.
Voltando ao tema inicial, para finalizar, se o dinheiro não trouxesse felicidade, ninguém se preocuparia em ganhá-lo. Ninguém se mataria por ele. Agora os politicamente correctos diriam que o dinheiro não compra amor, família, amigos, ventura, etc. Eu concordo, não compra mesmo. Nada compra. Mas também não é a pobreza que traz tudo isso. Como é que se consegue ser feliz num meio em que tudo é tão degradante? Em que as pessoas são vãs ao ponto de desejarem que o outro não cresça na vida? O dinheiro não compra a felicidade, mas a felicidade também não compra o Lamborghini que eu quero ter na minha garagem. Eu sei, na verdade, nada disso tem a ver com a riqueza em si, mas com a pobreza de espírito, e isso nenhuma conta bancária enriquece.

sexta-feira, 14 de maio de 2010


Eu não gosto deste remédio. Ele me acalma a tal ponto que eu não sinto o meu coração bater. E, no entanto, ele bate, só que em silêncio. Silencioso demais para o meu gosto, prefiro ouvi-lo como quem ouve um tambor de escola de samba, em vez de adormecer em silêncio, só sabendo que estou viva pelo som da minha respiração.

O Coração de uma sobrinha judiada!

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Sem palavras....

quinta-feira, 13 de maio de 2010

"On line na cama" - A estupefação de um tio abandonado

Cô, a trilogia abaixo é para você. Mas não se incomode comigo, pois que a amo, mesmo assim.
Enquanto você está on line na cama, eu vou me preparando aqui para ficar off line no caixão. Aos poucos eu chego lá.

"On line na cama" - parte III

Eu vivo sozinho. No trabalho, em casa, nas ruas da paulicéia (vou deixar o acento aí, pois é nele que assento minha pronúncia... fucking pun...).
Sou um homem acossado pelos tormentos do corpo e da alma. Ninguém me ama, ninguém me quer.
Meu escritório, que divido com mais 6 sócios tão esfaimados quanto eu, fica numa garagem de uma casa no subúrbio. As mesas, nós as recebemos (em doação, mesmo) de uma instituição de caridade para a qual prestamos algum serviço advocatício pro bono. Lá temos que dividir, os 7, um computador. Só um. Se Érico Veríssimo nos houvesse conhecido, teria escrito "Éramos Sete"... se Letícia Wierzchowski nos houvesse conhecido, teria escrito "A Casa dos Sete Condenados".
As mesas... ah, as mesas são apenas 3. Era o que havia na instituição. Mas tudo bem (do verbo mastudobar). Enquanto dois de nós ficam na porta da cadeia, dois ficam no fórum criminal e os outros três ficam no escritório. O que estiver com trabalho fica diante do computador, um pecezinho de 1995. Temos também duas máquinas de "datilografia" (alguém sabe o que é isso?) marca Remington, as duas de 1948, quando o tio de um dos meus famélicos colegas concorreu à vereança em São Paulo e... saiu-se derrotado.
De derrota em derrota, montamos nosso escritório. Pagamos um aluguel consideravelmente baixo: R$ 250,00 por mês, o que a dividir-se por 7, calculem, resulta em poucos centavos a mais que 35 reais para cada um.
Quando chega o fim do expediente, porque estejamos numa garagem, temos de recolher as mesas, as máquinas e o computador, pô-los todos sobre um móvel que há ao fundo, para o marido da mulèzinha que nos aluga o espacinho poder guardar ali o seu Fusca 68 (eu ia dizer 69, mas não pega bem).
Pois sim... são dias rudes, amargos, e a única alegria que tenho é conversar com minha sobrinha.
Quando chego à minha casinha, à noite (moro do outro lado da cidade, no outro extremo, periferia também), ligo o meu pecezinho 1990, que recebi de presente de um ex-chefe, e então aciono o Trillian (pois não tenho memória ram para MSN... ah... as lágrimas começam a escorrer-me dos olhos, passam a jorrar, aos borbotões, e me perlam as bochechas-fix) e peço à minha sobrinha para conversarmos um pouco:
- Cô, meu anjo, tudo bem?
- Oi, tio, estou on line na cama.
Compreendo e desligo. Tomo uma dose extra de antidepressivos (que recebo do SUS) e vou deitar. É a vida, é a faina de um renegado.

"On line na cama" - parte II

Chego a minha casa exausto, depois de um dia de trabalho pesado.
Tiro o uniforme do serviço, boto a dentadura num copo com água e Cepacol, arranco as sandálias. Vou para um rápido banho, venho para meu quarto. Faz frio. Tenho apenas um pijama. Já não está limpinho, pois que estou a usá-lo há três dias seguidos. Assim que esquentar, vou lavá-lo. Calço pantufas, um gorro (a idade já não me permite levar vento na nuca, e as janelas de meu humílimo tugúrio têm frestas), luvas e ligo o computador.
O Trillian ligado, eis que surge minha sobrinha. Penso em pedir-lhe algum auxílio emocional, pois os dias têm sido difíceis.
- Cô, você pode ajudar seu tio um pouco?
- Ah, tio, estou "on line na cama".
- Tudo bem, tudo bem... eu entendo. Os jovens podem tudo. Eu continuo off line na vida...

"On line na cama" - parte I

Ligo o Trillian apenas para falar com minha sobrinha.
- Oi, Cô, que saudade, tudo bem?
- Ah, tio, tudo bem. Estou "on line na cama".
Rubicundo, as gordas bochechas mais inchadas que de praxe, fecho a caixa de diálogo.
Ô, querida, o que eu tenho a ver com isso? É a sua vida, e não me meta no meio dessa encrenca!

" O grilo pedindo silêncio!"


Sabe o que me irrita? Mas irrita mesmo? É gente que começa a falar no meio das notícias. A pessoa começa a tecer considerações antes mesmo d’elas terminarem, e isso é extremamente irritante, pois eu quero ouvir a porra da informação em paz. No fim, eu não entendo nem o que o repórter disse, nem o que o desinfeliz estava berrando na poltrona ao lado. E sabe o que me irrita mais ainda? No intervalo, o cara fica em silêncio.

Porra, agora fala!

Ps: entenda-se por desinfeliz, o meu pai.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

E aí, Dna. Maria, o que há de novo?

- Muita galinha e pouco ovo!

Isto meu avô falava, quando eu era criança pequena, lá em Barbacena, para exemplificar a ausência de novidades, a vida difícil, a faina de sempre, mas com algum humor.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Foi meio que sem querer...

Estava hoje conversando com um amigo que arrumou uma namorada muito fiel - eu conheço a moça. Só que ele não acredita. Então, em dado momento eu disse pro cara:
- Meu, abra os olhos! A mulher é tão fiel, que é como e-mail - só vai pra caixa de entrada quem tem a senha, e no momento quem tem a senha é você!
Só depois que fiquei pensando... será que pegou bem falar isso? Ih...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mulher misteriosa

Há uma mulher em que penso
vinte e quatro horas por dia.
Se estou calmo, põe-me tenso:
tira-me o sono e a harmonia.

