Ele senta-se no pico mais alto da montanha,
E eu O fito sem motivos nem respostas.
Ele aponta para o lado oposto do meu corpo,
Enquanto eu me descasco
Dos arrependimentos e desonras.
Diz-me que o que as nuvens ocultam
Ninguém sabe: nem Ele, nem Zeus, nem os Anjos.
Fita-me, descansado, os desertos do meu peito,
E nos seus olhos as minhas dunas se dissolvem.
Persigo, na floresta, o diabo que carrega minh'alma.
Entre árvores e arbustos ele encobre,
O quase nada que em mim
Se descolore.
Nos braços, tenho um arco e duas flechas.
Nos olhos, uma visão já quase cega.
Nos bolsos, a esperança me escapole
Enquanto as nuvens, todas elas, se escondem.
Ele tropeça num arbusto junto a poça,
Eu ergo o arco para acertá-lo pelas costas.
Deus, sentado no rochedo mais distante
Fita-me altivo, embasbacado, quase mole.
O outro encolhe, em silêncio, já chorando.
Dentro de mim, sinto uma alegria quase pobre.
Entrega-me a alma, toda suja, arreganhada
E deixa-me a sua, pura e límpida
Enquanto foge.
Um comentário:
Putz, que poesia bonita! Bonita de palavras e bonita de sentido.
Você deve ser filósofa, não é?
E seu tio, que sumiu?
Abração!
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