Ela não sabe o que sinto,
nem há como imaginar.
Ela é bem que não consinto
meu coração desejar.

Exsuda sensualidade,
é linda: uma olente flor.
Tem nos olhos castidade,
mas me mata d'ígneo ardor.

É divina enquanto fala,
demoníaca também.
¿E seu hálito, que exala
ora o mal e ora o bem?

Deus construiu seu corpo esguio,
e o diabo fez o resto.
pra controlar-me porfio,
e ela então me rouba o aquesto.

Não é mulher, é serpente,
e já falou em beijar-me.
Acho que qu'ria matar-me.
E eu quase dei-me, contente.

Não perdi, ainda, o norte,
mas num gesto de suicida
talvez eu me entregue à morte
querendo viver a vida.

domingo, 9 de maio de 2010



Perder-se não é assim tão fácil. Perder-se e ter a consciência de que se está perdido, é encontrar-se. O verdadeiro perdido, desconhece o seu paradeiro. Não sabe onde está e não sabe que não sabe.
Para desconhecer-se, é preciso não saber quem fomos. É preciso ser inconsciente de si mesmo, ao ponto de não sabermos quem somos. Pergunto-me se tal nível de inconsciência é possível, sem que esta descoberta seja considerada uma doença.

Da inocência dos 14 ao sexo virtual.

Eu descobri a internet aos 14 anos, se não me engano. Uma das primeiras coisas que eu fiz, foi ir para uma sala de bate papo. Hahahahaha! Foi lá que eu descobri os tarados. Acho que foi lá que eu inventei o meu primeiro heterónimo, também. Não me lembro o nome da criatura, só me recordo de ter dito que tinha dezoito anos. Ah, dezoito anos, que sonho! Que vontade que eu tinha de ter dezoito anos…O cara com que mantive contacto por um bom tempo, dizia-se chamar Fernando e vivia no Rio de Janeiro. Tinha uns trinta e poucos e era super simpático. Gostou de mim, o rapaz. Que coisa hein? Todos os homens a partir dos vinte e cinco até aos 44 e meio me adoram, né? Porquê será? O Fernando era tão simpático que eu até imprimi os e-mail’s do cara, e todos eles estão guardados até hoje. Sei lá, me apeguei ao sujeito, mas logo ele desapareceu e eu desapareci também. Para uma menina de 14 anos, ter dezoito dá muito trabalho.

Depois, só fui mesmo me fincar na internet a partir dos 16. Mas aí já não foi para entrar nas salas de conversa. Hoje acho aquilo ridículo, uma perda de tempo, um antro de vírus, conversas sem nexo e de gente nojenta. É certo que ainda se deve poder encontrar alguém minimamente decente ali no meio, mas é raro. A probabilidade é quase nula. Procurar relacionamentos sérios na internet é a maior roubada. Até acho que é bem menos pior ir-se atrás de uma Agência de Encontros, ou aqueles ‘ fast dates’, pelo menos neles pode-se estar com a pessoa frente-a-frente.
Uma coisa que eu acho extremamente ridícula, mas ridícula mesmo, mas tanto que até me dá vontade de rir – estou rindo neste momento – é o sexo virtual. Tio, diga-me que você nunca fez isso! Olha, eu já. Quer dizer, eu não. Nós. Eu, ela e o ciclano.
Passo a explicar:

Tinha dezoito anos (quando completei dezoito, lembrei saudosamente da época em que tinha 14), estava acompanhada por uma colega da mesma idade e resolvemos meter conversa com um sujeito que ela tinha no msn e não sabia quem era(?) Eu ditava, ela escrevia, eu lia e ria. Até que o sujeito ficou sabendo que eramos duas e estávamos sozinhas, fechadas num quarto, só de camiseta e roupa interior (ele ficou sabendo disso porque eu era/sou porca e resolvi atiçar o fulano – afinal: que homem é que não tem fantasias com duas mulheres? Né tio? Hahahaha). Enfim, nós tinhamos webcam e ele também. Então resolvemos ligá-las. Méeeo Déeeeeos, o cara era um monstro! Mas tudo bem, tá valendo. Ao vê-lo, eu brochei completamente e passei somente a ser parte do cenário. Isso quer dizer que eu fiquei ali coçando os tomates enquanto eles falavam. Até que num certo momento, ele disse que não aguentava mais e que estava super excitado. E não é que ele baixou a webcam e mirou para a cueca? Babeeeeeei! Aquele troço era enooormee! Por momentos, até comecei a pensar que se lhe metesse um saco preto na cabeça, daria para aproveitar alguma coisa.
Ela estava super a fim do cara, então topou continuar a conversa badalhoca. Bem, eu fui para a cama e quando dei por mim, ela já tinha tirado a blusa e o sutiã. Eu não queria acreditar no que os meus olhos viam. O cara tinha se inclinado na cadeira, aberto as pernas, e….não, não tinha começado a cagar. Você sabe. E ela lá, colada no sujeito.
- Cosette, vem ver isso!!
E eu, com a cara debaixo do travesseiro:
- Xôô capetaaaaaaa!
Eu só consegui dormir lá para as quatro da manhã, momento em que eles terminaram o trabalho sujo. Foi aí que eu lhe perguntei:
- Você ficou excitada com aquela coisa?
- Achas? É claro que não!

É isso que eu não entendo. Por norma, para uma mulher ficar verdadeiramente excitada, só olhar não basta. Tanto que…Existem revistas de homens pelados? Ok, há a Revista G, mas isso deve resultar mais para os gays do que propriamente para o sexo feminino. Pelo menos para mim não adianta nada: folhear uma revista de homens nús é o mesmo que folhear a bíblia – uma merda. Não surte efeito nenhum.
Enquanto que o visual resulta muito bem no sexo oposto, para as mulheres o toque é primordial. Isso quer dizer que este tal sexo virtual é feito só por um. A mulher serve, literalmente, como um obje(c)to. Eu não entendo esta gente: qual é a graça? Será que no fim eles também perguntam: “ Foi bom prá você?”
Eu vejo mais prós do que contras quando penso em Internet, mas é verdade que os contras têm um peso considerável. Ela tornou-se num excelente albergue de gente mal intencionada, eu que o diga que já encontrei umas quantas. Por outro lado, tive muita sorte com várias pessoas.
Já contei que fui perseguida por um louco durante um bom tempo? Ou que quase fui sequestrada num centro comercial? Pois é… se não contei, fica prá próxima.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

O 'dar' e a dor

Vem chegando o dia das mães, e eu detesto datas. Não me dou bem com datas, com rótulos, com dias que as pessoas nos empurram goela abaixo e dizem que temos de ser hipócritas e amar alguém. Dia da secretária, dia do índio, da consciência negra, dia dos namorados (ou que nome tenha), dia internacional da mulher (?), natal e o escambau.
Se você gosta de alguém, se tem consciência de alguma coisa, se quer proteger, ajudar, fazer, interferir, a rigor não é necessário marcar dia. É que povão é povão, e temos de ser tratados como rebanho. O rebanho tem pastor, tem almocreves e tem rafeiros, enquanto nós temos a mídia, os marqueteiros e um apelo constante para façamos o que eles não fazem, embora digam devêramos fazer (perdoem-me as elipse e enálage consecutivas, mas não pude evitar).
É preciso instituir dias de consciência, sim, pois o povo - lato sensu - ainda não tem consciência. O povo brasileiro ainda não. Vá à Suíça para ver como eles agem. Até as leis são diferentes por lá, pois o povo é tão educado (embora seja triste e fria a convivência) que quase é desnecessário determinar em lei que eles procedam comme il faut, pois eles procedem. Não há um Código do Consumidor por lá, pois tudo se regula pelas leis da concorrência! Experimente-se o mesmo, no Brasil... bom, um dia talvez cheguemos lá - assim como o Coringão um dia ainda vai ganhar a Libertadores, e o Ronaldo ainda vai perder peso, &c.
No ponto em que auxiliem o comércio e, de conseguinte, gerem emprego, vá lá, defendo os tais 'dias' disso e daquilo. O Brasil é um país pré-famélico, o povo não tem trabalho e... pausa para comentário: é incrível como aqui nas plagas tupiniquins, nas nesgas de Cabral, há uma burguesia mal-resolvida que não trabalha! Vivem no clube, farting around, e ... tudo bem!
Um país se faz com homens e livros, disse Monteiro Lobato. O homem, aqui no Brasil, o atual presidente da república, orgulha-se de não ler e de não gostar de ler. Olha, não é ler para arrotar conhecimentos, não. É ler para rever a própria postura, ler para introjetar, ler para viajar no rico e inexplorado mundo interior, tão desconhecido quanto belo, tão incógnito quanto inóspito, desde sempre.
Chega, agora volto ao dia das mães.
Minha mãe passou 2009 inteiro e mais, até ontem, me botando contra meus irmãos, e vice-versa. Até de "fratricidas" nos chamou, aos três. Hoje ela telefonou para dizer:
- Filhão, você vem me ver, no Domingo? Senão vou me sentir "mãe-órfã".
Meus irmãos (diga-se: os outros dois filhos dela) não vão. Eu ainda estou pensando em cumprir o mandamento que diz "honrarás teu pai e tua mãe".
Confesso que preferiria ir em qualquer outro dia, como sói ser: volta e meia estou lá, para dar apoio a ambos. Mas precisa rotular "dia das mães", só para deixar triste (ou alegre, sei lá) quem já não tem a sua, constrangido quem a tem, e não quer ver, e incentivar a hipocrisia em muitos, muitos mesmo, que vão comprar o presente só para dizerem que...
Ah... como é fácil botar rótulo de Brunello de Montalcino em Sangue de Boi!

A briga do chefe com a esposa

- Amorzinho, você precisa pensar mais nas nossas finanças! Eu, por exemplo, sempre que posso, invisto na bolsa.
- Ai, amor, eu também fiz isso, ontem!
- É?
- É! Entrei na Louis Vuitton e comprei a mais cara de todas. A mais cara!
...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Vivo num jogo de luzes, onde a luz ilumina a sombra que escurece a claridade que me ilumina sem que eu precise trocar as lâmpadas. Na parte iluminada, reflecte-se a minha metade corrompida e corroída pelas sombras minguadas que me habitam. No canto escuro, vê-se a insistência dos feixes de luz em iluminarem o pouco que me resta. Os olhos ardem, não porque a luz me invade, mas porque estou sentada à sombra. No escuro, os corpos se dissolvem e se transformam em pó. No sol, os olhos ardem. Sentar-se na faixa longitudinal, na transparência da linha que separa a luz da escuridão, é viver em ebulição. É lançar parte do seu corpo na fervura, enquanto a outra, aquela que se encostou na metade obscura, se dissolve.


Do Papa aos Frutos do bosque.


Portugal está preparando a vinda do Papa. De um Papa que para mim não é Papa coisa nenhuma, não tem cara nem qualidades de um Papa, e a única coisa que ele papa são as pratadas de macarrão a bolognesa com provolone enquanto outros padres vão papando as criancinhas indefesas.
Ele virá a Lisboa, Porto e Fátima este mês. É claro que os crentes estão numa papação só. Construindo os móveis, os kilómetros de toalhas, a poltrona onde, segundo o mau pai “ será abarrotada de peidos”, as taças, as orquestras, a segurança, etc. Tenho a certeza de que será muito bonito, mas não adianta, eu não vou com a cara do sujeito e não acho que ele mereça tamanha dedicação.

Enquanto isso, eu vou assistindo as pancadarias físicas e verbais nos parlamentos. ‘Sê viu o que aconteceu na Ucrânia, tio? Eu só consegui rir. É aquele nível de pessoas que se encontram nos parlamentos. Por baixo daqueles fatos e gravatas, dos “ terninhos com medo de peido” – como, uma vez mais, diz o meu pai - está um bando de gente que para além de corrupta, é vergonhosamente ignorante.
O parlamento português não é muito diferente, só que em ves de ovos e das bombas de fumo, o ministro da economia faz chifres para o primeiro-ministro, que bem os merece para falar a verdade. A situação aqui está tão má, que desde 2007 que Salazar é considerado a figura mais querida entre os portugueses. Vira e mexe, eu ouço umas senhoras sussurrando: “ Ora pois, se existissem pelos menos três ‘ salazares ‘ por cada cidade, as coisas não estariam assim!”

O primeiro-ministro é simplesmente odioso, acho que ele fez estágio em Brasília, só pode. O Presidente é um b*sta. Ah, acho que não preciso de asteriscos, pronto, é um bosta. Parece um frade. Não tem punho para ser presidente e nunca opina sobre nada. A frase preferida dele é esta: “ Prefiro não opinar.” O homem não se compromete com coisa alguma, não quer sujar as mãos. Felizmente, este ano há eleições…não que elas resolvam alguma coisa, mas porra: tirem-me esta geleia daqui.

Ah, antes de terminar, preciso contar uma última muito boa: Numa cidadezinha qualquer, um porteiro foi preso por ter dado dois tiros (um na perna e outro no braço, ou na mão, não me lembro) a um drogado que estava assaltando uma escola. Acusaram-no por posse ilegal de armas, mas esse não é o verdadeiro problema. Prenderam o porteiro, que não fez mais do que defender o estabelecimento de ensino, mas não prenderam o drogado! Levaram-no para o hospital, trataram das feridas e deixaram-no ir, como se ele fosse um cidadão de bem. Pode ser uma coisa destas?
Enfim, e voltando ao Papa: seria óptimo se de última hora dissessem que ele não vem. No entanto, se vier, ficarei atentíssima à marca dos sapatos com que ele pisará o solo português. Sapatos Gucci, cueca Dolce&Gabbana, óculos Prada, ora pois…! Ele sim, deveria levar um banho, não de ovos, mas de camisinhas com sabor a frutos do bosque.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Considerações do coração sobre o amor

Não escolhemos o amor; é ele que nos escolhe. De repente, chega, entra sem bater na porta (isso quando não a arromba, sem a menor cerimônia) e quando nós olhamos já está dentro de casa. Ele manda na alma, manda no corpo, nos permeia, preenche, extravasa, e nele imergimos, pequeninos, insipientes e incipientes.
Quando se olha para o ser amado, vemos algo para dentro dos olhos, para lá da mente, por baixo da epiderme, e que circula com o sangue, e que brilha em algum lugar, em algum momento e não se explica, por mais que se queira.
"Fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente...", sentimento ao qual "serei atento antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto, que mesmo em face dum maior encanto, dele se encante mais meu pensamento". Nele mergulhado, nesse "não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei por quê", é que o ser-humano se perde. "Numa hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não possa achar uma hora". Tão perdido se fica, a ponto de "em vivo ardor tremendo" estar, "de frio".
Desespero? Jamais, "posto que não pode haver desgosto onde esperança falta". "Mata-nos suavemente" esse mal que efetivamente "mata e não se vê". E "tem favos e tem caldos quentes, e ao mesmo tempo que faz bem, faz mal."
Uma vez, novo ainda, escrevi, depois de haver lido Augusto dos Anjos dizer que amor "é espírito, é éter, é substância fluida... é como o ar, que a gente pega e cuida... cuida, entretanto, não o estar pegando". Àquela época, como ia dizendo, escrevi que amar é contemplar a quem se está amando como quem olhe estrelas cintilantes: sentindo-as próximas, se estão distantes; subindo a elas, nunca as rebaixando.
Um sentimento assim tão etéreo nos eleva. Esquecemos onde estamos: em que lugar, e mesmo em que dimensão. Tempo e espaço perdem a razão de ser.
Shakespeare, em "Carpe Diem", diz à sua amada que não ande tanto, nem procure algum lugar específico para estar, pois que o repouso dos amantes está num local conformado pelo encontro dos corações.
Ficar falando de amor... bobagem. Tantos já disseram de sua força, da "paixão que" em alguém "nos exalta", do "vago encanto da" pessoa "amada", da ausência de explicação pelo fato de o coração ter razões que a razão mesma desconhece. Para quê?
Cheers! Quem estiver a viver um sentimento desses, que viva, pois é bom demais.

sábado, 1 de maio de 2010

A obra no trabalho, o trabalho que a obra nos dá, &c.

Título estranho, mas eu explico.
Cô, (...) rrija-me se eu estiver errado. "Obrar", desde o tempo em que Portugal chegou aqui, é c*gar. Há, entretanto, uma outra forma de se usar a palavra. Uma vez, quando estava em Lisboa, fui à editora Almedina. Queria comprar um livro para presentear um amigo que lê em DOZE IDIOMAS. Quando o disse para o vendedor, ele redargüiu: "Maria, mãe!, ler em doze idiomas é obra!"
Então, há obras e obras.
Eu vou falar da obra mais chata e dos vexames que a gente enfrenta, às vezes, com ela.
Quando comecei a trabalhar no escritório de que hoje sou sócio (in-industry), ou melhor, de que sou sócio há uns... hm... 3 anos (?)... bom, isso não vem ao caso. Quando comecei a trabalhar lá, enquanto humílimo advogadinho merrequento, um rábula desqualificado mesmo, estávamos todos os laboradores (eu ia dizer obreiros, mas acho que não vale a pena) num andar só. Hoje, felizmente, estamos em quatro andares e somos mais para dividir as despesas.
Voltando: àquela época, quando comecei (faz uns 8 anos e uns quebrados), ficávamos todos num andar só, com dois banheirinhos para homens e dois para mulheres.
Os banheiros, infelizmente, não tinham janelas. Você entrava, acendia a luz e uma espécie de sucção (gente, sucção aqui é no bom sentido, tá?, nada além duma coifa, um exaustor, sei lá) começava a fazer brrrrrrr, brrrrrrrrr, brrrrrrrrrrr e enquanto a gente ia c*gando o aparelhinho ia pegando aquelas emanações pestilentas e lançando à atmosfera, para aumentar o buraco na camada de ozônio com o nosso gás metano.
Um belo dia - estranho, eu escrevo, escrevo, e parece que não saio deste início de conto de fadas: era uma vez... um belo dia... havia uma mocinha, branca como a neve... - bom, vamos lá. Um belo dia, não sei o que eu comi, que logo depois do almoço me pintou uma cólica tão louca, com uma fúria tão desbragada, que eu tive de sair correndo. Àquela época, eu trabalhava na mesma sala que uma colega que todos nós chamávamos Dra. Barbie (linda, loura, olhos azuis e cabeça de plástico, oca). A Dra. Barbie assustou, pois eu sou, normalmente, bem tranqüilão. Só que não deu. De repente, meu ventre fez BBRRROOOOAAAARRRR, feito o leão da METRO, e eu parti em disparada, como se fosse o Hussein Bolt na largada dos 100m rasos.
O banheiro, muitíssimo bem projetado, ficava ao lado da copa. Melhor ainda: por ser pequenino e porque não tivesse janela, funcionava como um amplificador de som. Vergonha, vergonha, vergonha... passei correndo, e vi que na copa estavam reunidas algumas colegas que, ao menos até aquele dia, me respeitavam muito. Dei um 'oizinho' geral e entrei na casinha de força. No banco 24 horas, no ATM.
Só que obrar (prezadas duas ou três leitoras dessas minhas postagens de m*) é coisa que a gente precisa fazer em silêncio, ou melhor, sem ser ouvido, pois um ruidozinho ou outro sempre há. Se a vida fosse como as teses (em vez de como as fezes), como os sonhos, como se quer que ela seja...
Entrei lá desesperado, bati a porta, tranquei, e foi o tempo de 'disarriá as carça'. Só. Imediatamente, porém, meus freios agiram: "Valjean, você não pode p**dar alto, senão cai em desgraça pública". Sendo assim, tentei sopitar a irrefreável força centrífuga com que a m* queria sair do meu mundinho interior.
Ah, a vida... a vida é uma m*... quando soltei o primeiro punzinho, fiz uma força desgraçada para segurar a coisa, para que viesse tipo assim: allegro ma non troppo. Só que se o cérebro controlasse os movimentos peristálticos dum reto (isso, reto, tubo *nal) desesperado, e se o cérebro controlasse o coração, ou então se os intestinos e o coração tivessem neurônios, se tudo isso houvesse, o mundo seria bem melhor.
Pois é: o primeiro punzinho fez pppprrrrrrr e eu segurei o resto. Só que quando eu ouvi o pppprrrrrr não agüentei, e dei risada! Era tragicomédia! Naquele desespero, a mulerada comendo lá na copa, ao lado da casa de força, e eu p**dando e rindo. Na hora em que eu ri, infelizmente, perdi o controle do resto. Aí ficou algo assim:
Hahahahaha!
Ppprrrrr...
Hahahahahaha!
Pppprrrr...prrrrr...prrrr...prrrr
Hahahahahaha!
Prrrr....
E tome pandeiro, cuíca, atabaque e a putaquemepariu junto.
Ao lado, na copa, só ouvi algo assim:
- Ai, vamos sair daqui que o Jean tá maus!
E uma outra voz:
- Nossa! Parece cerimônia de exorcismo! Sai, capeta!
E uma terceira:
- Ai, que nojo, vamos embora! Tão educadinho, mas...
Meu, que humilhação. E eu lá dentro, suando frio, tirei a camisa, de tanto calor. A coifinha, pobre, nem dava conta do recado. Eu tinha uma usina atômica para des-cerrar, e a pobrezita com aquela capacidade reduzida, de pegar punzinhos avulsos, e jamais crises de Escherichia colli, Staphylococcus aureus e outras quimbandas do gênero.
Quarenta minutos, mais ou menos, de prazer e dor, riso e reação, pride & prejudice, humano e divino, Yin-Yang, alfa e ômega, zênite e nadir, &c.
Terminei o serviço, ou melhor, a obra, limpei-me, usei lencinhos perfumados no rego (sempre os trago comigo) em seguida e daí fui lavar as mãos, o rosto, molhar os cabelos... saí de lá me sentindo o Shrek, o Beowulf derrotado, ou então El Cid, já empalado, sei lá.
Na copa, ninguém. Tudo havia sido largado como estava: maçãs mordidas, pratos metade comidos, copos semi-cheios, guardanapos apenas deixados sobre a mesa.
Voltei para a minha sala, e a Dra. Barbie me diz:
- Jean, onde você estava? O chefe já ligou aqui três vezes, quer que você vá à sala dele com urgência!
Agradeci e fui à sala do chefe. Ainda bem que era longe da minha, e ao mesmo tempo uma pena que fosse bem longe da minha... é que o bem e o mal andam de mãos dadas neste mundo: em cada sala por onde eu passasse, um sorrisinho velado, um olhar de reprovação, e até um colega que me deu um tapinha nas costas, irônico, e lançou esta:
- E aí, Jean? Abriu a porteira ou o estouro da boiada quebrou a cerca?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Se há vida após a morte

Não raras vezes ponho-me a pensar longamente acerca do assunto.
António Vieira, duma certa feita, disse temer a imortalidade, e jamais a morte.
Os católicos vêm a morte com fórmulas prontas: é assim, e pronto. Desde o concílio que instituiu o purgatório (Latrão? Não sei, depois eu vejo no Google), ou seja, há cerca de 15 séculos, nada mudou. Santo Tomás (sim, li muitos volumes da Suma Teológica), Santo Agostinho ('vide' Confissões, Solilóquios e outras), entremearam dúvidas e certezas. Suas certezas eram crivadas de dúvidas e emolduradas pelos dogmas.
Conheço a obra inteira de Allan Kardec. E quando digo 'inteira' é inteira mesmo: não só o Livro dos Espíritos, dos Médiuns, o Evangelho, a Gênese, o Céu e o Inferno, as Viagens, O que é o Espiritismo. Não. Todos os volumes da Revista Espírita também: uns 11 ou 12 anos de publicações.
Depois vieram os seguidores dele: Léon Denis, Ernesto Bozzano, Gabriel Dellane, etc. No caminho não faltaram os historiadores europeus do espiritismo, entre eles o célebre Arthur Conan Doyle. Depois desemboquei no Brasil. Sim, li a maioria dos livros psicografados por Chico Xavier. Comecei por toda a série Nosso Lar (são uns 15 livros, já nem lembro), li todos os ditados por Emmanuel: romances, filosóficos, etc. Yvonne do A. Pereira, Zylda Gama e outros, como a Zíbia Gasparetto, e até os mais modernos, como Patrícia, que foram 'modernizando' a visão que André Luiz trouxe para estas plagas Tupiniquins.
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho? Hm...
Acompanhei a briga da família de Humberto de Campos Veras (segundo os espíritas convictos, o Irmão X) contra Chico e seguidores. Bezerra de Menezes, vivo e desencarnado. Boa parte (considerável mesmo) da obra psicografada por Divaldo Pereira Franco, a cujas palestras andei assistindo, bem como participando de seminários longos, na década de (19)90.
Sim, escrevi dois livros, afora artigos em jornais especializados. Alguns foram traduzidos para um ou outro idioma.
E?
Bom, chegou um dia em que notei que meus conhecimentos eram todos fundados naquilo que eu chamava 'fé'. Quando fui comparar as informações de romances históricos de Emmanuel com as de grandes historiadores da Bíblia, desde Sholem Asch, passando por vários dos mais célebres e sérios pesquisadores franceses e italianos, percorrendo os romancistas percucientes, como Sienkiewski, encontrei um 'gap' insuperável entre o que a história trazia e o que ela não trazia, nem podia trazer.
Àquela época dava aulas (que pretensão...) de espiritismo, e me vi a 'voltar' pela estrada de Damasco que jamais percorrera. Eu não fui à cata de Ananias, não. Eu me vi fugindo dele. A luz não me deslumbrou, mas a escuridão. E quando alguém me perguntou 'quo vadis?', eu já nem sabia responder, nem muito menos quis voltar para as plagas donde viera (e às quais fugia).
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Os parapsicólogos não me foram estranhos. Li muitos. Desde o popular René Sudre até as obras menos sérias, do Padre Quevedo (algumas, 'data venia', são de a gente dar risada, pela fragilidade das experiências relatadas...). Estudos acerca do ectoplasma (que hoje está mais que comprovado: é uma emanação do citoplasma da célula e já foi amplamente analisado em laboratório).
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Larguei tudo, fiquei com os filósofos, os poetas e com a essência, a seiva das religiões.
Não me interessam mais os ritos, as formas de 'adorar'. Não tenho religião nenhuma, mas me sinto profundamente religioso. Toda religião séria traz em seu bojo o amar a deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Contudo, esse deus é incognoscível, imperscrutável... então o que me resta? Entrei num período agnóstico: há deus? provavelmente há, mas não pode ser que 'pare' para interferir em nossa vida. Entretanto, se ele existe, criou leis. E tais leis, queiramos ou não, são cumpridas. Não gosto muito de tratá-lo por 'ele', pois pronomes não deveriam indicar quem a rigor não tem nome (nós inventamos milhares deles, e eu pergunto: para quê?).
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Digamos que a religião me 'humanizou'. Precisei ler mais de 2000 livros para ganhar uma gotinha de entendimento. O real conhecimento não é o que se recite de cabeça, mas o que se instale no coração. Hoje nem gosto mais de citar trechos e mais trechos de filósofos e pensadores, como antigamente fazia. Tudo é vão. O conhecimento que se adquire, quando se o adquire realmente, cala-nos a alma e a boca. Quem conviva comigo hoje sabe que não discuto religião, mas procuro viver, anonimamente, os preceitos básicos do amor. Não gosto da palavra caridade, pois na mente do religioso é ajudar, e muitas vezes de cima para baixo: eu estendo a mão, eu que estou em pé, para você, que está sentado ou deitado. Não gosto disso. Os grandes religiosos, sejam de que religião forem, ou mesmo ateus, são realmente (e não forjadamente) humildes. René Sudre, no 'Petit Traité', diz que a verdadeira humildade é o ateísmo na primeira pessoa. Esses grandes religiosos jamais ajudaram senão na horizontal. Muitas vezes nem sabiam que estavam ajudando, embora estivessem.
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Huberto Rohden, de uma certa feita, disse que se houvesse mesmo um céu, lá haveria mais ateus do que religiosos. Concordo. Ele falou dos religiosos rotulados. É que o ateu - normalmente um nome preconceituoso que se dá para os que dizem não acreditar em deus algum - de hoje é membro de uma nova e estranha religião que se defende com unhas e dentes. Mas o ateu do passado não era 'fashion', era mais desinteressado. E muitos ajudavam a sociedade apenas e tão-somente pelo prazer de ajudar, para ver o mundo ao seu redor mais equilibrado!
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Ah, qualquer dia falo mais sobre isso. É que hoje, que me sinto, aos poucos, a retirar-me da vida material (tenho a sensação de que não vou viver muito, não), volto a Vieira: seria muito fácil se houvesse a morte - fosse ela panteísta ou niilista, a volta do leão ao nada ou à 'leonitas'. O problema é se para lá do chisteado 'nec plus ultra' houver alguma coisa. O lado de lá, em Kardec, é bem diferente do lado de lá de André Luiz. A psicografia de Chico Xavier e Divaldo Franco muitas vezes não bate com conceitos do Livro dos Espíritos, nem da Gênese. O espiritismo, no Brasil, ganhou contornos, pasmemos novamente, muito católicos. Hoje há, aqui, os espiritólicos e os católicos reencarnacionistas. No tempo de Kardec ele aceitou que se denominassem espíritas um grupo de ingleses que não acreditava em reencarnação. Cá entre nós: ser religioso não é acreditar nisso ou naquilo. Ser religioso não é acreditar, mas viver algo sincero, gostoso...
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Talvez estivesse certo Nietzsche: o único cristão verdadeiro foi o cristo, e o protestantismo é a hemiplegia do cristianismo.
Por mais que se digam assim, não existe religião ocidental alguma que seja realmente monoteísta. Ou os santos são deuses secundários, ou os pastores mesmo, ou então os médiuns, os espíritos ditos puros, enfim, quem seja. E sinceramente, o que importam essas classificações?
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Outro dia vi um sujeito, na rua, tirando o seu casaco para vestir um mendigo que sentia frio. Talvez um dia não haja mais ninguém, no mundo, sentindo frio.
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Qualquer hora digo alguma coisa sobre as religiões orientais. Falei, falei, e não disse nada. Isso tem se tornado lugar comum em minha vida.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Tio, eu te amo, tá? Porém....


Eu não entendo esta tua…digamos…admiração pelo Thiago Lacerda. Tentei ignorar o teu post anterior, mas não consegui. Vamos lá ver se conseguimos colocar os pontos nos i’s.
Lembro-me como se fosse hoje: 1999, nós lá no nosso interiorzão, calor dos infernos, vento nulo, chuva ainda mais nula, 42º C na sombra, eu comendo as porcarias do costume, você me fazendo companhia, os dois sentados num sofá de plástico beeem transpirante, daqueles em que só conseguimos sair de cima se nos arrancarem com uma espátula. Lembra? Pois é, eu tinha os meus dez, onze anos, você….Bem, você não vem ao caso.

Nesta época estava passando uma das novelas mais bonitas da Globo, – na época em que a Globo ainda produzia alguma coisa prestável – a Terra Nostra. Novela esta em que os actores principais eram nada mais, nada menos do que a Ana Paula Arósio e o Thiago Lacerda. Veja bem, na época, todos os homens minimamente bons da cabeça – das duas – olhavam para a Ana e babavam rios de gosmas labiais - e outras inhanhas - pela mulher. Até eu, pequena e indefesa criança, babava rios pela criatura. Mas você não, pouco tempo depois, eu vim me aperceber de que você assistia a novela para ver aquele que veio se tornar – não vejo eu a razão – um dos maiores sexy symbols do Brasil!
Eu reconheço que o cara é bonito, mas atenção: B O N I T O. Não é lindo e maravilhoso como você diz. Eu acho a sua beleza extremamente enjoativa, e isso provavelmente se deve ao facto de a Globo ter explorado a imagem do homem até não poder mais. Mas ok, gostos não se discutem(?).

Passemos para o ano 2000: Ano da novela “Laços de Família”. Eu ainda morava no interiorzão, você não. O Insensível, infiel, malvado e cruel me deixou lá, derretendo no sofá de plástico, como uma coisinha insignificante, mas ok, avante! Apesar do trauma do abandono, você ia lá, às vezes, passar os finais de semana e as férias – quando você ainda se dava o direito de tirar férias(!) E nós, sentados num sofá agora revestido com um pano qualquer para se evitar maiores pesadelos, assistíamos alguns episódios enquanto comíamos paçoquinha. O rei da parada era o Reynaldo Gianechini. Ah, este sim…Eu, com os meus doze aninhos recém conquistados, te fazia companhia na babação. É claro que o meu tiozão também admirava as mulheres e tal….Mas o Reynaldo…Ah, o Reynaldo não tinha para ninguém! Sempre que ele surgia, enfiávamos uma paçoquinha na boca e a engolíamos sem a mastigar. Bons tempos…

Por fim, 2001: “Presença de Anita.” Eu já nem sequer tinha notícias tuas, seu desgraçado! Aliás, até tinha…Eu, com os meus 12 aninhos, prestes a completar 13 de existenciazinha, te ligava umas três vezes por semana para falar do traseiro do Mayer. Ah…que homem!! Nele sim, eu babava pra caramba, mas você, seu cruel, me desiludiu. Queria lá saber do Mayer! Ainda estava vidradão no Thiago Lacerda! Pouco tempo depois, me vidrei no Chico Buarque…e você babava pelo Lacerda. Aos 14, me encantei pelo Robert de Niro, e você já vinha oscilando entre o Thiago e o Reynaldo, mas se negava a aceitar a minha relação com o Mayer.

Aos dezenove, eu passei a fazer parte desta comunidade do orkut: “ Eu daria para o Chico!”  e você só faltou me bater! Enfim, hoje eu tenho quase 22 e você…….hum….não vem ao caso! O Thiago já é pai, está mais feio do que nunca – com barba parece um monstro -, mais velho, cansado e usado, e você continua com o mesmo fascínio pela criatura! Tio, eu te amo tá? Mas tem certas coisas que simplesmente não dão para engolir feito uma paçoca…

terça-feira, 27 de abril de 2010

Entre o certo e o errado

Entre as pessoas ditas normais e os psicopatas há uma linha mental tênue, mas que na prática, na exteriorização, é um abismo: o agir ou não agir em determinadas situações.
Pausa 1 - Cô, o Thiago Lacerda é liiindoooooo! Maravilhoooosoooo! Que homem, Cô, que homem!!
Pausa 2 - Acho que vou passar a vida toda entre o sim e o não, entre o que o homem chamado normal pode e não pode fazer.
Vontade de fazer determinadas coisas, todos temos; condutas anti-sociais, prejudiciais, lesivas ao direito, à sanidade, à integridade alheia, essa o homem 'médio' vai evitar.
Há proibições sociais que parecem muralhas e, sejam usadas para proteção, sejam usadas para visitação, não deixam de ser muralhas. E a gente sabe que essas só se escalam e/ou se trespassam ou com muita violência ou se o próprio obstáculo (bélico, por que não) tenha uma passagem.
Há distâncias curtas, mas que não vou poder percorrer, pois há fossos ao meu redor. Nos fossos, crocodilos. Não há pontes.
Não são gaps, mas bridgeless chasms.
Se alguém me vir escalando paredes enormes, no vão tentame de ultrapassá-las, não me impeça, por favor. Eu prefiro cair, mas encontrar a liberdade.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

"Inconvivível"

Assim como o Antônio Rogério Magri criou o neo(i)logismo "imexível", estou criando o meu: "inconvivível".
É o c* da minhoca: à medida que o tempo passa eu vou me tornando mais insuportável. Está difícil conviver comigo. Às vezes acordo pela manhã, olho minha imagem incongruente no espelho e já fico invocado. As sobrancelhas grossas, a testa cada vez maior (deve caber chifre à beça nela, tá?), o nariz que parece uma batata doce cozida, a boca que parece um morango passado.
Quanto ao humor, acho que nem preciso falar: eu e meu ego andamos lutando por espaço na cama, que já não nos comporta a ambos, embora seja de casal.
Esta porcaria que trago no meio das pernas ainda serve para fazer xixi, e por isto devo ser grato à Mãe Natureza, pois daqui a um tempo...
Havia um amigo meu, ex-seminarista (hoje ele já não está entre nós), que atingiu um momento assim tão chato e triste da sua vida, que começou a comprar sapatos apertados, só para ter um prazer: tirar os sapatos, quando chegasse à sua casa, à noite.
Que tipo de prazer posso dar a uma mulher, hoje em dia? Sei lá: sair de cima, lavar a louça, fazer um rango, de vez em quando. Ah, tomar um banho, também - afasta o mau-cheiro que me assola os pensamentos.
E por falar em pensamentos, os meus são nefastos: morceguinhos voam ao redor deles, querendo sugar-lhes a (falsa e pútrida) essência.
Do tobogã da vida, já estou eu quase embaixo. Olha, não é embaixo tipo no fim da descida, não. Já acabei de descer e agora estou para me esconder sob o tobogã, ou seja, debaixo dos traseiros - sejam eles gordos, magros, estufados, chapados, retilíneos ou curvos - que vão passar sobre a minha cabeça.
Sempre fui um trapalhão. Nunca esqueço uma vez em que comecei um estágio, e tinha de usar gravata. Nervoso, naquele dia tive de ir ao banheiro - era uma repartição pública. Uma dor ventral daquelas que maltratam a gente. Uns espasmos estranhos. Parecia que ia nascer um bebê (e olhem que eu nem estava grávido). Comecei a respirar pela barriga, firmar o diafragma e nada. Tudo bem, entrei no sanitário e lá não teve jeito: parto natural, com direito a barulheira - a bateria da Beija-Flor, da Mangueira, da Unidos dos Engravatados, tudo fora do ritmo, tudo tão banal, tão humano e desairoso...
Ao fim, aquela coisa maravilhosa: dar uma limpadinha básica no fiofó. Comecei sentado e, para o serviço ficar mais perfeito, levantei. Peguei o rolo de papel higiênico nas mãos, e por algum motivo alienígena o desgraçado me escapou dos dedos e foi ao chão. Quando abaixei para pegá-lo, tooomeeee, Jean Valjean! Lá estava a sua gravata MERGULHADA NA PRIVADA. Da ponta à metade!
Dia agourento. Acabei de limpar a cauda, tirei a gravata, joguei no lixo e saí do "banho" (gostou, Cô?) suando frio e tremendo: de cansaço, de irritação, de ... sei lá mais do quê.
Na repartição, o chefe me pergunta de minha gravata. "Sabe, Sr. Raphael, derrubei mostarda nela, e não consegui limpar. Joguei fora." E ele, brabo e indignado: "Amanhã traga duas gravatas, pois aqui, sem gravata é igual a sem emprego."
Ops!
De lá para cá, o que mudou em minha vida, fora as desilusões, as desesperanças e a triste realIDADE que vem com a real idade? Acho que nada, senão que estou mais chato e também que aprendi a não mergulhar a gravata na m*...
C'est ça.

Centésima postagem?!

Sobrinha, a sua postagem abaixo foi a de número 100, você notou?
Quem diria que este humílimo projeto passasse de umas 20 postagens...
E veja que houve um monte das minhas, antigas, que uma determinada vaca apagou!
Estamos aí, firmes e fortes - você, naturalmente, bem mais firme e bem mais forte do que eu.
Parabéns!

domingo, 25 de abril de 2010

Rasuras.



Eu sei porquê é que eu não sei aquilo que sou. Porque hoje nada mais sou do que um papel rasurado onde, antes de o ser, continha tudo aquilo que eu supostamente era e nunca soube. Não sabendo, conforme crescia, fui riscando aquilo que deveria ter sido, e aos poucos fui não-sendo.
Hoje, quase rasgando, com uma borracha tento apagar os rabiscos que fiz, de modo a conseguir ler o que lá fora escrito. Besteira a minha, visto que a borracha não apaga a tinta, e as palavras lá contidas jamais voltariam a ser o que eram.

sábado, 24 de abril de 2010

O primeiro filme erótico

Eu devia ter uns 18 anos? Talvez. Aí arrumei uma namoradinha legal, a coisa fluía bem, até que um dia começamos a transar. Eu era novato, embora não fosse 0 km. Ela estava em condições similares.
Estávamos aprendendo quase tudo, e eu, o geniozinho do casal, tive uma idéia brilhante:
- Que tal tirarmos um filme pornô na locadora, para vermos juntos?
Ela, animada:
- Ótimo!
E fomos lá, um tanto quanto envergonhados. O rapaz da locadora já me conhecia, embora não a ela. Entrei, ou melhor, entramos:
- Oi, boa tarde!
- Boa tarde, Valjean! Vai levar um clássico hoje de novo? Temos um Buñuel sensacional, você quer?
- Ah, hoje não, obrigado. Na verdade, gostaria de levar um filme para ver com ela.
Ele me olhou e sacou:
- Já sei! Algo mais romântico: "E o vento levou"? "Dr. Jivago"? Alguma comédia romântica norte-americana?
- Er... não.
A vergonha me consumia. O cara já estava com seus quase trinta, era mais experiente do que eu, e eu lhe disse, ainda que um pouco ruborizado:
- Você não tem algo assim ... digamos... mais forte?
- Mais forte? Você quer um pornográfico? "Fudeção" mesmo?
Bom, aquilo bastou para acabar com quaisquer paredes de acanhamento.
- É, pode ser.
E então ele nos conduziu à prateleira da pornografia. Eram filmes nacionais, japoneses, norte-americanos, alemães, poloneses, e com uma vantagem: tudo se entenderia. A linguagem universal dos gemidos, as caras de gozo forçadas, as posições de contorcionismo...
Escolhemos um filme norte-americano que ele mesmo indicou, com os agradáveis dizeres:
- Pode levar, Valjean, que aqui é 'pau na b... e na b... o tempo todo, tem felação, cunilíngue e tudo o que você possa imaginar'.
Ótimo. Paguei o valor da locação e fomos para casa, animados, pois seria só nossa por dois dias: meus pais viajaram, meus irmãos estavam na casa de uma tia.
Cheguei animadíssimo, liguei o videocassete e logo começou a coisa:
Um negão de 2,00 m, com uma jeba de dois palmos, grossa como a minha perna, entrou enristado num quarto onde uma mulher branca como a neve, que ele chamava de 'snow flake' por razões óbvias, já estava na cama, nua e de pernas abertas.
Para efeitos do filme, ela estava se iniciando no sexo; o estranho é que quando ficou de quatro a gente não sabia que buraco era maior - o de trás ou o da frente -, a ponto de o obelisco do crioulo, aquele pau enorme de jumento, nem fazer muito esforço para entrar lá. Às vezes a gente até pensava que era o badalo de um grande sino, mas vá lá.
Olha, sinceridade: quando vi aquele membro, revi meu conceito sobre membros. O meu sempre foi uma coisinha normal, nada além do desejável, e o do cara era um braço. Ele podia ir lá e penetrar a mulher (quase virgem, coitada) em qualquer posição, por horas a fio, e eu, pobre de mim, 15 minutinhos e... aaaaaaaarggggghhhh! Ui! Não guento mais, querida, eu vou ... aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhh! Eu fui!
Tinha tudo para dar certo, mas o pau do negão entrou na minha alma. Eu não consegui fazer outra coisa, que não ficar embasbacado, aterrorizado e cheio de inveja daquele picalhão, daquela berinjela gigante, e querer me matar pela minha cenourinha da turma da Mônica.
A ereção dele era a ereção de um guindaste. Se a branquela quisesse fazer barra ou mesmo os giros olímpicos no troção do cara, ah, fazia, fácil. Ela pegava o foguetaço com as duas mãos (que não conseguiam se fechar!) e ainda sobrava a cabeça, ou melhor, a cabeçona inteira e mais um pedação do pescoço para fora. Se existisse camisinha para ele, seria camisola, macacão ou aquelas capas de chuva imensas, sabe? Se fosse camisinha comum, ele usava como boina, e ainda com o risco de estourar tudo. Na boca da 'virgem' branca de neve só cabia um pedaço do cerebrozão do vigoroso tronco de ébano. Pobre de mim, que quase tinha que fazer uma dobra na camisinha júnior que comprara na farmácia. Ai...
De tesão a depressão em 40 minutos de ereção (dele, é claro, pois da minha parte...).
Aí o filme passou, acabou, a mulèzinha gozou umas 87 vezes, os jatos de esperma do sujeito pareciam esguichos de lava-rápido, ou de mangueira para incêndios de grande proporção, afora que ele deu umas 10 sem tirar de dentro.
A parte boa foi que ao fim do filme ela olhou para mim e disse:
- Valjean, tamanho não é documento...
Original mesmo. Acho que meu infinitésimavô já ouvira aquilo de minha infinitésimavó.
Ela viu meus olhos murchos e tentou me ajudar:
- Pense que ele é negro.
Quase peguei uma cruz de prata que minha mãe pendurava na parede, para dar na cabeça da boçal, mas me contive. Eu não queria revelar com palavras, nem com gestos, que o 'extintor de incêndio do negão' me deixara absolutamente envergonhado da minha míni 'mont blanc', aquela que a palma da mão até esconde.
Aleguei dor de cabeça, enjôo de estômago, alguns males d'alma, e minha sensível namoradinha:
- Jeanzinho?
- Como assim Jeanzinho? Você sempre me chamou de Jean! A pata do negão impressionou você?
E ela, caridosa:
- Que nada! Ia me machucar!
Encerrei o assunto, para ela não dizer que eu lhe faria còsssquiiinhaaaa. Vaca.
Fui devolver o filme na locadora, SOZINHO, É CLARO, e o cara, sabido:
- E aí, Valjean, gostou?
- É, foi bom.
- Você viu o tamanho do caralho do crioulo?
- Ah, nem notei nada de especial. Não é normal?
- Que nada, Valjean, dá quatro do meu!
Naquele instante, respirei aliviado.
- Quatro?
E ele:
- Três ou quatro. O cara é um artista pornô muito bem pago, porque ninguém tem uma rola daquelas.
Juro: quase beijei o cara na boca.
Fui embora, meio saltitante, pensando: bom, o meu meio-pepino japonês dá pro gasto.
De qualquer forma, naquele fim-de-semana eu e minha namoradinha não trepamos, e o namoro acabou pouco tempo depois.
Um tempo mais tarde, engatei um outro namorico. E ela sugeriu:
- Vamos ver filme pornô?
Eu, para evitar desaires e desastres, achei melhor não:
- Que tal uma comédia romântica norte-americana, ou um bom Buñuel?
Como diz minha (não tão) santa mãezinha, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.